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Confeiteiros falam sobre lucros em datas sazonais e desafios longe das datas comemorativas: ‘Desanimador’


Antes da chegada de uma das melhores épocas do ano para os confeiteiros autônomos, é preciso lidar com uma dificuldade: a criação de estratégias para a ausência de datas festivas que precede o fim de ano e, consequentemente, uma queda nas demandas mensais. Casa de biscoito produzido pela confeiteira Élika Borges
Élika Borges
O Natal está chegando e, com essa data especial, diversos confeiteiros sazonais de Sorocaba (SP) já estão iniciando a produção de biscoitos personalizados e panetones caseiros.
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Durante o Natal, a procura por panetones caseiros costuma aumentar. Alguns consumidores optam por fugir das produções industrializadas para presentear familiares e amigos com panetones artesanais, que possuem uma maior variedade e decorações que saem do padrão.
No entanto, antes da chegada de uma das melhores épocas do ano para os confeiteiros autônomos, é preciso lidar com uma dificuldade: a criação de estratégias para a ausência de datas festivas que precede o fim de ano e, consequentemente, uma queda nas demandas mensais.
O g1 conversou com três produtores da área de confeitaria que atuam na região de Sorocaba (SP) para falar sobre como os empreendimentos funcionam e como eles lidam com este desafio.
Um deles é Renato Mieko Nigro, um pequeno empreendedor do ramo da confeitaria. Ele conta que divide os negócios com outro emprego em uma indústria da região e enxerga seu empreendimento como um hobby.
Renato já iniciou os preparativos para a comercialização de panetones decorados e recheados, porém, destacou o descontentamento com o faturamento. “Infelizmente estamos enfrentando a baixa demanda pelo ano todo. A inflação está fazendo com que os clientes comprem cada vez menos. Por isso, eu procuro deixar guardado 50% de minhas vendas anteriores”, explica.
Panetone recheado feito por Renato
Renato Mieko Nigro
Outro problema apontado pelo empreendedor é o aumento do preço da matéria-prima. Com problemas financeiros, ele ainda não conseguiu criar uma dinâmica que o ajude a simular os custos da produção.
“Infelizmente os preços da matéria-prima sobem mensalmente. Por isso, fica difícil seguir uma planilha. Até tentei no passado, mas infelizmente é desanimador”, desabafa.
Mesmo com meia década de experiência na área, Renato afirma que não pretende seguir o caminho dos doces. “Eu sou uma pessoa apaixonada por meus doces, mas eu, sinceramente, não dependo só da minha culinária e nunca pensei em criar produtos permanentes. Tenho outro emprego em uma indústria”, conta.
Renato é conhecido no bairro como o ‘rei das carolinas’
Renato Mieko Nigro
Durante o resto do ano, Renato costuma produzir outros tipos de doces que não são tradicionais em datas festivas. A demanda é com base nas encomendas feitas pelos clientes.
“Eu trabalho por encomendas, portanto, eu não faço muito estoque devido à validade dos produtos. Meu carro-chefe são as carolinas, algumas pessoas do bairro me chamam de ‘rei das carolinas’. Também trabalho com baguetes e tortas”, explica.
Apesar de ser bastante requisitado no bairro onde mora, ele explica que precisa lidar com as consequências da redução do poder de compra que os consumidores vêm sofrendo nos últimos anos e, por isso, não é possível traçar um perfil da clientela dele.
“As mudanças de clientes são frequentes, pois as condições financeiras de cada consumidor fazem com que muitos parem de fazer as encomendas”, diz.
Renato produz outros tipos de doces durante o ano
Renato Mieko Nigro
Novo negócio
Carla Sales Pinto Coelho trabalha com uma linha de produção em escala média, que mistura produções artesanais com produções em média escala. Ela costuma trabalhar com ovos de Páscoa e, agora, iniciou as vendas de panetones artesanais.
Apesar de já ter um negócio consolidado, ela destaca o mesmo problema vivenciado por Renato: a crise financeira.
“Nós guardamos um dinheiro para produção do ano, mas é um caixa pequeno de fluxo baixo, ela serve apenas para fazer o lançamento. O valor é baixo por conta da crise financeira que o Brasil vem enfrentando”, conta.
Ovos da Páscoa produzidos pela confeiteira
Carla Sales Pinto Coelho
Para dobrar estes desafios, a confeiteira utiliza outras estratégias para vender durante o ano: enquanto há confeiteiros que produzem somente por encomendas, ela produz doces em pequena escala para exibir em vitrines.
“Tem uma estratégia que nós confeiteiros chamamos de ‘faça e venda’. Por exemplo, o confeiteiro coloca na vitrine pães de mel, trufas, bolo no pote, donuts, cones, carolinas. São produtos pequenos que o cliente pega e come ou entrega de lembrança”, explica.
Outros doces produzidos pela confeiteira
Carla Sales Pinto Coelho
O preço dos ingredientes é um dos principais desafios dos confeiteiros durante o ano. Segundo Carla, sua estratégia para garantir a produção dos seus doces é a mesma adotada por muitos brasileiros: pesquisa.
“O valor dos ingredientes é muito alto, como, por exemplo, o chocolate. O chocolate é a base dos meus produtos, por isso, tenho que sair da cidade para ir atrás de promoções”, conta.
Apesar de estar perto do fim do ano, Carla se inspirou em sua professora de confeitaria e lançou uma variante de ovos de Páscoa.
“Se chama quebra-quebra. É uma placa de chocolate recheada com vários tipos de sabores. Vendemos em porções pequenas e em potinhos, com sabores de prestígio, brigadeiro, pistache e outros. Foi uma sensação na Páscoa e continuou mesmo depois”, conta.
Quebra-quebra, uma variação do ovo de Páscoa
Carla Sales Pinto Coelho
🍬 Aumento na procura
Na contramão dos outros dois empreendedores, Élika Borges diz que não sofre com a ausência de datas comemorativas pois não vive apenas de doces temáticos, como os panetones que costumam ser vendidos no Natal.
A confeiteira é dona de uma doceria que produz apenas biscoitos personalizados para todas as datas comemorativas. O empreendimento da confeiteira tem uma produção mais complexa e em escala maior.
“Os biscoitos personalizados são versáteis, atendem diversos segmentos. Pode ser para presente, aniversário, casamento, decoração de mesa posta, chá de bebê, chá de cozinha, corporativos, todo tema é possível ser transformado em biscoitos”, explica.
Casa de biscoito produzido pela confeiteira
Élika Borges
A doceria se mantém estável durante o ano todo por meio de encomendas com temas diversos. Os biscoitos têm desenhos variados cravados por glacê.
“Vendemos os biscoitos o ano todo, não dependemos das datas sazonais, apenas aumentamos a demanda nesses períodos. A diferença é que, em épocas festivas, como Natal, há um aumento na procura em torno de 50%”, conta.
A confeiteira conta que o planejamento financeiro é feito de forma estratégica e já é iniciado no começo do ano.
“Consideramos o aumento de demanda nos períodos comemorativos em aproximadamente quatro meses de antecedência. Buscamos embalagens, fitas e tags que sejam próprias para cada época. Por se tratar de produtos personalizados, por si só, o produto já é o diferencial”, diz.
Biscoitos personalizados para o natal
Élika Borges
Apesar da produção em larga escala, o local onde são feitos os biscoitos ainda é um ambiente caseiro.
“No momento, nosso espaço é pequeno e precisamos enviar de imediato tudo que é produzido. Nossos pedidos são firmados com antecedência. Sendo assim, não precisamos manter grandes estoques e mantemos os ingredientes sempre frescos.”
Em contraponto com os outros dois confeiteiros, Élika conta que não sofre com a mudança dos clientes que deixam de comprar os doces por conta da falta de dinheiro.
“Temos uma clientela que já nos procura e nos indica. As redes sociais também nos trazem bastante retorno. Mas, por serem produtos com demanda o ano todo, em muitas ocasiões, é necessário recusar pedidos”, finaliza.
Demonstração de um dos biscoitos personalizados que são pedidos durante o ano todo
Élika Borges
*Colaborou sob supervisão de Gabriela Almeida
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