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Documentário sobre como a censura afetou o punk brasileiro é lançado no interior de SP e retoma letras vetadas na ditadura militar


Ícones do gênero, bandas Cólera, Inocentes, Garotos Podres, Ratos de Porão e Ulster compartilham relatos sobre vivências nos anos 70 e 80. Cosmópolis (SP) tem exibição neste sábado (18). Documentário sobre a censura do Punk Rock no Brasil é lançado no interior de São Paulo
Movimento musical contestador, o punk rock chegou ao Brasil no final dos anos 1970, durante a ditadura militar no país. Com letras ácidas, marcadas por críticas ao regime repressor, à corrupção e aos problemas sociais, bandas precursoras do gênero viram suas composições serem vetadas pela censura. -📺Assista no vídeo.
Para contar essa história, o documentário “Não é Permitido: um recorte da censura ao Punk Rock no Brasil” será lançado neste sábado (18), com exibições em três cidades do interior paulista. A produção resgata memórias de membros das bandas Cólera, Inocentes, Garotos Podres, Ratos de Porão e Ulster, que passaram pela repressão. – Acompanhe parte dos bastidores no “making of”, acima.
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Bandas do cenário do Punk Rock brasileiro participam do documentário sobre como a censura afetou movimento durante ditadura militar
Nana Leme
📽️O material audiovisual estreia em Cosmópolis (SP) neste sábado (18), chega a Piracicaba (SP) no dia 24 de janeiro e, em Americana (SP) no dia 25, antes de ser disponibilizado no Youtube. – Veja locais e horários, ao final da reportagem.
Com cerca de 35 minutos de duração, o projeto contemplado pela lei de incentivo cultural Paulo Gustavo em Cosmópolis tem direção de Fernando Calderan Pinto da Fonseca, Fernando Luiz Bovo, Matheus de Moraes e Renan Costa de Negri.
Pierre e Val da banda Cólera participam de documentário sobre a censura no punk rock brasileiro
Nana Leme/Reprodução
A ideia de gravar o documentário veio a partir da pesquisa feita pelos diretores sobre a censura sofrida por diversas bandas do punk, com documentos resgatados da antiga Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP).
No documentário, os entrevistados analisam os motivos políticos, sociais e culturais por trás da censura. Participam da produção:
João Carlos Molina Esteves (Jão) – Ratos de Porão
Vladimir de Oliveira (Vlad) – Ulster
Ariel Uliana Junior (Ariel Invasor) – Inocentes (à época)
Clemente Tadeu Nascimento – Inocentes
Carlos Mariano Lopes Pozzi (Pierre) – Cólera
Valdemir Pinheiro (Val) – Cólera e Olho Seco
Jose Rodrigues Mao Junior (Mao) – Garotos Podres
Documentário “Não é Permitido: um recorte da censura ao Punk Rock no Brasil”
Nana Leme
❌Letras censuradas
Renan contou ao g1 que ter encontrado a música Keeparologia é Keeparologia, do Redson, é importantíssimo para a história do punk. “Ela foi enviada em 1977, antes de ele formar as bandas Cólera e Olho Seco. As pessoas com quem falamos não a conhecem, nem mesmo seu parceiro de banda e irmão, Pierre”, aponta um dos diretores do documentário.
“Com o encontro dessa música e de mais três do período, iniciamos, agora, uma busca por alguém que tenha alguma gravação ou memória sobre a canção. Pierre e Val falam um pouco sobre possíveis referências no documentário. Mas, ainda estamos em busca de respostas”, esclarece.
Música ‘Keeparologia é Keeparologia’, de Redson da banda Cólera, integra história do punk.
Reprodução/Arquivo Nacional
Documento enviado pelos pesquisadores mostra que muitas músicas da banda Ulster foram vetadas em 1982. “A banda Ulster, mesmo modificando parte das letras buscando ludibriar a censura, foi uma das mais censuradas”, diz Negri.
A faixa “Corrupção”, assinada por Jarbas Alves (conhecido como Jabá), então baixista dos Ratos de Porão, também recebeu o carimbo “Vetado”. A composição reúne versos como “A corrupção está acabando com a nação”, e “O índice de desemprego está crescendo / e eles fingem não estar vendo”, por exemplo.
Mao da banda Garotos Podres é entrevistado durante documentário sobre censura contra punk rock no Brasil
Nana Leme/Reprodução
Documento de 1982 da Divisão de Censura de Diversões Públicas, do Departamento de Polícia Federal, aponta que “Corrupção” e outras faixas de Jarbas Alves foram vetadas porque apresentam “protesto social, incitamento à violência, protesto político, o que caracteriza a filosofia punk, a que o grupo pertence. […] Deixa visível que a censura não queria letras de protesto”, afirma a produção do documentário.
“Miséria e Fome”, da banda Inocentes, também foi vetada originalmente e aprovada após algumas alterações. A canção tem o mesmo nome do material que o grupo lançaria em LP. Entretanto de acordo com os pesquisadores, nove das 12 músicas foram censuradas, fazendo com que o número de músicas lançadas fosse reduzido e condensadas num EP.
Música ‘Corrupção’ da banda Ratos de Porão
Reprodução/Arquivo Nacional
A faixa “Batman”, da banda Garotos Podres, recebeu carimbo referente ao impedimento no dia 4 de outubro de 1988. Assim, de acordo com os pesquisadores, é possível que a música tenha sido a última censurada.
“No dia 4 de outubro, o diretor do órgão resolveu manter o veto à música mesmo sabendo que no próximo dia, 5 de outubro, ele seria revogado com a promulgação da Constituição Federal de 1988”, aponta Fernando Calderan, responsável pelas pesquisas junto com Renan.
Clemente e Ariel da banda Inocentes
Nana Leme/Reprodução
Pesquisas e origens 📃
Renan Costa de Negri, um dos diretores do documentário, falou ao g1 sobre o processo de “nascimento” das pesquisas que deram origem ao projeto. A ideia é de que todo o material coletado seja transformado também em um livro em algum momento.
O interesse pelo tema da censura ao punk surgiu ainda na pandemia quando Renan e Fernando Calderan encontraram os arquivos de algumas bandas. A primeira, foi o Ratos de Porão, em seguida vieram Inocentes, Ulster, Camisa de Vênus, Replicantes e tantas outras.
Lista de músicas da banda Ulster, vetadas pela censura brasileira em novembro de 1982
Reprodução/Arquivo Nacional
As pesquisas passaram não só pelo DCDP, mas também pelo Sistema de Informações do Arquivo Nacional (SIAN). Renan conta que não foi uma tarefa fácil resgatar músicas e documentos através desses meios.
“A pesquisa pelo SIAN tem suas peculiaridades. No primeiro momento, fomos por palavras-chave como punk, anarquia e revolta. Depois, começamos um processo mais detalhado de busca por meio da pesquisa do nome de artistas e das músicas presentes em álbuns e shows da época”, disse.
Documentário apresenta documentos resgatados que mostram a repressão sofrida pelas bandas punk no Brasil nas décadas de 70 e 80
Nana Leme
Durante o processo de garimpo por documentos e evidências, foram encontradas músicas e diversos casos de alteração de letras devido a censura.
“Havíamos identificado casos de mudança de letras da banda Ulster para tentar driblar a censura, mas com a entrevista, percebemos que muitas outras canções tiveram a letra mudada. Isso não adiantou muito, a banda teve mais da metade das músicas censuradas.”
Jão, da banda Ratos de Porão, participa do documentário “Não é Permitido: um recorte da censura ao Punk Rock no Brasil”
Nana Leme
A importância do movimento punk 🤟
Ao entrevistar os artistas, Renan conta que puderam ter uma dimensão maior do que foi a perseguição por aqueles que escolhiam não se calar durante a época de repressão. A partir dos relatos, foi possível lembrar que a censura era só uma forma oficial de repreensão.
“Na escola, em casa e nas ruas suas ideias e expressões eram constantemente reprimidas. Ariel e Clemente destacaram que os pais tinham medo que os filhos sofressem com a perseguição do Estado e suas piores consequências.”
Renan estabelece com clareza que o punk é na verdade uma forma de viver, e que mudou a vida de todos que fizeram, e fazem, parte do movimento. “Música é a arte que nos faz pulsar a vida”, afirma.
Decisão da censura sobre letras da banda Ratos de Porão reproduzida no documentário
Reprodução/Arquivo Nacional
O diretor explica que é necessário falar sobre censura e repressão, em especial sendo parte de um movimento que é constantemente atacado e tratado de forma preconceituosa.
“O movimento punk possui artistas capazes de criar análises interessantíssimas do Brasil em suas músicas, textos e ações. E, pensando na valorização desse gênero tão importante na desconstrução de valores preconceituosos, decidimos registrar parte da história ainda não contada sobre essas bandas e artistas que sempre andaram pelo underground”, afirma Renan.
Vlad da banda Ulster em entrevista para documentário ‘Não é Permitido – Um recorte da censura do Punk Rock no Brasil’
Nana Leme/Reprodução
Exibições
📽️🎸 A primeira exibição do documentário ocorre às 20h deste sábado (18), no Centro de Artes e Esportes Unificados (CEU) Andorinhas de Cosmópolis (SP). O endereço é Rua Luiz Vaz de Camóes, nº 114, no bairro Parque Residencial das Andorinhas. 🎫A entrada é gratuita, com retirada de ingressos pelo site. Para saber mais, clique 👉aqui.
O documentário também terá outras duas exibições. No próxima sexta-feira, dia 24 de janeiro, em Piracicaba (SP) e no sábado (25) em Americana (SP).
***Sob supervisão de Claudia Assencio
Música ‘Batman’ da banda Garotos Podres pode ter sido a última letra do punk rock nacional a ser censurada um dia antes da promulgação da Constituição brasileira
Reprodução/Arquivo Nacional
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