Localizado na Boca Maldita, prédio levou anos até ficar pronto. Construção usou técnicas inovadoras à época e traz traços do estilo Art Déco. Arquiteta fala sobre as características do Edifício Garcez
O Edifício Garcez é um dos mais icônicos do centro de Curitiba. A imponente fachada fica Rua XV de Novembro, na tradicional Boca Maldita, e é considerado um marco arquitetônico da capital paranaense.
Projetado pelo engenheiro e ex-prefeito de Curitiba João Moreira Garcez, a construção do edifício começou em 1927. Na época, o prédio conquistou o título de maior arranha-céu de Curitiba e terceiro mais alto do Brasil.
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A arquiteta e urbanista Giselle Dziura explica que o prédio é caracterizado como “Art Déco”, estilo arquitetônico que começou em 1920, em Paris.
“Ele é um dos primeiros edifícios em concreto armado. O primeiro em Curitiba e um dos primeiros do Brasil. Além disso, é um dos primeiros também em relação à multifuncionalidade”, diz.
Dziura destaca a própria localização emblemática da construção: no fim da Praça Osório e na Rua XV – ícone de Curitiba e ligação entre várias praças.
O professor e historiador André Luiz Cavazzani acrescenta que, junto de técnicas inovadoras da construção, o edifício foi feito com estratégias mais antigas, como troncos de eucalipto embebidos em óleo cru.
Edifício Garcez localizado na rua XV de Novembro, em Curitiba
Giuliano Gomes/PR Press
Construção em etapas
O arranha-céu não foi entregue de uma vez. A primeira parte foi inaugurada em 1933, com cinco andares e um subsolo. Em 1937, foi entregue mais um andar e, 20 anos mais tarde, o prédio ganhou os últimos dois andares – chegando a oito.
“Eles souberam que tinha uma dedução tributária para o edifício se fizessem mais alguns andares”, explicou a arquiteta Giselle.
No início, segundo Cavazzani, o prédio foi projetado para ser um hotel de luxo. Na prática, foi sede do consulado da Alemanha nazista, shopping center, sede da Federação Paranaense de Futebol e virou um grande prédio empresarial.
Edifício Garcez em Curitiba
Casa da Memória/Fundação Cultural de Curitiba.
Consulado da Alemanha nazista
Artigo científico publicado por Jackson Francisco Lopes, egresso do curso de História da Uninter, traz mais detalhes do período em que o Garcez abrigou consulado da Alemanha nas décadas de 1930 e 1940.
A pesquisa destaca como a atuação do partido nazista influenciou diretamente a gestão das comunidades alemãs paranaenses.
“No total, o Partido reuniu em suas fileiras aproximadamente 2,9 mil filiados no Brasil. No Paraná, eram 185 filiados entre 25 mil alemães”, diz o artigo.
Edifício Garcez foi sede do consulado da Alemanha nazista
Acervo Particular. Iconografia: Eduardo Guimarães.
O texto ainda traz informações de que três indivíduos que pertenciam ao partido nazista e trabalhavam no consulado.
“Jorge de Druzina foi o primeiro cônsul de carreira em missão no Paraná, entre 1892 e 1898. Nessa época, inclusive, transferiu-se a representação diplomática de Paranaguá para Curitiba. Logo depois veio o cônsul Emil Baerecke, que permaneceu por seis anos. O cônsul seguinte, Eduard Heinz, regressou à Alemanha e foi substituído pelo vice-cônsul Pistor. Na sequência, assumiu o diplomata August Feigel, que cumpriu a função por quatro anos”, diz o texto.
Recorte do jornal “Diário da Tarde” em 19 de abril de 1941
Arquivo Público do Paraná
A história nos detalhes
Enquanto passeia pelo prédio histórico, a arquiteta Giselle Dziura aponta os elementos originais e marcantes do Garcez.
O imóvel, explica, tem linhas arquitetônicas que indicam verticalidade e levam o cérebro a entender que o edifício é mais alto.
As linhas horizontais formam a base e o meio. Em cima, há um coroamento.
As linhas em “zigue-zague” e linhas “chevron”, que parecem escamas de peixe, também fazem a composição. As janelas são estilos balcões, como explicou Giselle.
Vitrais do Edifício Garcez, em Curitiba
Giuliano Gomes/PR Press
“Então, todos esses elementos fazem parte do Art Déco. A questão de estilizar a natureza. Então, não é uma florzinha desenhada, mas eu vou ver a flor estilizada, os elementos da natureza estilizados”, detalha.
Os vitrais geométricos não seguem padrões e dão mais encanto ao prédio. A multifuncionalidade do local é uma característica, conforme explica a arquiteta.
Segundo ela, o prédio está sempre se modificando, como com a instalação de escadas rolantes quando se tornou um shopping e se adequando às necessidades de acordo com exigências dos bombeiros.
Edifício Garcez é considerado verticalizado. As janelas são em formatos de “balcões”.
Giuliano Gomes/PR Press
Transformações ao longo do tempo
Na década de 1980, segundo o professor e historiador André Luiz Cavazzani, o grupo Hermes Macedo comprou o prédio e começou uma restauração do local.
O espaço virou então o Shopping Center Garcez, com a instalação de escadas rolantes. As mudanças continuaram e desde 2003 o edifício abriga um centro universitário.
“É uma edificação que sofre os efeitos da história. Uma história local, regional aqui de Curitiba, mas também uma história cosmopolita que dialoga com a realidade do restante do mundo. Não só na arquitetura dele, como também as funções a qual ele se destina”, completou.
Escadas rolantes foram instaladas quando o prédio se tornou um Shopping Center
Giuliano Gomes/PR Press
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