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Vídeos mostram momento em que funcionário da Embasa foi baleado por PMs; imagens e depoimentos contestam versão da polícia


Welson Figueiredo Macedo, de 28 anos, morreu após ser atingido com um tiro nas costas no bairro de Castelo Branco, em julho. Welson Figueiredo Macedo morreu após ser baleado com um tiro nas costas, em Salvador
Reprodução/Redes sociais
Embora a Polícia Militar afirme que o funcionário terceirizado da Embasa, Welson Figueiredo Macedo, de 28 anos, morreu após troca de tiros com agentes, câmeras de segurança mostram que o jovem estava desarmado quando foi baleado. O caso ocorreu em 9 de julho de 2024, no bairro Castelo Branco, em Salvador.
A TV Bahia obteve acesso, com exclusividade, a imagens que contestam a versão oficialmente apresentada pela força de segurança.
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Em nota divulgada à época, a PM disse que agentes da 47ª Companhia Independente (CIPM/Pau da Lima) faziam rondas na região, quando avistaram três suspeitos assaltando um casal. Com a aproximação, o trio teria atirado contra a viatura e fugido em seguida.
Momentos depois, a corporação teria recebido denúncias de que eles estavam no fim de linha do bairro. Com isso, teria ocorrido troca de tiros entre agentes e suspeitos, com um dos criminosos baleado. O suposto assaltante seria Welson, levado para o Hospital Eládio Lasserre, onde morreu durante uma cirurgia. Os militares teriam ainda apreendido com ele um revólver e munições de calibre 38, além da motocicleta.
Cerca de quatro meses após o crime, a TV Bahia reuniu informações que contestam os relatos policiais. Tanto imagens da área quanto os depoimentos das vítimas do assalto indicam que Welson não estava armado. Confira:
O que mostram as imagens
➡️ De acordo com a Embasa, o funcionário trabalhou regularmente o dia inteiro na terça-feira de 9 de julho. Registros da empresa mostram que ele deixou o posto de trabalho às 19h18, pilotando uma moto e com um colega na garupa.
➡️ Um outro vídeo, às 19h46, mostra Welson sozinho, trafegando pela praça de Castelo Branco após deixar o amigo em casa. Foram apenas quatro minutos entre o ponto onde ele deixou o parceiro e foi interceptado pela polícia na Rua Caminho 35.
➡️ O relógio marcava 19h50 quando Welson foi visto desarmado e recebendo o tiro. Pelas imagens, é possível ver que a vítima levanta uma das mãos no momento em que policiais e a viatura se aproximam.
➡️ Depois, às 19h52, um dos agentes levanta a moto e coloca o veículo no canto da pista.
➡️ Na sequência, os agentes mudam a posição de Welson e suspendem a camisa de Welson. Oito minutos se passaram até que a viatura da 47ª CIPM/Pau da Lima se movimentou e uma segunda viatura, dessa vez da 22ª CIPM/Cajazeiras chegou ao local.
➡️ Somente às 19h59, Welson foi colocado no carro dessa segunda equipe, que não participou da ação inicial. Às 20h, exatos 10 minutos após o disparo, ele foi levado para o Hospital Eládio Lasserre.
➡️ O trabalhador chegou vivo à unidade de saúde, passou por cirurgia, mas veio a óbito às 21h20. A perícia aponta que a causa da morte foi traumatismo abdominal provocado por arma de fogo.
O que apontam os depoimentos
O médico que atendeu Welson confirmou que ele deu entrada no hospital com a farda e crachá da Embasa. De acordo com o profissional de saúde, o jovem estava acordado e consciente, mas não chegou a dizer quem disparou o tiro. Policiais militares estavam presentes no momento do atendimento.
A TV Bahia também obteve acesso ao inquérito policial, que ainda está em andamento, mas já indica divergências nos depoimentos dos militares. Os PMs afirmaram que a viatura usada na ocorrência estava danificada e sem condições de trafegar até o hospital, por isso teriam acionado a 22ª CIPM/Cajazeiras. Porém, o veículo da 47ª CIPM/Pau da Lima percorreu 4,5 km até a base policial — a distância entre a Rua 35, local da ocorrência, e a unidade de saúde era menor: 4,2 km.
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Os agentes também disseram em depoimento que, após o confronto com os suspeitos e o pedido de socorro, várias pessoas teriam se aproximado do local, entre elas as vítimas do roubo. De acordo com os militares, a mulher roubada teria reconhecido o trabalhador baleado como um dos autores do crime ao apontar e dizer: “Foi ele, foi ele”.
No entanto, o casal que teve a moto roubada não confirmou essa versão em depoimento. O rapaz disse que foi questionado se o homem caído era o ladrão, mas respondeu que não sabia. Ele disse que os militares, então, afirmaram que Welson estava junto com os outros suspeitos.
Já a moça declarou: “Nem cheguei perto do homem que estava ao solo. Só passei perto ao atravessar, mas nem olhei para o rosto dele. Em nenhum momento, os policiais mostraram alguma arma que estaria com o homem ao solo nem outros objetos. Não tenho como afirmar que o indivíduo que estava ao solo foi um dos autores do roubo que sofri”.
Além disso, a perícia da Polícia Civil não encontrou cartuchos de munição ou vestígios de troca de tiros.
Diante dos fatos que vieram à tona, a TV Bahia voltou a procurar as forças de segurança. Em nova nota, a Corregedoria da Polícia Militar instaurou um “feito investigatório” para apurar as circunstâncias da ocorrência.
A Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) disse que determinou a apuração do caso que envolve a morte do jovem e reforçou que a Corregedoria e o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil investigam a morte.
Comoção na despedida
O sepultamento do corpo de Welson foi marcado por homenagens e indignação por parte de colegas e parentes diante da morte.
Welson deixou esposa e um filho de oito anos
Reprodução/Redes sociais
Dois dias após o óbito, em 11 de julho, eles saíram em carreata, pedindo justiça pelo trabalhador. O grupo foi recebido pela Corregedoria da Polícia Militar, ocasião em que cobrou celeridade nas investigações.
Welson era natural de Ipirá, a cerca de 100 km de Salvador, mas morava na capital baiana há anos. Há 12 anos, ele trabalhava na terceirizada da Embasa. O rapaz deixou esposa e um filho de 8 anos, o pequeno Arthur.
Em entrevista a TV Bahia, nesta terça-feira (26), a mãe e a viúva do jovem destacaram a dor com a perda. “Eu perdi a alegria de viver e ser feliz. Procuro e não me acho”, disse a mãe do rapaz, Edilene. Ela e os demais familiares lutam para que ele seja reconhecido como inocente e vítima, e não um suspeito criminoso.
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