Nas redes sociais, movimento disse que situação aconteceu quando integrantes do Cozinha Solidária entregavam almoço às pessoas na manhã desta quinta-feira (20). Cercada com grades, funcionários da subprefeitura da região da Sé fazem a limpeza e lavam o marco zero de São Paulo (SP), a praça do Sé, nesta quarta-feira (19).
RENATO S. CERQUEIRA/FUTURA PRESS/FUTURA
O MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) denunciou por meio das redes sociais que teve integrantes impedidos pela GCM (Guarda Civil Metropolitana) da cidade de São Paulo de entregar marmitas à população de rua na Praça da Sé, no fim da manhã desta quinta-feira (20). O movimento afirmou que um ambulante foi agredido pelos guardas.
De acordo com a publicação, voluntários do Cozinha Solidária foram à região para dar almoço às pessoas em situação de vulnerabilidade que ficam na praça quando os guardas da gestão Ricardo Nunes (MDB) os impediram de fazer o trabalho.
“Os agentes expulsaram as pessoas, agredindo-as e retirando seus pertences. Vendedores ambulantes também foram agredidos e tiveram seus produtos tomados”, disse o grupo, pelo Twitter.
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Ainda no relato, o MTST afirma que um vendedor ambulante que trabalha na região tentou mediar a situação, mas acabou agredido e detido pelos GCMs. Ana Paula Perles, coordenadora nacional do MTST e das Cozinhas Solidárias, relatou ter presenciado quatro guardas agredindo o ambulante depois de recolherem a sua mercadoria.
“Ele tentou dialogar de forma pacífica. Derrubaram o rapaz no chão, deram joelhada nas costas, sacaram arma, o ameaçaram, e ele foi levado pela viatura”, afirmou ao g1.
A integrante do movimento diz que a hostilidade por parte dos guardas durante as entregas de marmitas aumentou desde o cerco físico feito na Praça da Sé no último dia 10 (leia mais abaixo).
“Desde que começaram a colocar as grades na praça temos sido recebidas com hostilidade, sem diálogo e impondo que a gente mudasse o lugar da entrega dos alimentos, pois entregamos todos os dias na frente da Catedral”, disse Ana Paula. Ela calcula que são entregues 500 refeições diariamente pelo grupo.
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Ela detalha que a população de rua atendida pelo MTST relata diferente formas de agressão cometidas pela GCM, como retirada das barracas, cobertores, documentos e que as pessoas ficam com traumas visíveis no momento do atendimento solidário.
“[Elas] estão demonstrando mais instabilidade emocional. Por exemplo, não conseguem formar fila, brigam para receber o alimento, pedem muita água porque não têm onde beber”, relatou.
Segundo a vereadora Ediane Maria (PSOL), que também faz parte do MTST, o caso demonstra descaso da prefeitura. “Eles tentam o tempo inteiro varrer o problema da cidade de São Paulo para debaixo do tapete, colocando a GCM para violentar quem já está sendo violentado pela desigualdade social”, afirmou.
O g1 questionou a prefeitura e a GCM sobre as agressões, mas, até a última atualização desta reportagem, não obteve resposta.
Grades em torno da praça
A gestão da Praça da Sé tem sido alvo de críticas desde que a prefeitura instalou grades para proteger o plantio de grama nos canteiros de árvores, em 10 de abril. O entorno da catedral permaneceu cercado por toda a última semana e segue até o momento.
De acordo com o subprefeito da região, Coronel Camilo (PSD) na gestão do prefeito Ricardo Nunes, a medida foi tomada para “proteger a grama” que estava sendo trocada duas vezes por dia. Ao mesmo tempo, as grades contribuem com a zeladoria, defende o político.
“O povo passava em cima do canteiro. De certa forma, ajuda inclusive a combater violência”, diz Camilo, que foi deputado estadual até 2019 e comandou a PM do estado por três anos.
Após pedido da Defensoria, a prefeitura disse que vai tirar as grades instaladas no local. Camilo afirmou na última quarta-feira (19) que “as sugestões [da Defensoria] são bem-vindas”, mas que será feito um movimento de zeladoria antes de a Praça ser reaberta para a população.
“Assim que os trabalhos de zeladoria forem terminando, e os lugares forem se consolidando, aí a gente retira as grades”, disse.
Tomada de barracas
Antes das grades, a Prefeitura de SP voltou a recolher barradas das pessoas em situação de rua que as deixassem montadas durante o dia. A medida recomeçou após decisão da Justiça que derrubou liminar movida por Guilherme Boulos (PSOL), padre Julio Lancellotti e de outras seis pessoas.
O prefeito Ricardo Nunes chegou a declarar que ‘rua não é endereço, barraca não é lar’ ao tratar do assunto. “Não vai faltar acolhimento para as pessoas que desejam ser acolhidas pela prefeitura de São Paulo”, afirmou. “Hoje, por exemplo, a gente tem vaga ociosa [nos abrigos municipais]”, disse o prefeito.
Segundo Nunes, não é razoável que barracas sejam deixadas nas calçadas, uma vez que isso estaria afetando o direito de ir e vir das demais pessoas. “Uma cidade para todos”, disse.
A Defensoria Pública acionou o Supremo Tribunal Federal (STF) por considerar a ação inconstitucional. Os defensores apontam que a prática é vedada por um decreto municipal de 2020 e viola os diretos fundamentais de igualdade e propriedade
“A covardia e violência legalizadas de novo. A Prefeitura de São Paulo, sem oferecer nenhuma alternativa de moradia com autonomia e dignidade, ainda toma as barracas onde o povo de rua mora”, disse o Padre Julio Lancellotti.
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