De acordo com o líder indígena da etnia Kanamari, a morte da criança aconteceu enquanto os pais esperavam benefícios sociais do Governo Federal em Atalaia do Norte. Caso aconteceu em Atalaia do Norte.
Divulgação/Comando Militar do Amazônia
Caso aconteceu em Atalaia do Norte.
Divulgação/Comando Militar do Amazônia
Uma criança indígena da etnia Kanamari, de apenas três anos, morreu com pneumonia na última quarta-feira (5), em Atalaia do Norte, no interior do Amazonas. O caso está sendo apurado pelo Ministério da Saúde. O município fica localizado no Vale do Javari, onde aconteceram os assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips.
Ao g1, o cacique Tamaruki Kanamari disse que a morte da criança aconteceu enquanto os pais esperavam benefícios sociais do Governo Federal em Atalaia do Norte. O líder indígena expõe, ainda, a falta de ação dos órgãos de proteção e saúde com os povos tradicionais.
“Eles saíram da Aldeia São Luís e vieram para Atalaia do Norte em busca de benefícios, e ficaram aguardando atendimento, dependendo da Funai, quando não dependendo do CRAS, do município. E sempre é assim, demora os atendimentos e como os indígenas que vem do interior não tem onde ficar, eles ficam nas canoas, todos agrupados no porto. Por serem leigos, muitos não sabem quem procurar”, explicou o cacique.
Para o cacique, a Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), o Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) do Vale do Javari, além da Funai, precisam fazer buscas ativas dentro das comunidades. A medida, segundo ele, evitaria que o quadro de saúde de muitos indígenas agravasse para o óbito.
“Eles ficaram esperando e foi quando a criança piorou. Por serem leigos, não procuraram posto de saúde e o próprio município não fez busca (ativa), em áreas onde existem pessoas que não podem chegar ao hospital por contra própria”, denunciou.
O cacique conta ainda que, após o quadro da criança piorar e os pais não saberem o que fazer, um indígena foi até o hospital da cidade pedir que uma ambulância fosse buscar a criança para que ela fosse atendida pela equipe médica do local.
No entanto, com o quadro de saúde já debilitado, a criança não resistiu e faleceu antes de chegar ao hospital do município.
Para o cacique, a situação mostra o descaso dos órgãos para com os povos originários. Ele fala ainda que os líderes da etnia chegaram a se reunir com a ministra dos povos originários, Sônia Guajajara, durante sua passagem pelo Amazonas em fevereiro, e indicaram nomes do próprio povo para presidir a Sesai e o DSEI do Vale do Javari, mas que até o momento não foram atendidos.
Ministra Sonia Guajajara visitou Atalaia do Norte em fevereiro.
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“A gente está sem coordenador da Funai, da Sesai. As coisas estão ficando cada vez mais precárias. Quando a gente tinha o nosso coordenador da Sesai, ele fazia busca ativa, ia nos bairros, nas casas, nas comunidades. A ministra Sônia veio aqui em Atalaia, prometeu que ia colocar o nosso coordenador da Funai e da Sesai e até agora não tomou providência em relação a isso”, falou.
“Estamos na esperança de ver esses coordenadores atuando em nossas comunidades. A gente está sofrendo, passando por necessidade e esperando que o governo olhe por nós”, finalizou.
Em nota, a Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Amazonas (OAB-AM) disse que a morte da criança Kanamari foi fruto de uma série de omissões, que se reproduzem e vitimam, com teor genocida, as populações indígenas.
Prefeitura se pronuncia
Ao g1, a Prefeitura de Atalaia do Norte se pronunciou sobre o caso e disse que a criança deu entrada no hospital do município por volta das 12h da quarta-feira (5). Ela foi avaliada por um médico plantonista, que constatou de imediato o óbito.
Aos agentes de saúde, a avó da criança relatou que a mesma apresentava dores e gemidos desde o dia anterior e que a família não procurou uma unidade de saúde ‘porque o rezador estava curando’ o menino.
O g1 também entrou em contato com o Ministério da Saúde e o Ministério dos Povos Originários. O Ministério da Saúde disse que apura o caso e deve esclarecer a situação até esta quarta-feira (12).
Já o Ministério dos Povos Originários não respondeu os questionamentos sobre as denúncias feitas pelo cacique até o fechamento da matéria.
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