Jack Teixeira foi preso na sexta-feira e agora enfrenta acusações de espionagem. Suspeito de vazar documentos do Pentágono é preso pelo FBI
Acusações criminais apresentadas na sexta-feira (14/4) contra Jack Teixeira, o suposto autor do vazamento de documentos confidenciais de defesa dos Estados Unidos, revelaram novas informações sobre o polêmico caso.
Há detalhes importantes sobre o acesso que Teixeira teve a documentos confidenciais, sua carreira no Exército e a cronologia dos eventos que levaram à sua prisão em 13 de abril.
O jovem de 21 anos, membro da Guarda Aérea Nacional de Massachusetts, enfrenta acusações de “retenção e transmissão não autorizada de informações de defesa nacional” e “remoção e retenção não autorizada de documentos ou materiais sigilosos”.
As acusações podem gerar pena de até 15 anos de prisão.
Os documentos — que o suspeito supostamente compartilhou em uma sala de chat em um jogo online — incluíam detalhes sobre operações de guerra na Ucrânia e inteligência dos EUA sobre aliados e adversários em todo o mundo.
Embora as autoridades americanas ainda não tenham fornecido detalhes sobre a investigação ou a extensão do vazamento, documentos judiciais fornecem informações sobre a vida de Teixeira e como o vazamento supostamente ocorreu.
Primeiros documentos vazaram em dezembro
A denúncia criminal contra Teixeira inclui uma declaração escrita por um agente especial do FBI especializado em contra-espionagem e espionagem.
Neste comunicado, o agente afirma que um internauta — com um nome de usuário que posteriormente foi associado a Teixeira através de registros de pagamento — começou a publicar em dezembro de 2022 o que aparentava ser “informação confidencial”.
O conteúdo foi postado em um servidor de bate-papo Discord dedicado a discutir questões geopolíticas, de acordo com o depoimento.
Em janeiro, continua o texto, foram publicadas fotografias de documentos “contendo o que pareciam ser selos de sigilo em documentos oficiais do governo dos Estados Unidos”.
Um usuário anônimo da mídia social, identificado como Usuário 1, disse ao FBI que um dos documentos divulgados no estágio inicial “descreveu a situação do conflito entre a Rússia e a Ucrânia”, incluindo movimentos de tropas em um dia específico.
A declaração indica que o documento foi “baseado em informações confidenciais de inteligência dos EUA, obtidas por meio de fontes e métodos sigilosos”.
Classificado como “ultrassecreto”, sua divulgação poderia causar “danos excepcionalmente sérios” à segurança nacional, diz o depoimento.
O Usuário 1 também declarou ao FBI que Teixeira “teve medo que o flagrassem transcrevendo textos no seu local de trabalho, por isso começou a levar os documentos para casa e a fotografá-los”.
As fotografias de alguns dos documentos vazados, analisadas pela BBC, parecem ter sido tiradas em uma residência particular.
Em várias fotos, é possível ver claramente um balcão de cozinha e ladrilhos e objetos pessoais em cima de uma mesa.
‘Sigilo absoluto’
Documentos judiciais mostram que Teixeira se alistou na Guarda Aérea Nacional em setembro de 2019.
Ele atualmente ocupa o posto E-3/Airman First Class — uma patente relativamente baixa — e em fevereiro foi listado como “oficial de operações de defesa cibernética”.
Em 2021, recebeu uma autorização de segurança “ultrassecreta” e “acesso compartimentalizado confidencial” a outros programas sigilosos do governo dos EUA.
Para obter essa autorização, ele teria que assinar um acordo de confidencialidade vitalício “no qual teria que concordar que a divulgação não autorizada de informações protegidas poderia resultar em acusações criminais”.
Mark Zaid, um advogado de segurança nacional que frequentemente trabalha em casos envolvendo informações sigilosas, disse à BBC que não é totalmente incomum alguém tão jovem quanto Teixeira ter acesso a documentos confidenciais como os que vazaram online.
“Muitas pessoas dessa idade têm acesso a informações sigilosas, especialmente na Guarda Nacional”, pontuou.
“A questão é, em vez disso, por que ele conseguiu acessar documentos sobre os quais provavelmente não precisava saber?”
Como aviador designado para Cyber Transportation Systems, Teixeira foi responsável por ajudar a operar a rede global de comunicações da Força Aérea.
De acordo com Zaid, essa função lhe daria acesso à União Mundial de Sistemas de Comunicações de Inteligência (JWICS), que ele descreveu como uma “biblioteca de informações” sobre a inteligência dos EUA.
Busca por ‘vazamento’
A denúncia criminal também alega que Teixeira buscou em seu computador informações de inteligência com a palavra “vazamento” no dia 6 de abril, mesmo dia em que foram divulgadas as primeiras informações sobre a divulgação de documentos sigilosos.
“Consequentemente, há razões para acreditar que Teixeira estava procurando informações sigilosas sobre relatórios da comunidade de inteligência dos EUA a respeito da identidade do autor dos vazamentos”, acrescentou o documento.
Lei de Espionagem
Os documentos judiciais também indicam que as acusações criminais contra Teixeira se enquadram parcialmente na Lei de Espionagem.
Especificamente, sua primeira acusação responde a um estatuto que prevê pena de prisão de até dez anos, além de multa, para quem “copiar, subtrair, criar ou obter; ou tentar copiar, subtrair, criar ou obter” documentos do governo.
Esta informação, afirma o estatuto, “poderia ser usada contra os EUA ou em benefício de qualquer nação estrangeira”.
* Com reportagem de Aiden Johnson em Washington DC.
Como um militar de baixa patente de 21 anos conseguiu acesso a documentos ‘ultrassecretos’ dos EUA
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