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Criança de 4 anos morta em confronto policial perdeu o pai baleado durante a Operação Verão; entenda


Leonel Andrade Santos, de 36 anos, foi um dos 56 mortos durante a Operação Verão, realizada entre janeiro e abril deste ano. Leonel Andrade e Ryan da Silva Andrade morreram com intervalo de nove meses no Morro São Bento, em Santos (SP)
Arquivo Pessoal
Ryan da Silva Andrade Santos, a criança de 4 anos morta durante um confronto policial no Morro São Bento, em Santos, no litoral de São Paulo, havia perdido o pai baleado por policiais militares há quase nove meses no mesmo bairro. Conforme apurado pelo g1, Leonel Andrade Santos, de 36 anos, foi um dos 56 mortos durante a Operação Verão, que aconteceu entre janeiro e abril deste ano.
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A criança foi atingida por um disparo na noite desta terça-feira (5), assim como dois adolescentes, de 15 e 17, estes suspeitos de envolvimento na troca de tiros. O mais velho morreu enquanto o outro foi socorrido e encaminhado a uma unidade de saúde, onde permanece sob escolta policial.
O pai de Ryan tinha 36 anos quando foi morto por agentes do 4º Batalhão de Choque no dia 9 de fevereiro, durante a Operação Verão. Ele estava com um amigo, Jeferson Miranda, de 37.
Segundo familiares e vizinhos que testemunharam a ação, os agentes chegaram atirando. Porém, na ocasião dos fatos, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) afirmou que a dupla foi baleada e morta após apontar armas aos PMs durante uma ocorrência de tráfico de drogas.
Criança estava brincado
A cozinheira Beatriz da Silva Rosa, de 29 anos, viúva de Leonel e mãe de Ryan, acredita que o filho também foi alvo de um disparo da Polícia Militar (PM). De acordo com ela, o menino estava brincando com aproximadamente outras dez crianças em frente à casa de uma prima dela quando foi atingido.
“Os policiais chegaram atirando em cima de dois meninos, que eu acho que estavam ‘de fuga’. Só que eles viram que a gente estava na parte de cima [da rua] com as crianças e tudo, mas começaram a atirar”, relembrou a mulher, que presenciou a cena.
De acordo com ela, todos saíram correndo com os disparos. No entanto, o filho acabou atingido na barriga. Ele foi socorrido pela própria população e levado até a Santa Casa de Santos, mas não resistiu.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) lamentou a morte de Ryan durante um confronto. A pasta informou, ainda, que a Delegacia Seccional de Santos instaurou um inquérito para apurar os fatos e determinou a realização de perícia nas armas apreendidas e no local do confronto para esclarecer a origem do disparo que atingiu a criança.
O g1 tenta contato com as famílias de ambos para saber a versão delas sobre os acontecimentos, mas não teve retorno até a última atualização desta reportagem.
Leonel de muletas
Conforme apurado pelo g1, Leonel usava muletas quando foi baleado. Segundo a família, ele não conseguiria empunhar uma arma para trocar tiros com os policiais, como o caso é descrito pelos agentes no Boletim de Ocorrência.
Homem morto em operação policial, no Morro São Bento, em Santos, foi fotografado uma hora antes de morrer
Reprodução
“Ele tinha dificuldade para se segurar, andar e se locomover com as muletas. […] Até embaixo do sovaco vivia cheio de calos. Não tem como, não teve troca de tiros”, disse Beatriz, na época do caso.
Uma moradora da comunidade fotografou Leonel aproximadamente uma hora antes da morte ao lado das muletas (veja acima).
Conforme apurado pelo g1, a foto de Leonel foi feita sem querer. Ele apareceu na imagem enviada por uma moradora a um motoboy para que o profissional visse o local da entrega de um pedido. O registro foi enviado à esposa de Leonel um dia após o sepultamento.
O homem estava na fila de espera para uma cirurgia de retirada do projétil alojado no joelho há 15 anos, quando foi baleado pela polícia. A esposa contou que, na época, o marido era envolvimento com o tráfico de drogas e ficou preso por 10 anos, mas, após isso, deixou o crime. Ela ainda garantiu que ele não tinha uma arma.
O que disse a SSP-SP?
Na época, a SSP-SP disse que Leonel e Jefferson foram baleados e mortos após apontarem armas para policiais militares durante uma ocorrência de tráfico de drogas.
A SSP-SP afirmou que a dupla foi socorrida e levada ao hospital, mas não resistiu aos ferimentos. Na ação, foram apreendidos com eles um revólver calibre 38, uma pistola calibre 35, dois rádios transmissores e cerca de cinco mil porções de drogas, além de quantia em dinheiro.
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