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VÍDEO: com histórias de mortes e suicídios, prédio no Centro de SP vira casa do terror para ‘caçadores de medo’


Edifício Rolim, na Praça da Sé, agora se torna a primeira ‘casa do terror’ da cidade, com ingressos a R$ 99 em uma espécie de escape room do medo. O g1 visitou o local. Por que um prédio no centro de São Paulo virou atração de terror?
Quando se chega à região da Praça da Sé, no Centro de São Paulo, quase todos os edifícios ficam ofuscados pela Catedral, com exceção de um com uma cúpula gigante: o Edifício Rolim.
Projetado em 1928, em um terreno onde ficava a igreja de São Pedro da Pedra, o local já foi um prédio residencial, depois comercial, ficou abandonado por anos e, agora, virou um espaço voltado para o entretenimento de terror.
Isso mesmo: terror! O objetivo que levou a essa transformação fez com que mais de 2.000 ingressos — no valor de R$ 99 cada, com direito a para passar 1 hora sendo assustado por atores — fossem vendidos antes mesmo da inauguração, no dia 31 de outubro.
“É uma coisa fora da nossa realidade, mas talvez algo que poderia ser uma possibilidade? Não sei. Gosto de filmes e literatura do gênero terror. Acho um mundo fascinante. Quando você sai [da experiência], sai com aquela sensação de ‘eu venci'”, afirma Paula Nascimento, agente aeroportuária, que visitou a atração.
O g1, que também adora tomar um sustinho 👻 (lembra dos fantasmas no Copan?), visitou o local.
Edíficio Rolim, no Centro de SP.
Luiz Franco/ g1
O prédio tem 13 andares; 7 deles foram transformados em uma espécie de escape room;
O “passeio” começa na recepção, onde os visitantes encontram um guia turístico do hotel – que também é um ator. Nesse local, eles assinam um termo de responsabilidade para participar do jogo;
Durante o trajeto, os visitantes são inicialmente apresentados à história do prédio;
Conforme sobem de andar, são inseridos em uma história de terror e começa uma correria para tentarem se “salvar”;
O passeio é feito em grupos de 10 pessoas, com duração de 1 hora. Todos os grupos são acompanhados por um guia;
Mais de 20 atores ficam responsáveis por botar medo em quem topa o desafio. Quem não aguentar pode falar uma palavra-chave e sair do jogo;
Já quem sobreviver é recompensado com um bar, no último andar que, obviamente, é pago à parte.
A ideia de transformar o Rolim em um ambiente de terror foi do empresário Facundo Guerra, um nome já conhecido na noite de São Paulo. Seu sócio comprou o prédio e, inicialmente, queria que o edifício se tornasse um hotel.
“O Rolim estava abandonado havia pelo menos 30 anos. Meu sócio comprou o prédio por uma ninharia para fazer um hotel. No entanto, quando entrei aqui, percebi que estava muito deteriorado. Além disso, a Praça da Sé, apesar de ser pacífica, carrega estigmas e preconceitos. Portanto, seria difícil convencer as pessoas a se hospedar aqui”, afirmou Facundo.
Entrada do prédio.
Luiz Franco/ g1
A estrutura do prédio estava tão danificada que não compensaria fazer uma reforma no local, segundo Facundo. Foi então que nasceu a ideia de usar o abandono para criar uma história de terror.
“Ele é um prédio difícil: as portas são baixas, o pé direito é baixo. Do ponto de vista interno, não havia nada muito notável. Ele é lindo por fora, com a cúpula que chama atenção, mas internamente não havia nada precioso, pois foi desfigurado ao longo dos anos. Então, partimos da história da decadência do próprio Rolim para contar uma história”, disse Facundo.
“Quando fizemos uma pesquisa histórica do local, descobrimos que, ao longo das décadas, ocorreram feminicídios e suicídios aqui no prédio – claro que não é uma característica exclusiva dele, especialmente no Centro. A partir disso, pedimos para uma escritora criar um livro de contos baseados em fatos reais. Então, surgiu um livro de terror sobre os crimes que ocorreram aqui. Unimos fato e ficção e criamos um universo narrativo que envolve o Rolim.”
Algumas paredes internas do edifício foram derrubadas, e a equipe investiu em cenografia. Segundo a Prefeitura de São Paulo, o Rolim é tombado desde 2015 por fazer parte do perímetro do Pátio do Colégio.
Marianna Al Assal, historiadora e professora da Escola da Cidade, explica que esse tipo de tombamento se deve às características externas do prédio, e não ao seu valor como bem.
“Ele é parte de uma paisagem urbana, por isso é tombado. Não pelas suas próprias características. Existe um processo no Compresp atualmente pedindo restauração das fachadas e transferência do potencial construtivo.”
Todas as mudanças feitas pela experiência de terror no local foram aprovadas pelo órgão de tombamento.
Facundo Guerra, responsável pelo Rolim.
Luiz Franco/ g1
Para Marianna, a transformação do prédio em um espaço de terror tem prós e contras.
“Por um lado, é interessante trazer para essa região, sobretudo da Sé, a vida noturna, com acontecimentos, bares, eventos e pessoas circulando. Pois são essas questões que dinamizam a cidade, tornando esses espaços locais menos perigosos e aptos para uso em diversos horários, e não apenas em um horário específico, como ocorre atualmente na região.”
No entanto, segundo a historiadora, o lado negativo é que o tipo de atividade no prédio pode estigmatizar ainda mais o local e a região, justamente pelos temas tratados na ação.
“Você pega a casca de um edifício e, dentro dela, constrói uma peça que poderia estar ali ou em qualquer outro lugar, como um prédio na Faria Lima, por exemplo. As imagens recompõem para outros usos, então não vejo que essa reconstrução tenha um efeito educativo”, afirma.
Como é a experiência?
Edificio Rolim.
Luiz Franco/ g1
O g1 participou da experiência no dia 7 de novembro com outras 8 pessoas. Antes do início do passeio, os visitantes assinam um termo de responsabilidade e respondem um questionário sobre histórico de problemas de saúde.
Não é permitido levar bolsas, relógios e celulares no tour. Todos esses objetos ficam na recepção do prédio. O trajeto pelos andares é feito a pé, ou seja, é necessário subir os sete andares de escada (e, em alguns momentos, até rastejar).
Os grupos fazem o tour a cada 30 minutos. Enquanto um grupo está andando pelo prédio, os gritos são transmitidos por caixas de som para quem está na recepção. Desde a inauguração, o local recebe, em média, 60 pessoas por dia.
O elevador é usado apenas para que os clientes desçam do bar para ir embora ou fumar. Atualmente, os visitantes não podem subir diretamente para o estabelecimento sem passar pela experiência de terror.
Funcionário do Rolim, que fica no elevador.
Luiz Franco/ g1
O tour começa com o guia contando curiosidades sobre o edifício e histórias de três pessoas que viveram e morreram no local – segundo Facundo, histórias reais.
Ator que faz o guia do Rolim.
Luiz Franco/ g1
No segundo ambiente do prédio, o visitante é inserido em uma história de ficção sobre uma invasão zumbi na capital. A partir desse momento, as portas começam a bater, é possível ouvir passos fortes e o espaço é invadido por um zumbi (ator) que persegue os visitantes, direcionando o grupo para uma sala ainda mais escura.
Nessa sala, o guia passa uma palavra-chave e alerta que, a qualquer momento, quem não se sentir confortável pode sair do jogo.
Teto de uma das salas da atração
Luiz Franco/ g1
Até 7 de novembro, 30% dos visitantes haviam desistido da experiência antes de concluir o trajeto. Facundo acredita que isso ocorre por conta do medo, mas também ressalta que o ambiente do Rolim não é dos mais confortáveis do mundo para se estar.
Toda a experiência é feita a pé, então é bastante cansativa.
O local é extremamente quente e escuro, obviamente para facilitar os sustos.
Sem spoilers… mas a atuação dos funcionários também é um show à parte e faz com que os visitantes gritem bastante.
As pessoas não podem ser tocadas pelos atores durante a experiência, mas podem ficar bem próximas.
Caçadores de medo
Quem participou do tour com o g1 afirmou que procurou a atração justamente pela sensação de medo.
“Sou apaixonada por eventos de terror e achei a experiência maravilhosa. Fiquei com medo real, tremi na base. Esse tipo de experiência me atrai muito; eu gosto de sentir medo. A gente está sempre cheio de problemas, e coisas desse tipo me tiram da rotina. O que nos assusta faz voltar uma adrenalina para o corpo”, afirma Gabriela Stefano, que trabalha com eventos.
Gabriela e os amigos compraram os ingressos há dois meses.
Davi Rodriguez Ruivo Fernandes, especialista em psicanálise e membro do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, afirma que atividades que despertam medo, como esportes radicais, montanhas-russas ou até mesmo assistir a um filme de terror, desencadeiam uma poderosa resposta de “luta ou fuga”.
“Quando nos expomos a essas situações, o corpo libera uma enxurrada de adrenalina, preparando-nos para agir rapidamente. Ao mesmo tempo, há a liberação de endorfinas e até euforia. Para muitas pessoas, essa combinação química se torna uma experiência prazerosa. É como se o corpo estivesse recompensando a coragem de enfrentar o perigo, mesmo que ele seja imaginário”, afirma.
Ainda segundo o especialista, algumas pessoas buscam experiências que causam medo “como uma forma de se sentirem mais corajosas ou de enfrentar desafios que, de certa forma, podem espelhar seus próprios medos internos”.
Essa vontade de se sentir “corajosa” é o que leva Paula Nascimento a atrações que têm o terror como tema e, também, como uma forma de superar seus medos reais.
“A maior experiência de terror que eu passei foi ter sido assaltada. Então, eu acho que algo assim é o que me dá mais coragem. Você sai com aquela adrenalina, aquela sensação de ‘eu venci, não é tão ruim’ como parece. Então, é algo que me dá coragem, sabe?”, afirma.
Realidade e ficção
Facundo alega que ocorreram ao menos 19 assassinatos e dois suicídios no Rolim durante seus anos de funcionamento. Todos os personagens citados na experiência também existiram.
“Tudo o que usamos como base de história é verdade. Até encontramos uma manchete de uma história de tábuas de peroba voando daqui [Rolim] em direção à Praça da Sé. Então, é um lugar um pouco tenso”, afirma.
Arquivo encontrado por Facundo.
Luiz Franco/ g1
“São Paulo é uma cidade muito verticalizada e voltada para dentro, então qualquer edifício tem histórias de morte. Como é um edifício com mais de 100 anos, é óbvio que morreram pessoas aqui. Antigamente, as leis permitiam mais – como a defesa da honra. A sociedade era muito mais violenta há 100 anos do que hoje. Não é uma particularidade do Rolim, mas de qualquer prédio aqui do Centro de SP. Não é mentira nossa, é um fato”, afirma.
O que entra como ficção é o enredo que insere os visitantes na experiência, como os zumbis, por exemplo.
A historiadora Marianna diz que não possui informações sobre os assassinatos no prédio. “Eu sei que era o terreno da igreja, o que era comum que houvesse também túmulos. Em todas as igrejas mais antigas, víamos isso – inclusive, era um grande reconhecimento social ser enterrado dentro da própria igreja.”
O Rolim e o Centro de SP
Entrada do Edifício Rolim.
Luiz Franco/ g1
Ao longo dos anos, o Rolim parece sempre ter sido o segundo colocado no Centro Velho, como uma estrela da música pop que tenta, tenta, mas nunca chega lá.
No Largo da Sé, sempre existiu uma igreja matriz.
Em 1740, foi construída a igreja São Pedro da Pedra, que foi reformada em 1869 e reaberta em 1871. Com a construção da atual Catedral da Sé, a São Pedro foi demolida em 1911;
Em 1913, a Catedral começou a ser levantada. Com a demolição, nos anos 20, foi iniciado o projeto do Edifício Rolim pelo arquiteto Hipólito Gustavo Pujol Junior, responsável pelo Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB);
Hipólito já havia levantado o maior arranha-céu da capital na época, o Edifício Guinle, com 7 andares, inaugurado em 1913;
O reinado do Guinle acabou com o Moreira Sales, inaugurado em 1927 com 12 andares
Hipólito então pegou o projeto do Rolim, no terreno da igreja São Pedro da Pedra, para retornar ao seu reinado.
Em 1928, o Rolim foi inaugurado com 13 andares.
O Rolim segue as características do modernismo catalão, com uma cúpula no topo revestida de bronze e uma pequena torre. Quando inaugurado, era considerado o mais alto da capital. Segundo Marianna Al Assal, inicialmente o Martinelli iria ter 12 andares. No entanto, a dominação durou pouco tempo, já que um ano depois, em 1929, foi inaugurado o Martinelli com 30 andares.
“Houve uma disputa entre o Rolim e o Martinelli – ambos foram construídos com uso de concreto armado – e uma disputa também com o crescimento em altura. Os dois foram construídos ao mesmo tempo, considerando que outros edifícios estavam sendo construídos com a mesma altura”, contou Marianna.
SERVIÇO:
🗓️ Quando? Até 31 de janeiro de 2025, das 17h30 às 22h30 (sessões com até 8 pessoas a cada 30 minutos; cada sessão dura 60 minutos)
📍Onde? Edifício Rolim | Praça da Sé, 87, Centro
💲Quanto? R$ 99
🧑‍🤝‍🧑Quem pode ir? Maiores de 13 anos (neste caso, acompanhando de um responsável)
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