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Dólar comercial atinge recorde e Banco Central realiza maior intervenção em 25 anos para conter cotação


O atual presidente e o que assumirá o Banco em janeiro de 2025 consideraram que não existe um ataque especulativo contra o real e que o país registrou neste fim de ano uma saída atípica de recursos. Roberto Campos Neto e Gabriel Galípolo
Reprodução/TV Globo
O dólar comercial chegou a atingir nesta quinta-feira (19) o valor recorde de R$6,30 – e levou o Banco Central a fazer a maior intervenção em 25 anos para segurar a cotação. O atual presidente e o que assumirá o Banco em janeiro de 2025 falaram com a imprensa. Eles consideraram que não existe um ataque especulativo contra o real e que o país registrou neste fim de ano uma saída atípica de recursos.
Foi a última entrevista do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. O substituto, Gabriel Galípolo, assume a presidência no dia 1º de janeiro. Segundo eles, uma troca de comando bastante tranquila, apesar de indicados por presidentes diferentes, Jair Bolsonaro e Luís Inácio Lula da Silva, e das críticas constantes de Lula ao trabalho de Campos Neto.
Os dois falavam com jornalistas enquanto o Banco Central atuava. O dólar comercial começou o dia pressionado. Às 9h15, o Banco Central fez um leilão – que já tinha sido anunciado na quarta-feira (18) – de 3 bilhões de dólares. Mas a cotação continuou subindo e chegou ao valor recorde de R$ 6,30.
Às 10h35, o BC fez outro leilão: de 5 bilhões de dólares. Foi a maior intervenção desde a adoção do câmbio flutuante, em 1999. A moeda americana passou a cair e fechou o dia a R$ 6,12.
Roberto Campos Neto afirmou que houve uma saída extraordinária de recursos do país neste fim de ano. E que, além das retiradas comuns por empresas, que se intensificam nesse período, o Banco Central também verificou uma saída maior de recursos por pessoas físicas.
Campos Neto repetiu que o BC tem como atuar para conter a alta.
“O Banco Central deve agir quando entende que tem alguma disfuncionalidade no fluxo por alguma operação pontual, uma saída que seja extraordinária ou por algum fator de mercado. O Banco Central tem muita reserva e vai atuar se for necessário, e a gente entende que, nesse fim de ano, tem fluxo atípico muito grande. Não tenho como te responder o que vai ser feito no futuro, mesmo porque a gente vai mapeando o fluxo ao longo do tempo”.
O futuro presidente do Banco Central também falou sobre a disparada do dólar. Gabriel Galípolo negou que seja resultado de um ataque especulativo coordenado do mercado financeiro.
“Não é correto tentar tratar o mercado como um bloco monolítico, como se fosse uma coisa só, que tá coordenada num único sentido. Basta a gente entender que o mercado funciona geralmente com posições contrárias. Só existe mercado se existe alguém comprando e vendendo. Então, toda vez que o preço de algum ativo se mobiliza em alguma direção, tem vencedores e perdedores. Acho que a ideia de ataque especulativo coordenado não representa bem”, pontua Gabriel Galípolo.
Os dois também comentaram o relatório trimestral de inflação, divulgado pouco antes da entrevista. No documento, o Banco Central projetou oficialmente novo estouro da meta, que, em 2024, é de 4,5%.
É a terceira vez, na gestão Campos Neto, que a meta de inflação será descumprida. Galípolo disse que o Banco Central vai manter a taxa de juros do país em um patamar mais restritivo para tentar controlar a inflação. Na última ata do Copom, o BC indicou que fará dois novos aumentos na taxa no início de 2025.
“Temos clareza de para onde estamos indo, dando passo que a gente deu. Já foi muito corajoso, a partir da materialização dos riscos, poder fazer sinalização para mais duas reuniões. O que vai acontecer dali para frente vamos ter que aguardar para ver como vai se desenrolar. Mas está bem claro em qual direção a gente deu esse passo, de caminhar para uma taxa de juros em patamar restritivo com alguma segurança”.
Roberto Campos Neto disse que nenhum país atingiu a meta de inflação em 2024 e afirmou que qualquer mudança no sistema de metas geraria danos para o país.
“Mudar a meta em períodos onde você está tendo descumprimentos de meta, na verdade, não ganha grau de liberdade. Perde grau de liberdade porque vai fazer com que o mercado sempre tenha a percepção que você vai mudar a meta quando você não está atingindo a meta. Então, o prêmio vai ficar maior à frente”, destaca Roberto Campos Neto.
Gabriel Galípolo disse que conversou nesta quinta-feira (19), por telefone, com o presidente Lula e que falaram sobre como a inflação é ruim para a população. Segundo o futuro presidente do BC, Lula disse ter confiança no trabalho da instituição.
Galípolo garantiu que o presidente jamais pediu a ele que desse ciência sobre medidas que irá implementar. Galípolo disse, também, que passou para o presidente a percepção do mercado financeiro sobre o pacote de corte de gastos em tramitação no Congresso.
Uma percepção, segundo ele, negativa. E reforçou que, para resolver a questão fiscal do país, é necessário um conjunto de medidas.
“Todos vocês sabem, mercado, academia sabem, que é muito difícil apresentar qualquer projeto, programa fiscal que vá ser uma bala de prata, que vá dar conta de endereçar todos esses problemas que existem no curto prazo, no curtíssimo prazo. Sinto isso nas conversas que tenho com o presidente Lula e com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad: um reconhecimento do diagnóstico de que existem problemas fiscais a serem endereçados no país. Depois, que nenhum programa que vai ser anunciado vá ser uma bala de prata, que vai dar conta de resolver. Esses programas devem ser, sim, uma demonstração do reconhecimento do problema e do diagnóstico e passos na direção correta”, afirma Galípolo.
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