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Gordura da picanha no churrasco: tirar ou comer? Entenda quando o nutriente pode ser saudável e os riscos


Consumo excessivo de gorduras saturadas pode levar ao aumento dos níveis de colesterol e ao ganho de peso. Mas, com moderação, gordura é benéfica para o organismo. As carnes vermelhas concentram grande quantidade de gordura saturada.
Freepik
Aquela picanha recém-saída da grelha do churrasco vai para o seu prato junto com uma porção generosa de farofa, vinagrete e a dúvida: tirar ou não a gordura na hora de comer?
Há quem afirme que essa gordura vai fazer você ganhar peso, ter problemas de colesterol e doenças cardíacas.
🥩Isso porque as carnes, principalmente as vermelhas, contêm uma grande quantidade de gordura saturada, que pode ser prejudicial à saúde quando ingerida em excesso. (entenda mais abaixo)
Mas os nutricionistas explicam que, como em muitas situações na alimentação, a gordura da carne pode ser consumida COM MODERAÇÃO sem que isso cause problemas à saúde.
Outro ponto importante é que pouco adianta tirar a gordura depois do preparo.
“Sempre que a gente pensa em corte mais gordurosos, o ideal é que o excesso de gordura seja retirado antes do preparo. Não adianta fazer a picanha com gordura e depois tirar, porque ela já vai ter passado para a carne”, alerta a nutricionista Vanessa Montera.
Abaixo, nesta reportagem, você vai entender que:
▶️Há tipos bons e tipos ruins de gordura
▶️Consumir a gordura na carne é melhor do que ingeri-la nos ultraprocessados
▶️Gordura em excesso pode levar a um aumento de peso e dos níveis de colesterol
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Gordura boa e gordura ruim
Para entender os possíveis efeitos negativos que a gordura pode causar, primeiro é preciso lembrar que nenhum alimento ou nutriente isolado vai ser responsável por um problema de saúde.
“Nutriente não tem caráter, nenhum deles vai ser vilão”, comenta Vanessa Montera, que é doutora em Alimentação, Nutrição e Saúde pela UERJ.
👉Além disso, também é válido citar que existem diferentes tipos de gordura:
Saturada – presente majoritariamente em alimentos de origem animal como carnes, ovos e laticínios;
Monoinsaturada – presente em alimentos de origem vegetal, como azeites e castanhas;
Poli-saturada – presente nos peixes e também em sementes como de linhaça, abóbora, girassol;
Trans – encontrada em alimentos ultraprocessados.
De acordo com a nutricionista Maiara Soares, doutora em Ciência da Saúde pela Faculdade de Saúde Pública da USP, é possível classificar as gorduras em boas e ruins com base em seus efeitos no organismo.
Enquanto as gorduras insaturadas – tanto a mono, como a poli – possuem efeito antioxidante e ajudam a reduzir o colesterol ruim (LDL) e aumentar o colesterol bom (HDL), as gorduras saturada e trans podem causar efeitos nocivos à saúde.
Faixa de gordura na extremidade é uma das características da picanha
Mariane Rossi/G1
“Quando consumidas em quantidades excessivas, elas podem aumentar o colesterol. As gorduras trans encontradas em alimentos ultraprocessados são especialmente prejudiciais”, alerta.
➡️Em 2021, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) publicou um documento intitulado “Posicionamento sobre o Consumo de Gorduras e Saúde Cardiovascular” em que afirma que o alto consumo de gorduras saturadas (proveniente de carnes, de ovos e de laticínios) tem consequências negativas ao metabolismo.
Esse tipo de gordura eleva a concentração do colesterol ruim no plasma, um dos fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardíacas.
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Carnes X ultraprocessados
Nesse contexto em que o consumo de gordura saturada é potencialmente nocivo para a saúde, poderia haver uma tendência em afirmar que o melhor seria retirar a gordura da carne na hora de comer. Mas tudo é preciso ser colocado em perspectiva.
As gorduras, mesmo as saturadas, cumprem um papel importante no organismo. Elas são responsáveis por funções como:
Fornecer energia para as células
Regular a temperatura corporal
Sintetizar hormônios
Ajudar na absorção de vitaminas
Além disso, o consumo de gordura sempre vai estar atrelado a outros nutrientes na composição do alimento.
“A gente não come gordura isolada, a gente come um alimento que contém gordura saturada. A carne, por exemplo, tem ferro, zinco, traz vários outros benefícios que não só a gordura”, analisa Vanessa.
Por isso, a nutricionista considera o consumo da gordura em alimentos ultraprocessados muito pior do que a da gordura na picanha do churrasco. “Em um alimento ultraprocessado estão presentes diversos outros aditivos que são bem mais nocivos para a saúde”, afirma a nutricionista.
🍔Assim, comer um hambúrguer pronto, de caixinha, tende a ser mais prejudicial do que a ingestão da carne in natura – não pela gordura presente em cada um, mas pelo conjunto de ingredientes.
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Excesso é o problema
Mais do que comer a gordura da carne no churrasco de vez em quando, o verdadeiro problema é o excesso.
Entre os principais efeitos nocivos da ingestão de grandes quantidades de gordura saturada, as nutricionistas destacam:
Aumento do colesterol
Como registrado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia, o consumo em excesso de gordura eleva os níveis do colesterol ruim, algo associado ao maior risco de doenças cardiovasculares.
➡️Uma revisão sistemática de estudos realizada pela Biblioteca Cochrane, em 2015, mostrou que a diminuição do consumo de alimentos ricos em gordura saturada reduziu em 17% os eventos cardiovasculares.
Apesar das evidências, Maiara Soares pondera que outros fatores também podem contribuir para a elevação do colesterol.
“Esses efeitos dependem não apenas da quantidade ingerida, mas também do equilíbrio geral da dieta, estilo de vida e fatores genéticos”, comenta.
Alteração da microbiota intestinal e da tendência inflamatória
O alto consumo de gorduras também pode impactar na saúde intestinal.
“Quando há uma ingestão muito grande de gorduras saturadas, a gente acaba mudando a microbiota intestinal e, por essa via, ativa as vias de inflamação do organismo”, explica Vanessa Monteiro.
Também segundo a SBC, dietas ricas em gordura induzem a diminuição da diversidade bacteriana e o aumento da permeabilidade intestinal, contribuindo para o desenvolvimento de doenças crônicas como obesidade, diabetes e aterosclerose.
Ganho de peso
Outra consequência direta do consumo excessivo de gordura saturada é o ganho de peso.
Isso acontece porque as gorduras possuem alta desnidade calórica, fornecendo 9 kcal por grama – a nível de comparação, os carboidratos fornecem 4 kcal por grama.
“O consumo excessivo, independentemente da origem, pode contribuir para o ganho de peso quando há um balanço energético positivo, isto é, quando a ingestão calórica é maior do que o gasto”, afirma Soares.
Apesar de todos os riscos associados ao excesso, as nutricionistas reforçam que, com moderação, a gordura do churrasco não causa nenhum mal.
“Tudo depende muito do dia a dia. Não dá para comer churrasco todos os dias, mas tudo que é esporádico, o corpo dá conta”, opina Vanessa.
Sempre que possível, é válido priorizar carnes com menor teor de gordura e métodos de preparo que não sejam a fritura – já que isso adiciona mais gordura para o alimento e pode produzir compostos tóxicos.
As nutricionistas destacam a importância de uma dieta balanceada, que permite o consumo de gorduras, mas que valoriza a diversidade de ingredientes e alimentos.
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