A montagem levou 18 meses para ficar pronta. Trabalho para mais de 200 pessoas. Exposição mergulha visitantes no universo de Ariano Suassuna
Uma exposição no Recife conduz os visitantes ao universo que inspirou um dos maiores escritores brasileiros.
Escritor, advogado, filósofo, artista plástico, professor. Ariano Suassuna é o personagem central de uma das maiores exposições imersivas dedicadas a um artista brasileiro.
Quem vai à exposição tem a sensação de estar entrando na casa onde Ariano Suassuna viveu por mais de 60 anos. A fachada lateral coberta de azulejos com três janelões é idêntica à original. A casa foi comprada com o dinheiro dos direitos autorais que o escritor ganhou com “O Auto da Compadecida”. A parede que também existe no casarão bem ao lado do jardim é uma espécie de mural com esculturas de Dona Zélia, a companheira de uma vida inteira de Ariano. Entrar por lá é como atravessar um portal.
Os amores de Ariano são o fio condutor. O maior de todos, por Dona Zélia, fez desabrochar o coração do escritor. Para ela, o simbolismo da romã. A união trouxe frutos: seis filhos, 15 netos e 13 bisnetos. As cores e a magia do circo – outra paixão – inspiraram a escrita e a alma dos personagens.
A Taperoá da infância, na Paraíba, com seus cenários e tipos populares, influenciou obras icônicas, como “O Auto da Compadecida”. A peça está representada pela cena do julgamento no céu e pela igreja.
‘O Auto da Compadecida’: peça está representada pela cena do julgamento no céu e pela igreja
Reprodução/TV Globo
Na sala, estão os desenhos originais que ele fez para o livro “A Pedra do Reino” e o último romance: “Dom Pantero no Palco dos Pecadores”. Memórias que o neto de Suassuna levou para a exposição que marca os dez anos da morte do autor.
“Meu avô dizia que o homem não nasceu para a morte. O homem nasceu para a imortalidade. A morte foi um acidente de percurso. A busca de todo artista deve ser a imortalidade por intermédio da sua obra”, diz João Suassuna, neto de Ariano Suassuna e criador da exposição.
Exposição no Recife conduz visitantes ao universo que inspirou Ariano Suassuna, um dos maiores escritores brasileiros
Reprodução/TV Globo
Lembranças trágicas que marcaram a infância também estão presentes. As gotas vermelhas remetem ao assassinato do pai, quando ele tinha 3 anos. A morte – que Ariano chamava de encantamento – é uma presença constante na obra do dramaturgo.
A montagem levou 18 meses para ficar pronta. Trabalho para mais de 200 pessoas.
“Toda a equipe nordestina. Então, vivenciou, se encantou e se emocionou vivendo a história de Ariano junto nesse projeto”, conta Jader França, diretor-geral da exposição.
A estética armorial de Suassuna, que junta elementos populares e eruditos, parece saltar dos livros.
“Vir aqui traz essa emoção. Você está aqui nesse ambiente e entende a história do autor”, diz o funcionário público Lucas Pereira.
Na sala de projeção, as referências, a narração, o jeito de ver o mundo aproximam ainda mais o mestre da literatura dos visitantes.
“Além do encantamento, é o fantástico. O fantástico em Ariano não é apenas uma cópia da realidade. Esse encantamento vem pelo fantástico”, afirma a professora universitária Adna Lopes.
Exposição no Recife conduz visitantes ao universo que inspirou Ariano Suassuna, um dos maiores escritores brasileiros
Reprodução/TV Globo
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