Diretora-executiva do movimento Vidas Negras com Deficiência Importam, Luciana Viegas afirma que, mesmo quando a luta pelos direitos de pessoas com deficiência está em pauta, resoluções não abrangem negros e periféricos. Menos de 1% da população negra com deficiência acessa a universidade pública no Brasil, diz pesquisa
Reprodução/Jota Marques
Um estudo realizado pelo movimento Vidas Negras com Deficiência Importam (VNDI) aponta que apenas 0,6% das pessoas negras com deficiência consegue acessar o ensino superior em universidades públicas do país.
O relatório foi divulgado neste sábado (15) durante o primeiro encontro nacional de pessoas negras com deficiência, realizado na sede da Uneafro, na cidade de São Paulo.
Segundo a diretora-executiva do VNDI, Luciana Viegas, a pesquisa demonstra que, mesmo quando a luta pelos direitos de pessoas com deficiência está em pauta, as resoluções acabam não abrangendo as pessoas negras e periféricas desse grupo.
“As políticas públicas pensadas para as pessoas com deficiência, além de enfrentarem uma grande relutância, também não abrangem a população negra e periférica. Esse relatório mostra que é necessário pensar em políticas públicas direcionadas a essa população”, explica.
Mulher, negra e autista, Luciana ressalta a importância da conscientização sobre as deficiências não visuais e aponta a necessidade de mais estudo nessa área.
“Nós não temos, no Brasil, um instrumento norteador que avalia deficiência, então ainda enfrentamos muitas dificuldades na conscientização sobre deficiências psicossociais. Aqui, quando a gente fala do TDAH [transtorno deo déficit de atenção e hiperatividade], esquizofrenia ou autismo, ainda são lidas como doenças e não como deficiência”.
Mulheres negras com deficiência
Outro dado alarmante que o relatório apresenta que é 42,9% das mulheres negras com deficiência estão mais vulneráveis a sofrer violência.
“Esses dados trazem pra gente uma realidade muito indicativa de que a população negra com deficiência está sendo sistematicamente apagada da história. Mas, se não tem dados demográficos, essa população não existe”, afirma a diretora do movimento
A pesquisa do VNDI ouviu a população de quatro estados brasileiros: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia.
Esses locais foram escolhidos a partir de um outro relatório, feito pela Human Rights Watch, que observou que muitas instituições de acolhimento no Brasil são espaços violentos para pessoas negras com deficiência.
Luciana Viegas (à esquerda) durante evento na Uneafro neste sábado (15)
Reprodução/Jota Marques
“O que nós observamos é que esse relatório não demarca raça. Entretanto, em todas as fotos e registros, a maior parte da população que está nesses espaços, são de pessoas negras. Então o relatório provocou a gente a ir nesses espaços e conhecer as pessoas, coletar esses dados pra entender o que está acontecendo”, explicou Luciana.
Criado durante a pandemia, o VNDI tem por objetivo estudar a atual realidade das pessoas negras com deficiência no Brasil e apontar propostas de inclusão para melhorar a vivência dessa população.
“O principal ponto é refletir as políticas públicas a nível nacional. Queremos refletir não só com o governo, mas também com a sociedade civil”, destacou ela.
O relatório sobre a “Situação das pessoas negras com deficiência no Brasil” também foi apresentado à ONU, no final de 2022.
Menos de 1% da população negra com deficiência acessa a universidade pública no Brasil, aponta pesquisa
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