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Você conhece o papa-moscas-uirapuru?


Ave amazônica foi flagrada durante a construção do ninho em Manaus; registro compõe o rico acervo de bióloga da região. Fêmea de papa-moscas-uirapuru angariando os “tijolos” para o ninho.
Priscilla Diniz
O olhar atento é a maior virtude de quem anda pela mata. Encontrar uma ave, em meio às florestas fechadas é sempre um grande desafio. E quando o encontro acontece, o registro sempre é especial.
Durante uma observação na região do Ramal do Pau Rosa, na zona rural de Manaus (AM), a bióloga Priscilla Diniz conseguiu enxergar um “pequenino”, de apenas nove centímetros de comprimento, angariando fragmentos para a produção do ninho.
“Achar ninhos têm sido comum nos últimos anos. Ando sempre muita atenta a qualquer mínimo movimento na mata e vi o exato momento que o papa-moscas-uirapuru pousou num galho enquanto segurava um filamento com o bico. Imediatamente entendi que esse passarinho estava construindo um ninho. No dia, um amigo passarinheiro estava comigo, o Rossano. Contei para o ele o que tinha visto e sugeri que ficássemos quietos e aguardássemos, porque a ave entregaria a localização do ninho assim que entendesse que não representávamos uma ameaça e foi o que aconteceu”, descreve a mestre em Zoologia pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM).
Inclusive, o observador de aves Rossano Soares da Silva também fez belas imagens do papa-moscas-uirapuru (Terenotriccus erythrurus) construindo o ninho e você confere-as no vídeo abaixo:
Você conhece o papa-moscas-uirapuru?
Segundo Priscilla, essa não foi a primeira vez que ela fotografou a espécie. O “pequeno de calda avermelhada”, como é conhecido, ocorre em toda a Amazônia brasileira e em países vizinhos. Ele gosta de habitar o interior de florestas úmidas, em clareias e matas secundárias altas, e costuma ficar em cipós e na folhagem que cobre as árvores, onde permanece por longos períodos, vasculhando a vegetação a procura de insetos para alimentar-se. Vive em bandos mistos, mas pode ser encontrado também solitário.
“Meu primeiro registro da espécie foi em 2013, durante um trabalho de campo na BR-319, também aqui na região. Como ela não é rara nessa área, desde que aprendi a detectá-la, sempre a vejo. Esse passarinho sempre rende bastantes sorrisos. É um bicho muito delicado e, como gosto de brincar, um verdadeiro “passarinho inho”. No entanto, encontrá-lo construindo um ninho não acontece sempre e esse foi um registro bastante feliz. Achar ninhos é sempre muito empolgante, pois me dá a chance de observar mais intimamente o comportamento de uma espécie, já que, por um determinado período de tempo, ela estará diariamente naquele exato local.”, relata.
Papa-moscas-uirapuru se preparando para alçar voo.
Priscilla Diniz
Falando em ninho, o do papa-moscas-uirapuru é pendular e consiste em uma bolsa com entrada lateral coberta, como se fosse uma varanda. A ave, que tem cabeça e pescoço cinza, partes superiores e cauda amarronzada, peito bege, garganta clara e pés rosados, é apenas uma entre as mais de 856 espécies registradas pela observadora.
A “passarinheira”
Priscila, que tem 32 anos, é especialista em avaliação de impactos ambientais e licenciamento ambiental pelo SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial). Nasceu em Araguari (MG) e mudou-se para Manaus há 10 anos atrás, quando o pai dela foi transferido para lá.
“Na época eu ainda estava na graduação e acompanhei minha família. Acreditei que seria um grande desperdício estar cursando uma faculdade de biologia e não agarrar a chance de fazer parte da graduação na Amazônia. Fiquei empolgada com a chance de ter uma vivencia em um ambiente diferente, ainda no processo de formação profissional, uma vez que eu estava saindo de uma área de Mata Atlântica na Bahia. Nunca ficamos em uma cidade por muito tempo, já que o trabalho do meu pai envolvia constantes mudanças. Depois de graduada, fiquei em Manaus enquanto minha família retornou para Minas Gerais. Não me pareceu certo deixar a Amazônia ainda, pois entendo que ainda tenho muito a aprender e explorar aqui”, afirma.
Ela diz que faz uma fusão entre o hobby de “passarinhar” com o trabalho na Coleção de Aves do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia). “Tenho relação com a Coleção desde a graduação e tem momentos que estou fazendo atividades nela que não me parecem uma obrigação, pois gosto de entender o máximo possível sobre as aves que me cercam. Já quando saio para observar aves, consigo aplicar muitas coisas que aprendo com o trabalho. Então, no fim, uma atividade complementa a outra. E quando faço tarefas fora da Coleção, como guiar observadores de aves, me sinto muito mais segura e capaz de proporcionar uma experiência mais completa para as pessoas, pois consigo ir além de mostrar os passarinhos. Consigo explicar como as aves vivem e se comportam, ou como são seus ninhos”, expõe.
E toda essa ligação que a Priscilla tem com a natureza, tanto na vida pessoal, quanto na profissional, é proveniente da criação que ela teve, principalmente pelos pais. “Venho de uma família nascida e criada em zonas rurais, então sempre fomos bastante conectados com a natureza, ainda que de uma forma diferente do que é hoje. Minhas avós sempre cultivaram muitas plantas e sempre tiveram animais, inclusive pássaros em gaiolas. Com o passar dos anos, toda minha família passou por um processo de transformação na forma de se relacionar com a natureza e isso incluiu o fim das aves cativas. Acredito que o grande culpado da minha paixão por aves, especificamente, é meu pai. Desde criança meu pai me mostrava os passarinhos do quintal, colocava bebedouros para atrair beija-flores e fazia pequenos comedouros. Por fim, ele me presenteou uns anos atrás com uma câmera compacta, como um incentivo para fotografar os pássaros que vinham comer na nossa janela. Minha mãe foi a pessoa que acreditou e me incentivou de que o certo para mim era ser mesmo uma bióloga, exatamente por todo o interesse, amor, admiração e respeito que eu sempre mostrei pelos animais silvestres. Agora é rotineiro que nos almoços de família a pauta da conversa seja algum passarinho que vimos. E o “vimos” é porque enquanto eu estou da Amazônia vendo passarinhos, meus pais estão no Cerrado fazendo o mesmo”, completa.
Outros registros da observadora
Fêmea de anambé-militar (Haematoderus militaris).
Priscilla Diniz
Águia-cinzenta (Urubitinga coronata).
Priscilla Diniz
Rapazinho-de-boné-vermelho (Bucco macrodactylus).
Priscilla Diniz
Arapaçu-de-bico-comprido (Nasica longirostris).
Priscilla Diniz
Casal de marreca-caucau (Nomonyx dominicus).
Priscilla Diniz

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