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Número de famílias em situação de pobreza sobe 15% no RS após enchentes


Insegurança alimentar atinge 18,7% dos lares gaúchos. Há uma nova realidade que não era conhecida por muitos antes da tragédia: a fome. Doações do Banco de Alimentos ajudam famílias com insegurança alimentar
A população gaúcha ainda sente os efeitos das enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul oito meses depois do desastre climático. Os estragos não ficaram só nos entulhos, que precisam ser recolhidos, ou nas paredes, que precisam de uma nova pintura. Há uma nova realidade que não era conhecida por muitos antes da tragédia: a fome.
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A pobreza subiu 15,4% desde maio no RS, de acordo com dados do governo do estado (veja abaixo).
Situação das famílias no CadÚnico
Quem já era pobre, ficou mais ainda: o número de famílias de baixa renda cresceu 4,1%, agravando a insegurança alimentar nos lares gaúchos. Até o final de 2023, quase 20% dos domicílios enfrentavam algum grau, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A falta de comida tem relação com a pobreza: com menos renda, comprar comida ficou mais difícil.
População improvisa moradias debaixo da ponte após enchentes no RS
RBS TV/Reprodução
Insegurança alimentar no RS
Atinge 18,7% dos lares gaúchos
13% é leve
3,5% é moderada
2,2% é grave
Fonte: Instituto Brasileiro
Solidariedade
Erondina Ribeiro Fragoso, moradora de região atingida por enchente em Porto Alegre
RBS TV/Reprodução
A dificuldade enfrentada pelos gaúchos causa angústia e preocupação, sentimentos que só ficam de lado quando outro ocupa todo o espaço: solidariedade. Exemplo disso é o de Erondina Ribeiro Fragoso, passadeira aposentada que reside na Zona Norte de Porto Alegre. Hoje, divide a casa, que ficou debaixo d’água, com uma filha, dois netos e dois bisnetos.
“Depois que baixou as águas, eu vim, botei um forro aqui no chão e comecei a dormir aqui mesmo até limpar a casa, até começar a ganhar umas coisas”, conta.
Após limpar a casa, alimentar os netos, bisnetos e a filha também virou uma preocupação. Cada vez que uma nova doação chega, ela consegue deixar o sentimento de lado e colocar um sorriso no rosto.
“Não por mim, mas pelas crianças, né? Porque a gente, eu como feijão puro se for preciso, feijão e arroz eu gosto”, diz.
Paulo Germano comenta sobre a fome no Natal
“Como tu tem a doação da comida, tu pode investir noutra coisa, né?”
Clair Mack Germann, moradora da Zona Norte da capital
RBS TV/Reprodução
Ainda na Zona Norte da Capital, vive a dona Clair Mack Germann. Depois da aposentadoria como costureira, ela mantinha um ateliê em casa. Era para se entreter, como ela brinca, mas também servia para ter uma renda extra. Só que a enchente levou tudo: tecidos, linhas, agulhas e máquinas de costura. Foram 40 dias fora de casa.
“Era difícil olhar tudo embaixo d ‘água. Eu não tinha nada aqui. Eu achei que eu ia salvar alguma coisa, mas eu cheguei aqui, eu não achei nada. Salvei umas louças, umas coisas, mas não tinha o que fazer. Eu fiquei sem uma porta, só aquela ali, mas aberta, aí, eu fui colocando as portas, eu mesmo fui pintando, e agora já tá mais ajeitadinho, mas era difícil. Tinha um lodo assim, uns 10 centímetros”, relembra.
A ajuda que vem de doações de alimentos permite que ela siga refazendo o lar, passo a passo.
“Daí, como tu têm a doação da comida, tu pode investir noutra coisa, né? Porque é uma segurança”, diz.
A prioridade é outra: se alimentar
Moradora da Zona Norte da capital
RBS TV/Reprodução
O sustento da família de André Cabeleira da Silva vinha de um galpão de reciclagem em um terreno de onde a enchente levou tudo. Era esse dinheiro que colocava comida na mesa.
“Eu tive que desmanchar tudo, deixei, amontoei tudo aqui”, lembra.
A família ainda tenta se manter na casa, que foi danificada e ainda tem as marcas da enchente. A cozinha foi levada pela água e, agora, a louça é lavada de forma improvisada na rua. Mas a prioridade é outra: se alimentar. Sem conseguir trabalhar, André, Ana e os três filhos dependem de doações. Tudo é bem-vindo, desde os itens mais simples.
“O que mais que a gente gasta aqui é arroz e feijão, né, mistura. Para ter o básico, leite, meu guri toma leite”, diz.
Quando a dificuldade de ter comida na mesa atinge os filhos, o coração aperta.
“Tu olha a geladeira, às vezes só tem água, né, para dar pra eles”.
As doações
Para Rudimar Dal’Astra, conhecido por arrecadar e distribuir doações na Região das Ilhas, uma das mais atingidas em Porto Alegre, nesse período próximo do natal é ainda mais necessário pensar em ajudar o próximo.
“Então, quando as pessoas se sentem tocadas, sensibilizadas, olhando a sua mesa farta, e olhando que em outras mesas está faltando o básico do dia a dia, que tenham esse gesto de caridade, ajudar quem está precisando, ajudar o mais necessitado”.
E para quem vê essa ajuda virando comida na mesa, o sentimento é de gratidão.
“Faz muita diferença”, diz dona Erondina.
“Eu ia agradecer muito, me conseguisse uma cesta básica pra eles”, conta Clair.
“Ia agradecer muito, ai ficar muito grata”, afirma André.
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