Trump moderou o tom em temas sensíveis para o eleitorado e parou de criticar o sistema de votação antecipada e pelo correio e passou a estimular os votos antes do dia da eleição. Entenda como Donald Trump deu volta por cima e venceu eleição nos EUA
Quando se analisa o que foi a campanha eleitoral que levou à vitória de Donald Trump, é preciso ver que ele conseguiu abrir canais de diálogo com fatias importantes do eleitorado que estavam indecisas e insatisfeitas com o atual governo. Isso ajuda a explicar a vitória dele na disputa presidencial.
Não foi fácil a volta por cima de Donald Trump. Depois de perder para Joe Biden em 2020, ele parecia um personagem vencido.
Na votação para o Congresso em 2022, muitos candidatos apoiados por Trump foram derrotados. O governador da Flórida, Ron DeSantis, surgiu como um provável candidato do partido à Presidência. Mas Trump não desistiu e acabou prevalecendo sobre DeSantis e outros rivais republicanos.
Trump atravessou uma campanha turbulenta, com acusações na Justiça pela tentativa de inverter o resultado da eleição de 2020 e até uma condenação por fraude.
A foto de Donald |Trump escapando da tentativa de assassinato virou símbolo do movimento ‘Make America Great Again’ – ‘faça a América grande de novo’
Jornal Nacional/ Reprodução
Em julho, Trump fazia um comício na Pensilvânia quando um atirador disparou tiros de fuzil contra ele e a multidão de apoiadores. Trump escapou da morte por milímetros. Sofreu um ferimento na orelha. A foto dele escapando da tentativa de assassinato virou símbolo do movimento MAGA – “Make America Great Again”, “faça a América grande de novo”. Trump deixou o palco pedindo que os seguidores lutassem e ganhassem a eleição. Ele consolidava a liderança no Partido Republicano, onde agora tem controle absoluto.
O candidato criou uma conexão visceral com os eleitores do partido. Mas Trump também conseguiu falar com os americanos que ainda não estavam convencidos, com trabalhadores de indústrias falidas e da zona rural, moradores de subúrbios e do interior, que se sentem abandonados pela política tradicional e pelos grandes nomes do Partido Democrata.
Alguns desses grupos já tinham mostrado que podiam mudar de lado. A insatisfação com o atual governo foi o empurrão que faltava. O presidente democrata Joe Biden tem menos de 40% de aprovação popular. Acumula uma crise migratória sem precedentes na fronteira com o México e defendeu pacotes bilionários de ajuda militar à Ucrânia – para muitos eleitores, um dinheiro que o governo deveria usar para melhorar a qualidade de vida dos americanos.
O professor Brian Winter explica que a campanha de Trump explorou essa insatisfação e a sensação de que as coisas eram melhores antes do governo democrata.
“Na política, a mensagem é tudo. E Trump, claramente, ao longo desses nove anos que ele está na política, adotou um tom apelando mais para as pessoas sem educação superior, que pessoas que perderam o trabalho – especialmente no setor industrial – nas últimas décadas. Ele chega às massas, ao povo. Kamala Harris, em contraste, vem de um lugar mais humilde, filha de imigrantes, mas ela usa uma linguagem que apela mais para os setores mais educados, mais ricos do país. Especialmente nas cidades”, afirma o jornalista Brian Winter.
Onda vermelha: veja como Trump venceu com força na eleição dos EUA
A campanha de Trump também moderou o tom em temas sensíveis para o eleitorado. O ex-presidente deixou de defender uma proibição nacional do aborto e passou a afirmar que cada estado legislasse sobre o assunto como achasse melhor. Trump também parou de criticar o sistema de votação antecipada e pelo correio e passou a estimular os votos antes do dia da eleição.
O Partido Democrata, de Joe Biden e Kamala Harris, sai extremamente fragilizado da eleição de 2024
Jornal Nacional/ Reprodução
Até em estados onde os democratas tradicionalmente vencem, como Califórnia e Nova York, a vantagem desta vez foi menor. O partido de Joe Biden e Kamala Harris sai extremamente fragilizado. Ssintoma de que não consegue se comunicar com fatias importantes do eleitorado. Biden tinha prometido passar o bastão para uma nova geração, mas só desistiu da tentativa de se reeleger depois que fracassou diante de Trump em um debate histórico. Sem conseguir completar frases e com o raciocínio perdido, perdeu apoio do próprio partido.
Para o professor, a solução dos democratas, colocar a vice-presidente na disputa no lugar de Biden, foi um tiro no pé.
“Acho que o grande erro foi ter uma candidata – Kamala Harris – que não podia se afastar dos fracassos do governo Biden, que foram a inflação e a imigração. Ela teve várias oportunidades durante a campanha de se afastar, de explicar como seria diferente, e não fez. Eu acho que houve uma maioria das pessoas que não viram uma autocrítica no Partido Democrata. Lembrando que tivemos aqui uma inflação de quase 9% em 2022. Foi a inflação mais alta em 40 anos. Houve geração de americanos que não conheciam o que era a inflação. Talvez, outro candidato menos associado com Joe Biden teria conseguido esse afastamento, essa autocrítica”, diz Brian Winter.
Os eleitores decidiram apostar em Donald Trump. Os próximos quatro anos vão dizer se acertaram na aposta.
“Continua sendo um país bastante polarizado. E claro, a margem da vitória de Trump foi inesperada. Mas não é o primeiro presidente da história que ganhou no voto popular por uma margem de dois ou três pontos percentuais. Vai ter essa autocrítica, vai ter esse processo de renovação. Mas a história vai continuar. Vai continuar sendo, provavelmente, um país com dois partidos fortes com visões diferentes, com debates. Essa é a democracia”, afirma Brian Winter.
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