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A luta de um filho pela legalização da eutanásia no Reino Unido

Ian Douglas, ativista pela assistência ao suicídio, mostra foto de seu pai que se suicidou em 2019 enquanto sofria de esclerose múltipla, em 15 de novembro de 2024, em LondresHENRY NICHOLLS

HENRY NICHOLLS

Ian Douglas, um engenheiro e economista londrino que sofria de esclerose múltipla, se suicidou em fevereiro de 2019, em um estágio muito avançado de sua doença. Desde então, seu filho Anil faz campanha para legalizar a eutanásia no Reino Unido.

Um projeto de lei sobre esse tema delicado, que divide a opinião pública britânica, será examinado na próxima sexta-feira pelos deputados da Câmara dos Comuns, por iniciativa de uma deputada da maioria trabalhista.

“Se a lei estivesse em vigor quando meu pai morreu, poderia ter tido uma morte muito mais segura e suave” e “poderíamos ter passado por isso emocional e psicologicamente juntos”, afirma Anil à AFP, em sua casa de Walthamstow, ao nordeste de Londres, recordando que seu pai não avisou a ninguém que ia se matar.

Na estante de sua sala, uma foto mostra sua mãe, que morreu por causa de um câncer em 2008, e seu pai, quando a doença não o havia debilitado muito.

“No momento de sua morte, estava verdadeiramente incapacitado, havia perdido sua dignidade corporal, suas funções básicas de mobilidade, sofria dores neurológicas muito intensas e muitos efeitos colaterais da doença”, se lembra Anil, de 35 anos.

“Mal podia levantar a mão para se alimentar”, acrescenta.

– Situação atual “perigosa” –

Seu suicídio, um dia antes de seu aniversário de 60 anos, foi um choque para toda a família.

Como o suicídio assistido é ilegal e punível com 14 anos de prisão, Ian se suicidou sem contar a ninguém próximo, comprando pílulas em segredo em um site.

“Ele era muito determinado e teimoso em não querer perder sua independência e suas habilidades físicas. Então eu acho que não é surpreendente que ele decidiu controlar o fim de sua vida”, explica Anil.

Os que se opõem à legalização do suicídio assistido temem que isso possa incitar as pessoas vulneráveis a acabar com suas vidas.

Mas para Anil, “a lei atual é perigosa. Ela os força [pessoas moribundas] a tomar decisões radicais, em completo isolamento, sem proteção. Isso é exatamente o que meu pai fez”, disse ele. Para ele, é “vital” que a lei mude.

Após sua morte, seus entes queridos descobriram que Ian tentou se matar duas vezes antes de conseguir, um final que os médicos atribuíram a problemas gástricos.

“O que ele fez foi obviamente um ato de recuperação da autonomia, mas também foi extremamente perigoso e arriscado”, devido à legislação vigente, considera Anil.

Nas horas após a morte, a polícia chegou na casa do pai de Anil, como é habitual em uma situação assim, e confiscou seu telefone, seu computador, e também os de Anil e sua irmã.

– A polícia olhava “com desconfiança” –

“Essa experiência foi muito traumática e perturbadora”, conta Anil, que lembra ter sentido a polícia olhar para ele “com desconfiança”.

Desde a morte de seu pai, Anil participa da associação Dignity in Dying (Dignidade ao morrer), que faz campanha no Reino Unido pela legalização do suicídio assistido.

Esta associação defende o projeto de lei apresentado pela deputada trabalhista, que prevê autorizar na Inglaterra e no País de Gales adultos que sofrem uma doença incurável e que tenham uma expectativa de vida inferior a seis meses, com autorização de dois médicos e um juiz, e que sejam capazes de tomar sozinhos os medicamentos que causariam a morte.

Um quadro rigoroso, muito mais do que o vigente, por exemplo, nos Países Baixos, na Bélgica ou no Canadá, e que contém “medidas adequadas de proteção contra a coerção”, defende Anil, que participou de vários encontros organizados pela Dignity in Dying nos últimos meses.

Anil se declara “otimista” e lembra que várias pesquisas recentes mostram o apoio da maioria dos britânicos ao suicídio assistido.

Na próxima sexta-feira, Anil voltará ao Parlamento quando os deputados debaterem o texto, esperando que sejam “corajosos”.

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