Bruno Prado, de 36 anos, começou com o projeto em fevereiro e já registrou cerca de 60 pessoas. Atores, estrangeiros, artistas de rua e vendedores compõem as fotos. Registros foram vistos por milhares de pessoas na internet. Fotógrafo surpreende ao fazer ensaios de pessoas comuns na Avenida Paulista
A relação de Leidiane Oliveira com fotos passou a ser confortável nos últimos dois anos, com o processo de aceitação pessoal do nanismo. A moradora de Santos, no litoral do estado, virou “modelo por um dia” enquanto caminhava pela Avenida Paulista, na capital, e passou a fazer parte da composição de dezenas de rostos que estampam um projeto pessoal de um fotógrafo que retrata pessoas de forma aleatória no Centro de São Paulo.
Bruno Prado, de 36 anos, filma a abordagem ao pedestre, edita e divulga o resultado nas redes sociais, sem cobrar nada dos retratados. Os vídeos estão com milhões de visualizações. O contraste entre a “marrentinha”, mas também delicada da menina Charlotte, de 2 anos, no colo do pai, de barba ruiva, rendeu 11 milhões de visualizações ao vídeo despretensioso.
“A minha filha mora com a mãe e, quando pego ela, a gente dá um rolê e acaba até combinando roupa. A foto ‘causou’ porque ela [Charlotte] tem a carinha de brava e marrentinha, mas é delicada. Eu tenho esse estilo da barbona e sou de boa. Acho que isso que pegou na foto. Não gosto que tirem fotos assim, do nada, mas aquele dia rolou”, contou Ricardo Lion ao g1.
No último domingo, Leidiane parou numa barraca para ver bijuterias e ganhou o ensaio. A moradora do litoral estava a passeio com a mãe e o irmão.
Leidiane participou de ensaio no Centro de São Paulo
Bruno Prado/Arquivo pessoal
As fotografias foram feitas ali mesmo, aproveitando os elementos da avenida: carros, prédios e luz natural.
“Fiquei tão feliz que não consegui fechar a boca com o resultado. Ficou incrível. Eu era muito tímida e fechada. Sou a única que tenho nanismo na família e isso mexia muito comigo, quando as pessoas olhavam com julgamento. Mas as pessoas têm que ser elas mesmas”, aconselha.
Com dreads há 11 anos, a performer e modelo Jhey Dread já teve a imagem em campanhas publicitárias no Metrô de São Paulo e aceitou ser clicada por Bruno na ciclovia da Paulista com um “efeito especial”: tochas acesas.
“Respiro a arte. Eu estava andando e me deparei com ele por coincidência do destino. Pelas fotos dele você consegue enxergar a essência das pessoas. Ele retrata a arte da liberdade”, afirmou Jhey.
De Ilhéus, na Bahia, a modelo viajava pelo país. Decidiu fixar raiz em São Paulo neste ano.
“Faço arte ocasionalmente em eventos, nas ruas, nas montanhas. Chama muito a atenção das pessoas. A minha intenção sempre foi passar para o mundo empoderamento de uma forma estratégica.”
Camomila, de 21 anos, é modificadora corporal, malabarista e artesã. É do interior do Paraná e foi para a capital paulista aos 17 anos.
Em um domingo movimentado e nublado de março, o Museu de Arte de São Paulo (Masp) ao fundo, tatuagens, piercings, olhos escuros e o cabelo avermelhado formaram a composição do ensaio da artista.
“O que eu mais amei mesmo foi essa troca orgânica de arte e conhecimentos”, escreveu.
Algumas das pessoas fotografadas na Avenida Paulista
Bruno Prado/Arquivo pessoal
Retratos aleatórios
São cerca de 60 registros em dois meses de projeto. Entre os “modelos” estão uma ucraniana, o ator Marcio Kieling — que interpretou o cantor Zezé di Camargo no filme “Dois Filhos de Francisco” —, o ator João Signorelli, um intérprete de Charles Chaplin, policiais militares, vendedores de rua e tutores com pets.
“Antes eu variava os locais. Agora tenho dado prioridade para a Paulista pela quantidade e diversidade de pessoas.”
Quando olha uma pessoa, segundo ele, não dá tempo de pensar no motivo da escolha.
“É bater o olho e pronto, não fico analisando muito. Acredito que, com o amadurecimento do meu trabalho, eu vá compreendendo melhor também estes porquês”, explica Bruno.
São cerca de dez abordagens por domingo, o dia que põe em prática o projeto. Mas nem todos aceitam participar – cerca de 70% das pessoas abordadas são fotografadas.
“Acho que as pessoas no geral, em algum nível, sentem algum tipo de desconforto com isso. Ela disse ‘não’ para a fotografia e não para mim. Eu uso isso para trabalhar internamente para que isso se torne cada vez mais natural, acredito que esteja melhorando muito como pessoa por exercitar isso.”
Formado em marketing e propaganda, Bruno diz que nunca trabalhou na área de formação. Foi vendedor, bancário, representante de medicamentos e teve clínicas odontológicas. Atualmente é hipnoterapeuta.
Bruno superou a ansiedade e depressão e na fotografia começou com ensaios de família e aniversário de crianças.
“A gente percebe que gosta realmente de fazer algo quando o tempo passa e nem vemos, quando você fica 8, 10 horas seguidas sem sentir dores, fome, cansaço, querendo continuar. Comigo aconteceu dessa forma com a fotografia.”
A intenção dele é expandir e, com apoio, aplicar o projeto em outras capitais pelo país.
Bruno Prado é fotógrafo em São Paulo
Arquivo pessoal
Pedestres da Avenida Paulista viram ‘modelos por um dia’ de fotógrafo que grava as reações dos abordados
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