Ana Carolina Borges, de 33 anos, é de Santos (SP) e mora em Londres há mais de dez. Obra foi inspirada nas cartas escritas para a mãe, que havia acabado de falecer. Atriz transformou luto pela mãe em peça de teatro sucesso no Brasil e na Inglaterra
Héctor Manchego e Redes Sociais
Luto…
Embora a palavra geralmente seja evitada por estar associada à perda de um ente querido, ela não intimidou a atriz Ana Carolina Borges, de 33 anos. Pelo contrário, a dor de perder a mãe, Maria Elisa Azeredo, a fez encarar o processo emocional e a buscar uma forma de expressar seus sentimentos.
Ana começou a escrever cartas para Elisa e o desabafo pessoal se transformou em uma peça de teatro que tem conquistado sucesso tanto no Brasil quanto na Inglaterra.
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Ana Carolina Borges é natural de Santos, no litoral de São Paulo, e se mudou para Londres, na Inglaterra, em 2010, após realizar um intercâmbio para aprender inglês. Nove anos depois, ela passou a dividir sua vida entre os dois países para cuidar da mãe, que estava em cuidados paliativos devido à metástase no pulmão.
A atriz revelou que começou a vivenciar o luto antes mesmo da morte da mãe. No entanto, foi apenas após a partida de Elisa, em 2019, que ela se sentiu realmente sozinha, sem ter com quem compartilhar a saudade.
“Era como se colocassem um elefante na sala [expressão usada para se referir a um assunto que é evidente, mas que não se quer discutir]. As pessoas ficam sem jeito, sem saber o que dizer”, explicou.
‘Cartas a minha mãe morta’ foi escrita e interpretada por Ana Carolina Borges, de 33 anos
Redes Sociais e Héctor Manchego
Sem nenhuma pretensão, Ana começou a escrever cartas endereçadas para a mãe. Nelas, contava sobre o luto e até acontecimentos cotidianos.
A atriz sabia que os recados nunca chegariam fisicamente à destinatária, mas eram uma forma de dar evasão aos sentimentos e preencher a presença que lhe faltava.
Cartas a minha mãe morta
Ana escreveu aproximadamente 20 bilhetes nos primeiros meses após a perda da mãe. Um ano depois, ela os encontrou durante uma faxina no quarto. “Quando eu reli essas cartas, eu percebi que sem querer eu tinha documentado a minha trajetória no luto depois da morte da minha mãe. Ali, tinha uma história”.
Diante disso, a artista decidiu tirar o elefante da sala e colocá-lo em cima do palco. O conteúdo dos textos foram transformados na peça de teatro ‘Cartas a minha mãe morta’, que mergulha nas profundezas do luto durante os cuidados paliativos e depois da morte do ente querido.
Atriz Ana Carolina Borges, de 33 anos, foi premiada pela peça ‘Cartas a minha mãe morta’
Redes Sociais
“Eu acho que ela [mãe] acharia [a peça de teatro] demais e foi uma forma de expressar o luto. O significado [da morte] continua o mesmo, acho que foi uma forma de fazer uma limonada com os limões que a vida me deu”.
Sucesso
Ana estreou a peça em 2022 e, desde então, tem lotado teatros em Londres. Ela, inclusive, ganhou o prêmio Guia Londres Awards 2023 e foi finalista do Standing Ovation 2022, além de ter a peça citada em diversos veículos de comunicação da imprensa da Inglaterra.
“Eu não esperava que esse trabalho tivesse uma resposta tão positiva”, afirmou a artista. “O luto não é um tema fácil de vender para as pessoas. ‘Vamos ali assistir uma peça sobre luto?’, as pessoas não ficam muito afim, mas eu tive uma resposta incrível”, destacou ela.
Itens usado pela atriz Ana Carolina Borges durante a peça ‘Cartas a minha mãe morta’
Marcela Pierotti/TV Tribuna
Como passaria as festas de final de ano no Brasil, os amigos de Ana pediram para ela traduzir a peça para o português. Neste mês, a atriz fez apresentações em São Paulo e em Santos, que também foram sucessos de bilheteria.
“Senti que era a hora. Senti muita vontade de apresentar aqui no Brasil, na minha língua, na minha cidade, a cidade que a minha mãe nasceu e morreu”, afirmou Ana. “Foi uma confirmação que o texto também funciona em português e tem toda uma emoção diferente porque, na plateia, eu vejo pessoas que realmente estavam no velório da minha mãe”, finalizou.
Luto
A experiência de perder alguém próximo e querido traz à tona a sensação de impotência pela falta de controle sobre a vida e, inevitavelmente, o luto. Mas, na prática, segundo especialistas, o luto ocorre quando um vínculo afetivo é rompido de forma abrupta.
Geralmente, ele está associado à perda de uma pessoa querida. Mas, também pode ocorrer ao término de um relacionamento amoroso ou com a perda do emprego, por exemplo.
De acordo com psicólogos ouvidos pelo g1, é justamente por essa necessidade de se adaptar a uma nova realidade e encontrar forças para seguir em frente, que viver o luto é importante. O processo de luto tem cinco fases:
Negação
As pessoas rejeitam a realidade da perda e tendem a se isolar.
Raiva
A pessoa pode enfrentar sentimentos como culpa, medo, angústia e raiva, com pensamentos desconectados da realidade e atitudes de autocrítica.
Barganha
A pessoa tenta reverter a perda, buscando milagres ou mudanças, o que pode levar a promessas vazias e à retomada de relacionamentos tóxicos.
Depressão
Se enfrenta a dor da perda, e, se a tristeza excessiva persistir, pode ser necessário buscar ajuda profissional para evitar transtornos depressivos.
Aceitação
A última fase do luto é a aceitação, quando a pessoa está pronta para seguir em frente definitivamente.
Luto: entenda quais são as fases e como lidar com as perdas
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