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Como são as ceias de Natal pelo Brasil


Peru se consolidou nos últimos anos como um prato tradicional no Natal brasileiro. No entanto, as tradições são variadas pelo país, indo do tambaqui assado à farofa de cuscuz. Chester recheado, lombo, pudim de panetone e pavê; confira opções de receitas deliciosas para a ceia de Natal
Mariane Rossi/g1, Isabela Oliveira/g1, Flávio Duarte e Mariane Bonura
A ceia de Natal dos brasileiros está bem próxima novamente, e a combinação de peru de Natal com farofa e frutas cristalizadas, além de bolos e tortas doces, povoa um imaginário gastronômico natalino que se tornou tradicional.
🎄 Mas será que essa ceia de Natal padrão que já nos acostumamos a ver na televisão e nas revistas, ao longo dos anos, é a mesma em todas as regiões do Brasil? Dependendo da localidade, substituições e acréscimos de pratos dão um toque todo especial e singular ao jantar de Natal.
🦃 Em diferentes partes do Brasil, os costumes locais influenciam na composição da ceia de Natal das famílias. Como muitas pessoas passaram a encomendar a ceia pronta em restaurantes e delicatéssens, é lá que está uma boa amostra do que vem sendo mais pedido nessa época do ano.
“Cuscuz com frutos do mar é uma opção que sai bastante”, conta Constança Scofield, do restaurante Dona Xícara, em Salvador, que oferece opções por encomenda especialmente para o Natal.
Mas o cuscuz, que faz parte do café da manhã de muitos brasileiros, tem uma particular variação principalmente na região Nordeste: a deliciosa farofa de cuscuz, popular da Bahia ao Maranhão, e que nessa época do ano pode levar frutas secas, substitui a farofa comum para rechear o peru da ceia.
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Diferentes regiões, diferentes tradições
Já o chefe de cozinha e pesquisador gastronômico Eduardo Althaus foi buscar na própria história familiar um costume gaúcho que lhe marcou a infância no interior do estado. “Tem algo que é feito antes do Natal, que a gente chama de ‘bolacha pintada’, que tem um certo grau de importância pela reunião que acontece para esse tipo de produção”, explica.
“A família faz a bolacha junta, depois espera secar. Essas bolachas costumam ter um formato natalino, tem toda uma produção que envolve adultos e crianças, são horas de preparo. Essa questão do tempo destinado a produzir as coisas do Natal era uma marca importante”, completa.
Na vasta região Norte do país, onde está o imenso Rio Amazonas, estão também a maioria das mais de 25 mil espécies conhecidas de peixes de água doce do Brasil, segundo dados da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Por isso, a culinária local é fortemente influenciada pela presença dos rios, e um prato que costuma ser preparado para a ceia de Natal é o tambaqui assado, um peixe conhecido por ter poucas espinhas, o que facilita o seu trato e a sua degustação. Outro peixe comumente servido nas ceias é o pirarucu.
Já na região Centro-Oeste, um bom empadão goiano, que leva frango e carne suína, ou uma galinhada com pequi, essa mais comum no Pantanal, e que leva um fruto típico do Cerrado brasileiro, não podem faltar na ceia.
Peru, chester, rabanada
Em Salvador, o restaurante de Constança Scofield não vende o famoso peru recheado, nem suas variações como o frango assado e o chester. No lugar, o prato mais pedido para a ceia de Natal é o bacalhau gratinado.
“O peru é algo mais recente, no passado se fazia algum tipo de carne. Me lembro de comer porco na ceia de Natal, e não necessariamente o frango”, explica o sulista Althaus.
No Mercado Municipal do Rio de Janeiro (Cadeg), o bacalhau costuma ser um dos itens mais requisitados nesta época do ano. Em rotisserias de São Paulo, as encomendas para a ceia de Natal começam já no início de dezembro. O peru, o chester e o pernil são os campeões de pedidos, e de fato, apesar de tanta variedade disponível, se tornaram o carro-chefe nas mesas de Natal por todo o país. “Me parece que há uma certa homogeneização da ceia de Natal, muito referenciada ao padrão americano”, explica Althauss, que estuda alimentação e cultura.
Conhecida em partes do Nordeste como “fatia de parida”, e consumida em qualquer época do ano, a rabanada — um doce de fatias de pão molhadas em leite e calda de açúcar — se tornou um conhecido prato típico do Natal, mas não era comum ao redor do Brasil.
“Só descobri a rabanada depois de adulto. Não é uma característica da ceia do interior do estado do Rio Grande do Sul”, diz Althaus. “Nessas ceias que são entregues por restaurantes e padarias se inclui a rabanada, mas como parte desse processo que eu chamo de fusão de elementos da cozinha brasileira”, avalia o pesquisador.
“Eu acho que é mais do Rio”, diz Scofield, com raízes baianas e bastante sotaque carioca, sobre a rabanada e o bacalhau, pratos de origem portuguesa.
As várias referências podem ser absorvidas da forma mais saborosa possível. “Minha tia faz uma ceia que contém todas as comidas possíveis, de churrasco à farofa de cuscuz”, diz o escritor Saulo Dourado sobre sua ceia de Natal no sertão nordestino. “Antigamente havia a tradição de ouvir o galo da meia-noite para iniciar a comilança, meu pai ainda viveu nessa tradição, mas os ritos estão se perdendo quase por completo”, observa.
Acompanhamentos, saladas e sobremesas
Segundo o site do Ministério do Turismo, o arroz à grega, apesar do nome, é uma invenção tipicamente brasileira. Também muito presente no Natal, o salpicão, uma salada que leva frutas, verduras e frango desfiado é outra receita 100% nacional.
“Um elemento da nossa ceia no sul é uma salada de batata, que aqui a gente chama de salada de maionese. Em outros lugares do Brasil come-se salpicão”, diz Eduardo Althauss.
Nas sobremesas de Natal, os itens regionais também podem dar um tom local aos doces. Um exemplo é a torta que intercala ameixa, pão de ló e baba moça com a cocada, um doce de coco típico da Bahia.
“Eu considero que essa é uma torta que tem essas raízes portuguesas e africanas, que é bem uma síntese dessa coisa multicultural que a gente tem na Bahia”, analisa Scofield, que não esquece do bolo inglês. “O aroma do restaurante muda durante o período natalino”, completa.
“Me lembro muito de comer arroz doce e pudim durante o Natal. Outra coisa eram as frutas em compotas, que de certo modo fala da conservação um pouco mais rústica dos alimentos”, encerra Althaus.
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