Monólogo convida o público a um mergulho no místico Marajó a partir de relatos de mestras e mestres.
Em novo espetáculo, Leonel Ferreira mergulha no universo místico do Marajó
Divulgação
Banhado pelo doce dos rios Amazonas, Tocantins e Pará, e pelo salgado mar do Atlântico, o Marajó é um local de confluência. Os antigos garantem que é o reino das águas – místico e ancestral. A magia Caruana que povoa a região, imersa em pajelança, protagoniza o “Encantaria Marajó – onde o silêncio não cai”, espetáculo performativo no qual Leonel Ferreira mergulha na oralidade, mitopoética e religiosidade da região, especificamente de Soure, Salvaterra e Cachoeira do Arari. A obra estreia nesta sexta-feira (27), no Casarão do Boneco, em Belém, e depois faz temporada no arquipélago.
📲 Acesse o canal do g1 Pará no WhatsApp
No monólogo, Leonel, além de ator, assina a dramaturgia e a direção geral. Um dos artistas mais criativos de sua geração, Leonel é mestre em Artes e sociólogo, foi premiado no Festival Nacional de Teatro do Piauí, e faz parte do Coletivo Artístico Casarão do Boneco, da Rede de Contadores de Histórias do Pará, e do Fórum Livre Permanente de Teatro do Pará.
O novo trabalho surge a partir de relatos compartilhados por mestres e mestras da sabedoria marajoara, quando Leonel adentra no mundo místico daquele lugar. O ator conta que suas andanças pela região começaram em 2019, no Festival Marajoara de Cultura Amazônica, onde conheceu Mestre Damasceno, repentista, cantador de carimbó, compositor de sambas, pescador, artesão e criador do “búfalo-bumbá”. Também encontrou Mestre Dikinho, vaqueiro, pescador, poeta, criador de carimbó, toadas de boi, sambas enredo, além de bossas, lundus e xotes.
“Mais tarde, volto ao Marajó pra conversar com essas pessoas: Mestre Damasceno e Mãe Juquinha que é uma mãe de santo que trabalha com banhos, com ervas, com cura em Salvaterra”, relata Leonel.
A partir de 2023, sua incursão pelo Marajó se intensifica, e o conduz a mestras e mestres de vários municípios do arquipélago, ouvindo suas histórias e seu conhecimento milenar.
“Fiquei muito tocado com tudo aquilo e resolvi então colocar histórias do palco, tudo muito singelo, honesto, mas acima de tudo, com o máximo respeito pela sabedoria tradicional da região”, conta.
Encantarias
Entre os personagens do Marajó, a Cobra Grande e o Vaqueiro Boaventura são dos que mais povoam os relatos populares. A lenda da “Cobra Grande” surgiu por conta dos rebujos das águas do rio Paracauari, que acontecem exatamente na curva do rio, onde fica localizado o Sítio Meu Sossego, em Soure. Esses rebujos são redemoinhos que se formam pela forte correnteza quando encontra as pedras do fundo do rio, emitindo sons e movendo-se por dezenas de metros. Segundo a lenda, esses barulhos seriam o suspiro da cobra grande quando vinha à superfície para respirar. De tão gigantesco, o animal se estendia por muitas distâncias: sua cabeça ficava no sítio e a extremidade de seu rabo embaixo da catedral no centro da cidade, e o dia em que saísse debaixo da terra, a cidade inteira de Soure seria dragada para dentro de seu buraco.
Já Boaventura era o mais experiente vaqueiro dentre todos. No entanto, certa vez, ao atravessar a cavalo o lago Piratuba, misteriosamente Boaventura desapareceu em suas águas. Por dias procuraram pelo corpo do vaqueiro e do cavalo, e jamais os encontraram. Sempre que alguém perde um animal, recorre à ajuda do vaqueiro e oferece em troca presentes que são deixados no meio do campo. No dia seguinte, os bichos são encontrados presos no curral à espera do dono.
“O projeto é uma celebração à potência cultural marajoara. A sabedoria tradicional que passa de geração pra geração. A conexão e o respeito pelo sobrenatural. E trazer essas histórias e ocorrências para a linguagem teatral possibilita ao público uma certa aproximação com essas manifestações”, celebra o artista.
Depois de estrear em Belém, a obra faz o caminho de volta e chega ao Marajó em janeiro do ano que vem, onde faz temporada até fevereiro de 2025. “Estamos super ansiosos. No Marajó, a primeira apresentação será em Cachoeira do Arari, em janeiro, durante as festividades a São Sebastião, que é o santo celebrado em 14 dos 16 municípios do Marajó”, conta.
Em fevereiro, a turnê segue para o Marajó, onde será apresentada em espaços de grande relevância para a cultura da região: no Grupo Cruzeirinho e na sede da AMPAC, ambas em Soure; e na Escola Estadual Prof° Ademar Nunes Vasconcelos, em Salvaterra.
O espetáculo “Encantaria Marajó – onde o silêncio não cai” foi selecionado no edital de Multilinguagens da Secult da Lei Paulo Gustavo e tem apoio do Casarão do Boneco e da Cia. de Teatro Madalenas, da qual Leonel faz parte desde sua criação em 2001.
Serviço:
Espetáculo “Encantaria Marajó – onde o silêncio não cai”, dia 27 de dezembro de 2024, às 19h19, no Casarão do Boneco (AV. 16 de novembro, 815 – próximo à Praça Amazonas)
Classificação: 12 anos
Ingressos: pague quanto puder
Os valores arrecadados serão destinados a manutenção do Casarão do Boneco.
VÍDEOS com as principais notícias do Pará