Paula Morais, que atende em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, é suspeita de ter feito mais de 100 vítimas. Após a fraude ser descoberta pelo plano de saúde, os funcionários foram descredenciados e demitidos da empresa de energia. A Polícia Civil do Rio de Janeiro faz buscas, na manhã desta sexta-feira (20), no endereço da nutricionista Paula Carolina Morais, que é suspeita de estelionato, falsificação de documento e tráfico de drogas. Segundo as investigações, ela fraudava reembolsos de planos de saúde utilizando dados de funcionários da Light.
De acordo com polícia, Paula abria contas bancárias em nome de pacientes, pedia uma série de exames e medicamentos e recebia o reembolso do plano de saúde. Quando o plano de saúde afetado pelos crimes descobriu a fraude, efetuou o descredenciamento dos clientes. Em seguida, a Light demitiu todos os funcionários que foram vítimas da nutricionista.
A polícia já identificou 121 denúncias contra Paula Morais em diferentes delegacias. Apenas na delegacia de Nova Iguaçu, são 32 funcionários que dizem ter sofrido o golpe.
Falso reconhecimento facial
O golpe da nutricionista era bem elaborado, segundo os investigadores. Primeiro, Paula atraia clientes com a promessa de emagrecimento e ganho de massa muscular.
Ela oferecia um tratamento que incluía tudo, inclusive medicamentos e suplementos. Os pacientes contam que a armação começava logo na primeira consulta.
“Logo na entrada, a secretária dela solicitava pra gente o login e a senha do plano de saúde, para fazer o cadastro do reembolso assistido”, disse uma das vítimas que não quis se identificar.
“A informação que foi passada pra gente é que a gente teria um apoio administrativo da empresa da própria nutricionista, daquele grupo, para solicitar à Amil o valor que a gente seria cobrado pelo plano, de atendimento”, contou.
A Polícia Civil do Rio de Janeiro está investigando a nutricionista Paula Carolina Morais por suspeita de estelionato, falsificação de documento e tráfico de drogas.
Reprodução TV Globo
Sem saber, os próprios clientes aceitavam fazer uma foto, que na verdade era o reconhecimento facial do paciente para a abertura de uma conta bancária.
“A gente tem que dar o login e senha pra ela e que ela trata diretamente com a Amil. Os pedidos junto à Amil, é ela que faz diretamente. (…) E ela pega o telefone dela e reconhece a nossa. Tira uma foto do nosso rosto”, contou a vítima.
Além da foto para a abertura de uma conta bancária digital, a nutricionista e a mãe dela, que trabalhava como secretária, utilizavam o celular para uma nova foto e reconhecimento facial, dessa vez na segunda consulta do paciente. Nesse caso, ela utilizava a imagem para fechar o pedido de reembolso.
“A primeira foto é pra o início de um processo de abertura de conta digital, em nome da vítima, sem conhecimento dela. A vítima vai embora. Em uma segunda consulta, a vítima volta, ela faz o atendimento e alega que há necessidade de fazer um reconhecimento facial”.
“Tudo isso é feito no celular da Paula. Esse reconhecimento facial é para confirmar a abertura de conta em nome da vítima. Na maioria dos procedimentos, ela abriu uma conta sem conhecimento da vítima, para que recebesse o reembolso”, explicou o delegado Márcio Esteves, responsável pela investigação.
Segundo a polícia, com login e senha do plano de saúde, e com a conta aberta em nome do paciente, Paula começava a lançar no sistema exames que nunca foram feitos, em laboratórios que, de acordo com as investigações, eram de fachada.
“O reembolso é no valor de R$ 4,7 mil. É o valor padrão dos exames que ela pede. E aí o plano de saúde reembolsa na conta informada por ela. Ou seja, ela que recebe o reembolso total”, afirmou o delegado.
Medicamentos de uso controlado
As investigações mostram que a nutricionista Paula Morais também receitava e fornecia medicamentos de uso controlado, o que é ilegal.
Em uma troca de mensagens, a nutricionista e o paciente falam sobre a entrega de suplementos ligados à musculação, como proteína e creatina, além de vitaminas e duas substâncias que chamaram atenção da polícia: Durateston e Masteron. Os produtos são esteroides usados em terapias hormonais.
As investigações mostram que a nutricionista Paula Morais também receitava e fornecia medicamentos de uso controlado, o que é ilegal.
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Apenas um médico poderia receitar essas substâncias. Desde 2023, o Conselho Federal de Medicina proibiu a prescrição de terapias hormonais com finalidade estética e de desempenho esportivo.
Funcionários demitidos
As vítimas do golpe eram os planos de saúde e os funcionários da Light. Contudo, os trabalhadores ainda foram demitidos após o golpe ser descoberto.
Quando o plano de saúde descobriu a fraude dos reembolsos, descredenciou os beneficiários que eram atendidos pela nutricionista.
Sem plano de saúde, necessário para trabalhar na Light, a empresa demitiu os funcionários. Além dos casos investigados na delegacia de Nova Iguaçu, existem dezenas de outros registros em outras delegacias.
A Polícia Civil do Rio de Janeiro está investigando a nutricionista Paula Carolina Morais por suspeita de estelionato, falsificação de documento e tráfico de drogas.
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Com 20 anos de serviço prestado a empresa de energia, um dos funcionários demitidos tenta se recolocar no mercado de trabalho. Ele vem encontrando dificuldades por conta do golpe que tomou.
“Todas as empresas que tiverem o plano de saúde Amil, eu não posso trabalhar. Eu me sinto muito mal, envergonhado com tudo que está acontecendo, fora os danos materiais que eu tô tendo”, contou uma das vítimas.
O que dizem os citados
Em nota, a defesa de Paula Morais disse que a nutricionista não praticou nenhum ato criminoso que está sendo imputado pelos 32 ex-funcionários.
Os advogados afirmaram que não tiveram acesso integral a todos os registros de ocorrência. A defesa declarou ainda que Paulo Morais possui contrato de prestação de serviço com os pacientes que a procuram e que a nutricionista é inocente e está à disposição para elucidar os fatos.
O Conselho Regional de Nutrição disse que instaurou um processo administrativo para averiguar a denúncia.
Já a Amil disse que ao identificar comportamentos irregulares no uso do plano de saúde compatíveis com fraude, a partir de análise de notas fiscais, formalizou uma notícia-crime para autoridade policial.