Santa Catarina lidera a produção de cebola no Brasil, com um valor bruto anual que ultrapassa os R$ 370 milhões. No coração dessa cadeia produtiva está o município de Ituporanga, no Alto Vale do Itajaí. Com quase 5 mil hectares de área plantada, a cidade conquistou o título de Capital Nacional da Cebola, reflexo da qualidade e da organização dos produtores locais.
A importância da cebola para a economia catarinense vai além dos números. Cultivada, em grande parte, por agricultores familiares, a hortaliça é fonte de renda para mais de 8 mil famílias da região. O ciclo de produção envolve dedicação intensa e um compromisso que atravessa gerações, consolidando uma vocação agrícola e uma economia pulsante no campo.
Tradição que passa de geração em geração
No campo, o trabalho manual predomina. Em propriedades como a de Dona Zita e Seu Valdonir Hoffmann, todas as etapas do cultivo, da colheita à cura, são feitas com dedicação. A cura, etapa essencial que evita fungos e prolonga a durabilidade da cebola, demanda paciência e um ritmo constante. Enquanto as fileiras de cebola descansam sobre a terra, protegidas pelas próprias folhas, o suor e a perseverança das famílias garantem o sucesso da safra.
“É bastante cansativo assim, mas é um trabalho compensador, porque é uma atividade que a gente gosta mesmo e a gente faz com muito amor e carinho mesmo”, compartilha Dona Zita. Para ela e o marido, o sustento da família vem da terra, e o legado é claro: dos seis filhos, três se tornaram engenheiros agrônomos, mantendo viva a tradição agrícola.
Ricardo, o mais jovem da família, já planeja o futuro da propriedade com a aquisição de novas máquinas. “A mesma terra que deu sustento pro meu pai, o mesmo local. Esse chão pode trazer o sustento para a minha família e, no futuro, para os meus netos e bisnetos” – afirma. E completa ressaltando a importância de investir em qualidade e modernização para continuar crescendo.
Pesquisa e tecnologia: sementes que garantem o futuro
A produção de cebola em Ituporanga alcançou novos patamares com o apoio da Epagri e de instituições de pesquisa como a UFSC. Trabalhos científicos em sementes híbridas têm revolucionado o setor, criando variedades mais resistentes ao clima e com maior potencial produtivo.
No campo experimental da Epagri, Lucas Rauber e Leonardo Giovanetti, pesquisadores da UFSC, testam alternativas sustentáveis de manejo. A área, livre de agrotóxicos desde 2009, comprova que a produção orgânica é possível, atingindo até 25 toneladas por hectare.
Lucas, doutor em ciência do solo, explica que a infiltração da água é um processo hidrológico essencial para atenuar impactos econômicos, ecológicos e sociais, tanto da falta como do excesso de chuvas. Essas pesquisas são fundamentais para garantir a sustentabilidade e a adaptação das culturas às mudanças do clima.
Turismo rural: novas oportunidades no campo
Em Ituporanga, o sucesso da cebola extrapola as lavouras e se reflete no crescimento do turismo rural. Famílias agricultoras têm transformado suas propriedades em destinos para visitantes interessados em vivenciar a rotina do campo e saborear as delícias produzidas na região.
No Sítio Eger, o cultivo de morangos foi incorporado à produção de cebola, criando uma renda extra e atraindo turistas. Sandra Eger lembra que a ideia surgiu do desejo de diversificar as atividades. Ela conta que a safra de cebola e fumo era anual, e o morango permitiu uma renda constante. Hoje, eles oferecem café colonial e criaram novas receitas com os produtos vindos da roça.
Já na agroindústria da família Roling, a inovação ganhou destaque com a criação da primeira cebola defumada do Brasil. Marlene Roling, responsável pela receita, persistiu por meses até alcançar o sabor perfeito. “Acho que é um orgulho, né? Porque é a primeira que tem no Brasil, defumada assim. É uma coisa nova, uma receita nova, que não tinha”, diz. A produção diária já ultrapassa 4 mil vidros, com vendas em crescimento.
Festa da Cebola: tradição e economia
Todos os anos, em abril, Ituporanga celebra o sucesso da safra com a Festa da Cebola, evento que reúne milhares de visitantes e movimenta a economia local. Em sua última edição, mais de R$ 150 milhões em negócios foram gerados, comprovando o potencial turístico e econômico da cultura.
O evento, que começou em 1980, integra lazer, cultura e agricultura, valorizando o trabalho dos produtores e atraindo olhares para a região. Hoje, a cidade conta com 103 empreendedores ligados ao turismo, oferecendo experiências em sítios, cafés coloniais e roteiros no campo.
Cebola que alimenta e inspira
Além de movimentar a economia e impulsionar o turismo, a cebola catarinense cumpre um papel social importante. Na merenda escolar de Ituporanga, os alimentos produzidos pela agricultura familiar abastecem as escolas, garantindo qualidade e conexão com o campo.
“Todo ser humano tem que ser bem alimentado, mas a criança em especial é o nosso futuro. Eles têm que comer bem”, diz Dona Leonita, merendeira há 17 anos.
Com o equilíbrio entre tradição e inovação, Ituporanga transforma o trabalho de suas famílias em uma história de sucesso que vai além do campo. A pesquisa que impulsiona a produtividade, o cuidado no cultivo e o turismo que aproxima a cidade do Brasil reafirmam a força da Capital Nacional da Cebola, inspirando o desenvolvimento econômico e social de toda a região.
Quer saber mais sobre essa trajetória? Assista ao episódio completo do programa Agro, Saúde e Cooperação, um projeto do Grupo ND em parceria com a Ocesc, Aurora, SindArroz Santa Catarina e Sicoob.