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Estudo analisa videogames como forma de conforto a crianças internadas em hospital de SC


Experimento foi feito em Florianópolis. Pesquisadora fez tese de doutorado após filho de 11 anos ficar internado por 15 dias. Pesquisa leva videogames a hospital de SC como forma de conforto a crianças internadas
A internação do próprio filho de 11 anos por 15 dias após uma cirurgia cardíaca motivou a agora doutora Carolina Campagnollo, de 41 anos, na pós-graduação. Ela analisou o videogame como forma de trazer conforto a crianças e adolescentes em um hospital de Florianópolis.
Em março de 2023, um aparelho foi colocado à disposição dos pequenos pacientes do Hospital Universitário Polydoro Ernani de São Thiago (HU), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), instituição na qual Campagnollo fez o doutorado.
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No total, 10 crianças e adolescentes participaram do estudo. A tese foi apresentada em junho deste ano.
O experimento
O videogame, um Xbox One doado ao hospital, foi colocado no HU. O aparelho fez parte da fase de coleta de dados do doutorado de Campagnollo.
Além do próprio videogame, são disponibilizados dois controles e um monitor, tudo colocado em um suporte que pode ser movido de um quarto para o outro.
Ele funciona com uma conta da marca do projeto, chamada de “Anjos no Controle”. Cerca de 10 jogos foram colocados à disposição dos jovens pacientes.
São títulos como “Minecraft”, “Roblox”, “Overcooked”, jogos de carta e com o personagem Sonic. A ideia é que eles tenham formas de jogar offline. “A rede da internet ainda não é Wi-Fi ou cabeada. Não temos no HU, só para alguns computadores”, explicou Campagnollo.
Cada paciente pôde jogar durante 30 minutos por vez. Foram coletados dados por dois meses.
A pesquisadora compartilhou o relato da mãe de uma paciente de 13 anos. “Ela [garota] estava internada já há mais de 10 dias e não saía do quarto. No momento da pesquisa, a mãe estava muito aflita porque ela [filha] não queria ir para brinquedoteca junto com as crianças menores”.
“Quando eu ofertei para ela [paciente] participar e ofereci o videogame, o carrinho, o suporte, que eu levaria até ela, a primeira coisa que ela perguntou é se ela teria que sair do quarto. Eu falei ‘não, eu vou trazer até você’. E ela aceitou na hora”, continuou a pesquisadora.
Após a brincadeira, a mãe procurou Campagnollo. “Ela disse ‘os olhos da minha filha voltaram a brilhar, com o sorriso no rosto dela’. Aí a gente chora, como mãe, como profissional. É muito satisfatório, é o que motiva, que ativa a nossa profissão cada dia mais”.
Paciente joga videogame durante internação no HU de Florianópolis
Carolina Campagnollo/Arquivo pessoal
Desafios
O estudo não foi sem desafios. “A gente vive num país em que os recursos são mais limitados na área da saúde. Tem a questão da sobrecarga do trabalho da enfermagem, tem a questão da desvalorização do salário, e aí as pessoas acham ‘é mais uma atribuição para mim, mais uma coisa que eu tenho que fazer'”, disse a pesquisadora.
Além disso, houve críticas por conta dos gastos. “Comentários do tipo ‘ah, mas tem tanta coisa que a gente precisa no hospital, equipamento, melhoria de estrutura física’. Concordo com isso, mas eu acredito que tem espaço para tudo e uma coisa não anula outra”, relatou Campagnollo.
Outra preocupação é com o tempo de tela para crianças e adolescentes. “A gente tem que seguir a recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria quanto ao uso de telas, acho que, sim, é importante. Mas não dá para a gente fechar os olhos que o modo como as crianças brincam hoje em dia, eles até são chamados de nativos digitais, mudou e então acaba integrando com as brincadeiras tradicionais. Não dá para a gente achar que a criança não vai ter como brincadeira também o digital”.
Inspiração pessoal
O próprio filho da pesquisadora foi a inspiração para o estudo. Em 2019, com 11 anos, ele precisou fazer uma cirurgia cardíaca, no Hospital Pequeno Príncipe em Curitiba. Ele ficou na unidade de saúde por 15 dias.
“Foi uma internação bastante difícil, ele foi um pós-operatório também difícil. Ficou na UTI [Unidade de Terapia Intensiva] depois de internado e bastante debilitado, prostrado”, contou Campagnollo.
Durante o tempo em que passou no hospital, ele acabou não tendo muitas distrações, segundo ela.
“Ele não tinha nenhum dispositivo eletrônico além do celular, que, ergonomicamente, é ruim para a criança ficar segurando muito tempo, ou para o adulto, a tela é pequena. Ele não é ergonômico e acaba se tornando desconfortável. Não tinha videogame no local e a brinquedoteca já não era atrativa para ele, que era pré-adolescente”.
“Então foi daí que a ideia surgiu, de como poderia tornar o processo de hospitalização da criança e do adolescente mais brando”.
Agora Campagnollo quer levar o projeto adiante.
“O próximo passo é participar de startups e feiras de produtos hospitalares com o objetivo de divulgar esse produto desenvolvido, para que todos os hospitais tenham a oportunidade de proporcionar isso para as nossas crianças”.
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