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Trump processa jornal por publicar pesquisa que errou em resultado das eleições

Batalha em tribunais delineia como a relação hostil de presidente eleito com a mídia tradicional se intensificará no segundo mandato. A cruzada vingativa empreendida por Donald Trump contra a imprensa já se faz presente e atuante, a um mês de sua reestreia na Casa Branca. Ele está processando o jornal “The Des Moines Register”, de Iowa, e a respeitada pesquisadora de opinião Ann Selzer por “interferência descarada nas eleições”.
Três dias antes do pleito, em 2 de novembro passado, o jornal publicou a pesquisa Selzer, que, num resultado surpreendente, indicava a vitória da democrata Kamala Harris no estado, por uma vantagem de três pontos sobre o republicano.
No fim das contas, Trump venceu em Iowa, com diferença de 13 pontos. Mas o presidente eleito expressou, com uma briga judicial, sua raiva contra o entusiasmo gerado pela pesquisa entre os democratas. Ele alega que a sondagem não estava apenas errada, mas foi fabricada com intenção maliciosa.
“Custa muito dinheiro fazer isso, mas temos que endireitar a imprensa. Nossa imprensa é muito corrupta, quase tão corrupta quanto nossas eleições”, avaliou Trump, na segunda-feira, em entrevista coletiva.
Sem apresentar evidências, a equipe do presidente eleito responsabiliza o jornal e a pesquisadora, que se aposentou após as eleições, por obrigarem os republicanos a desviarem verbas e tempo da campanha para um estado que não oferecia riscos.
“Os réus e seus companheiros no Partido Democrata esperavam que a pesquisa criasse uma falsa narrativa de inevitabilidade para Harris na semana final. Em vez disso, a eleição de 5 de novembro foi uma vitória monumental para o presidente Trump tanto no Colégio Eleitoral quanto no voto popular, um mandato esmagador para seus princípios doAmerica First e a consignação da agenda socialista radical à lata de lixo da história”, alegam, no processo, os advogados do presidente eleito.
A ação judicial vai de encontro à Primeira Emenda da Constituição, que assegura aos americanos o direito à liberdade de expressão. Por isso mesmo, segundo especialistas, tem poucas chances de produzir resultados concretos.
“Se jornais e empresas de pesquisa forem processados por “práticas enganosas” porque publicam histórias e resultados de pesquisas que os políticos não gostam, os direitos da Primeira Emenda estão ameaçados. Errar em uma pesquisa não é interferência eleitoral ou fraude”, afirma a Fundação para os Direitos Individuais Expressão (Fire, na sigla em inglês), em sua página no X.
Trump costuma zombar de jornalistas e mantém uma relação hostil e conflituada com os veículos de comunicação. Tem por hábito referir-se às redes CNN, ABC, CBS e NBC como território inimigo e relatar claramente a preferência pelas mídias sociais.
Há outros precedentes delineados nesta campanha intensificada pelo presidente eleito contra a mídia tradicional. No mês passado, ele processou a CBS, alegando que a entrevista feita em outubro com Kamala Harris, no programa “60 Minutes”, foi editada para apresentá-la de forma positiva.
Trump fechou esta semana um acordo com a ABC News, no qual a empresa terá que pagar US$ 16 milhões em um caso de difamação contra a rede e o âncora George Stephanopoulos. O apresentador disse, numa entrevista, que Trump havia sido considerado responsável por estupro da escritora Jean Carroll, quando o júri anteriormente o acusou como responsável por abuso sexual. A ABC terá que pedir desculpas por isso e arcar com os honorários do processo.
As batalhas judiciais demarcam e anteveem um novo capítulo na relação de Trump com a mídia neste segundo mandato. O risco para os americanos é que copie a cartilha de aliados autoritários que asfixiam a liberdade de expressão e perseguem jornalistas somente quando não lhes convêm.
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