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Essa conversa de que só tinha rock no Rock in Rio e não tem mais é lenda urbana, diz Roberto Medina


Neste sábado (10), festival completa 40 anos. Ao g1, criador fala sobre repetir atrações, elogia trap e promete inovações para 2026: ‘Carros voadores na área VIP e leitura facial na entrada’. Roberto Medina, criador do Rock in Rio, na entrada da cidade do rock em 2024
Rogério Fidalgo/Agnews
Neste sábado (11), o Rock in Rio celebra quatro décadas de história. Mas Roberto Medina, criador do evento, quer mais. “No próximo Rock in Rio, já teremos carros voadores na área VIP, leitura facial para a entrada do público e outras inovações”, ele antecipa, em papo com g1 por videoconferência.
Na entrevista abaixo, o executivo compartilhou suas perspectivas sobre o futuro do festival e garantiu que a ideia sempre foi (e será) aumentar a diversidade de gêneros musicais no line-up. “Essa conversa de que só tinha rock no festival e não tem mais é uma lenda urbana.”
Medina falou sobre os desafios de renovar as atrações (ele já tentou trazer artistas de K-pop, e seguirá tentando) e defendeu a repetição de bandas. “Se eu trouxer de novo o Guns, a mídia vai dizer que o Axl não tem mais voz, muitas pessoas podem reclamar, mas vai lotar outra vez. Eu respeito muito quando você passa a ir além da sua música e se torna uma entidade.”
ESPECIAL: Os 40 maiores shows do Rock in Rio
Além de Guns e de diversidade de estilos, o presidente do Rock in Rio também falou de outras decisões, como ter escalado Mariah Carey no Palco Sunset e não aceitar o patrocínio de certas marcas de bebida.
“Neguei muitas vezes patrocínios de bebidas destiladas na área da pista. Sou um dos únicos festivais do mundo que não permite bebidas de alto teor alcoólico, desde o primeiro Rock in Rio. É uma questão de segurança.”
Roberta Medina responde ao público sobre escolha das atrações do Rock in Rio
g1 – Como o senhor imagina o festival no futuro, daqui a 10 anos, por exemplo, quando for completar meio século de história?
Roberto Medina – É uma boa pergunta. No passado, não tínhamos telefonia celular, fax, praticamente nada na área de comunicação…. em 1985, por causa do Rock in Rio, a indústria fonográfica brasileira aumentou 180%. Não estou falando apenas de rock, metal ou pop, mas da indústria da música como um todo. Consolidamos importantes bandas brasileiras e algumas internacionais.
g1 – Existem inovações que podem aparecer no próximo Rock in Rio?
Roberto Medina – No próximo Rock in Rio, já teremos carros voadores na área VIP, leitura facial para a entrada do público e outras inovações. Mas o que sempre estará presente é a interação humana, a experiência de estar junto com o outro. A vida é ao vivo, a música é ao vivo. As pessoas precisam conviver, e isso não vai mudar. A natureza é ao vivo, o ser humano é gregário. A experiência de estar junto ainda é imbatível.
Roberto Medina à frente da primeira Cidade do Rock, em Jacarepaguá, ao lado do Riocentro
Divulgação
g1 – Nos últimos anos, temos visto uma diversidade ainda maior de gêneros musicais no Rock in Rio. No ano passado, foram mais atrações do funk, um dia dedicado ao trap e a inclusão do sertanejo pela primeira vez. São gêneros que vieram para ficar no Rock in Rio?
Roberto Medina – Sempre procurei diversificar. Tivemos axé, Elba Ramalho… Com a dimensão da música sertaneja, do trap e do funk cada vez mais presentes no streaming e na mídia, é natural que o Rock in Rio, sendo um evento democrático, busque representar esses ritmos.
“O festival é uma festa, nunca foi um festival só de rock. Às vezes, o nome gera um pouquinho de confusão, né? Na época que eu criei, rock não era só um estilo, era um estado de espírito, uma coisa meio disruptiva. Essa conversa de que só tinha rock no festival e não tem mais é uma lenda urbana.”
Falam que antes era rock e agora não tem mais rock como no início. Não é verdade. Mas isso é bacana, acho que é legal o debate. Isso mostra que as pessoas se importam com o Rock in Rio…
g1 – Sim, é como acontece com a convocação da seleção brasileira. Sempre tem crítica, sempre tem gente falando que algum jogador está faltando, que outro está sobrando…
Roberto Medina – Exatamente, é isso mesmo. O futebol e a música têm essa coisa em comum, de agregar. Mas puxando a brasa para minha sardinha, a música é ainda melhor porque ninguém sai perdendo.
g1 – Tem um fã-clube que acha que está perdendo, que é o do k-pop. Em nome deles, preciso perguntar mais uma vez: o k-pop está nos planos do Rock in Rio?
Roberto Medina – Não tenho problema algum em ter uma banda de k-pop no Rock in Rio. Não houve coincidência de datas com bandas grandes como Blackpink, mas estamos abertos a essa possibilidade. As datas ainda não casaram e precisamos da intenção da banda vir ao Brasil. Não depende só da vontade do festival. A escolha das atrações não é só minha, ela é baseada em pesquisas e no que o público deseja. Depois, para cada dia, procuramos dividir por faixa etária e por estilo musical, mas nem sempre conseguimos fazer do jeito que gostaríamos.
Multidão acompanha show do Rock in Rio em 1985, na primeira edição do festival em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro
Rock in Rio/Divulgação
g1 – O festival chegou a ter mais de 200 mil pessoas por dia. Hoje, o público é em média de 100 mil pessoas. O quanto essa adequação foi importante por questões de segurança e logística?
Roberto Medina – Começamos com 250 mil pessoas no primeiro evento, mas fui reduzindo para melhorar a qualidade da entrega. Com 100 mil pessoas, conseguimos atender ao público de maneira quase completa. A experiência é nossa prioridade, e buscamos sempre entregar o melhor. A gente foi aprimorando a experiência com o tempo e hoje acho que “100 mil” se tornou um número mágico. Aprendemos que é importante reter as pessoas o máximo possível na hora da saída, então mantemos bares e lugares de comidas abertos, continuamos com um show no Sunset, depois que o principal acaba. Isso ajuda a diminuir a saída em massa. É um processo de acerto e erro, e fomos melhorando com o tempo.
g1 – Mariah Carey no Palco Sunset passou muito bem o recado de que esse palco tem a mesma importância do mundo. Mas como foi lidar com as reclamações antes do show?
Roberto Medina – Eu entendi as reclamações, porque as pessoas ainda não sabiam que o Sunset teria o mesmo tamanho e estrutura do Palco Mundo. Sempre há reclamações e converso muito com os artistas sobre isso. Sabemos que 25% das reclamações vêm de haters que sempre vão reclamar. Para mim, o resultado foi muito bacana, porque a gente carimbou a ideia de que é um palco da mesma dimensão do Mundo. E tem mais uma coisa: quando surgiu a oportunidade de trazer a Mariah, já estávamos comprometidos com outros artistas no Palco Mundo. Então, foi um conjunto de fatores, eu não tinha como escalar a Mariah no Palco Mundo para aquele dia… mas a repercussão do show foi incrível.
Mariah Carey canta ‘I want to know what love is’
g1 – Mesmo com um dia dedicado ao rock, com o Avenged Sevenfold e Evanescence, uma parte do público reclamou que queria mais rock e metal. E, no geral, esta foi de fato a edição com menos atrações roqueiras, mais clássicas, com exceção de nomes como Deep Purple e Journey. Na análise de vocês, faltou um pouco de rock em 2024?
Roberto Medina – As grandes bandas de metal e rock pesado, como Metallica, têm agendas muito complexas. Sempre que houver oportunidade, traremos essas bandas. O Rock in Rio tem a vantagem de reunir a maior plateia do mundo, mas também é difícil encontrar bandas que possam atender a essa demanda. No topo da pirâmide, há poucas bandas que podem atrair 100 mil pessoas. São no máximo 30 bandas que podem ter uma performance deste tipo de dimensão. A grande vantagem do Rock in Rio é que ele é o próprio headliner. As pessoas vão ao festival para viver a experiência, não apenas para ver uma atração específica. Temos pesquisas que mostram isso: 50% vai para ver algum artista e 50% vão pelo festival. É emocionante ver pessoas com a marca do Rock in Rio tatuada. Isso não tem a ver com a banda A ou B, mas com a experiência vivida lá.
g1 – O Rock in Rio tem uma história de parcerias com marcas, e o público hoje já se acostumou a enfrentar filas para participar de experiências em estandes e pegar brindes. Quais são os critérios para escolher os parceiros comerciais? Existem marcas com as quais o festival não se associaria? Já aconteceu de negarem parcerias, mesmo sendo muito lucrativas?
Roberto Medina – Neguei muitas vezes patrocínios de bebidas destiladas na área da pista. Sou um dos únicos festivais do mundo que não permite bebidas de alto teor alcoólico, desde o primeiro Rock in Rio. É uma questão de segurança. Na história do festival, recebemos 12 milhões de pessoas sem nenhum grande problema. A cerveja é permitida, porque não causa o mesmo efeito. Também não permito marcas no palco, porque o palco é do artista. As marcas estão na Cidade do Rock, mas não no palco. Isso é rigoroso desde o primeiro Rock in Rio.
Roberto Medina com os filhos no espaço da Cidade do Rock da primeira edição do Rock in Rio, em 1985
Arquivo pessoal/ Roberta Medina
g1 – Provando que é impossível agradar todo mundo, tem um outro lado: senhor geralmente aposta em atrações que deram certo em edições anteriores e com isso há uma repetição natural de nomes nos line-ups. As críticas sobre essa repetição incomodam ou influenciam na hora de escolher as atrações? Como renovar?
Roberto Medina – Eu acho que é uma questão que não cabe só a mim, mas à indústria musical. Ela precisa criar bandas que possam preencher essa vontade da renovação, porque se você analisar shows dessa natureza e dessa magnitude, dificilmente um evento consegue renovar o line-up. Em 1985, quando o Rock in Rio começou, era muito fácil. Ninguém tinha vindo ao Brasil e assim foi durante um tempo… Hoje, você tem uma demanda muito grande em cima das mesmas bandas. Não sei qual o problema para haver menos renovação hoje. Mas tudo bem, como já disse, você sempre vai ter uma parte das pessoas que te criticam eu eu não me acostumei totalmente com isso.
O Travis Scott foi uma escolha pessoal minha, porque eu estava curioso para ver, mas era muito diferente para o Rock in Rio. Aí eu entrei no Twitter e estava lá: Roberto Medina nos trending topics. Fiquei todo orgulhoso. Falei: ‘Pô, que legal’. Mas aí eu fui ver e: ‘Caraca, todo mundo falando mal de mim! Meu Deus!’ Desliguei o negócio rápido, não queria ver mais nada. Falei para minha mulher: “Poxa, as pessoas estão me odiando”. Mas aí lotou e foi demais.
g1 – O dia do trap foi um dos grandes acertos de 2024, para todo mundo aqui do g1. Porque conseguiu renovar o line-up.
E se fossem dois dias, teria lotado os dois. Mas não fiz esse dia por isso. Existem também escolhas como a do Neil Young, que não faz sentido para vender ingresso, mas é um nome importante da história do rock. Isso também aconteceu com o Who, que tivemos a oportunidade de trazer. Era uma banda cara e eu sabia que, sinceramente, não fazia sentido… Mas meu pensamento não é extrativista, mesmo o Rock in Rio sendo um negócio.
Roberto Medina brinda com Frank Sinatra, quando ele veio cantar no Maracanã em 1980
Artplan Publicidade/Divulgação
g1 – O senhor já se arrependeu da escalação de algum artista?
Roberto Medina – Sim, me arrependi de trazer o Prince. Ele era um talento gigantesco, mas era uma pessoa muito, muito difícil. Não acho que valeu a pena para mim, eu me aborreci muito. Mas valeu para o público, pois ele tinha um talento esmagador.
g1 – O Prince apareceu bem colocado na nossa lista de 40 grandes shows dos 40 anos do Rock in Rio. Mais de 150 pessoas que cobriram o evento enviaram listas e fizemos esse ranking, com o Queen na liderança. Qual seu top 3 de shows históricos do Rock in Rio?
Roberto Medina – Meu top 3 tem James Taylor, Prince, que era um monstro no palco, apesar da minha experiência ruim… e tem mais um… que é o Guns. O Axl Rose perdeu um pouco da magia ao longo do tempo, mas ainda entrega grandes shows. Ele é uma entidade na história da música, assim como Frank Sinatra. O Sinatra, mesmo sem a extensão de voz de antes, lotava estádios porque era uma parte da história. O Axl Rose é assim também.
Então, essa preocupação técnica é claro que existe, porque faz parte da construção da crítica, mas se o cara não está com a voz que tinha antes, não importa tanto. Se eu trouxer de novo o Guns, a mídia vai dizer que o Axl não tem mais voz, muitas pessoas podem reclamar, mas vai lotar outra vez. Eu respeito muito quando você passa a ir além da sua música e se torna uma entidade. Os Rolling Stones são um caso raro, uma coisa louca: continua igual! Aí é um mistério como o Jagger continua correndo igual, cantando igual…
G1 – Sim, eu tive a oportunidade de ver Rolling Stones com o Bruce Springsteen, juntos, no Rock in Rio Lisboa. Dois exemplos disso.
Roberto Medina – Aquilo foi surreal, né? O Bruce estava no meu hotel e mandei um convite para ele. Ele veio com a filha. O Bill Clinton também estava na plateia, tudo uma coincidência. Foi um dia muito especial, com Bruce Springsteen e Rolling Stones no palco e o Clinton assistindo.
Roberto Medina posa em frente ao Cristo Redentor antes de evento sobre o Rock in Rio 2013
Alexandre Durão/G1
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