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‘Queria desistir’, diz testemunha sobre jovem de SC que morreu em parque interditado

A jovem de 24 anos que morreu durante um salto radical no Paraná estava com medo e queria desistir da aventura assim que subiu na plataforma, segundo testemunhas. Jussara Vitória Alves de Oliveira, que morava em Araquari, no Norte catarinense, era 23º a saltar na tarde de domingo (3), quando colidiu contra as pedras da estrutura natural do parque, atualmente interditado e operando sem licenças de funcionamento, segundo a Prefeitura de Campo Magro.

Testemunha contra sobre acidente em parque interditado

Falha humana pode ter causado morte de jovem catarinense em salto radical no PR, aponta polícia – Foto: RIC/Arquivo pessoal/Reprodução/ND

Uma das testemunhas, que preferiu não ser identificada, contou que a jovem hesitou enquanto estava na plataforma e chegou a tentar desistir, mas foi incentivada a prosseguir, inclusive houve a recontagem do salto. “Foi a primeira de nós a pular, mas deu uma travada. O instrutor ajudou, empurrando. A gente estava brincando, dançando, tudo parecia tranquilo”, relatou.

A testemunha também descreveu que no rope jump, momentos antes do salto, o instrutor retira o “guia de vida”, equipamento de segurança caso aconteça alguma acidente na plataforma de salto, como alguém escorregar, por exemplo. Na versão da testemunha, isso não ocorreu.

+ Local onde ocorria salto radical que matou jovem de SC não era divulgado por empresa

“Quando ele empurrou, ela ainda estava presa no cinto. Esse guia de vida a puxou contra o paredão e estourou. Foi aí que ela ficou solta na corda e já tinha batido contra as pedras”, descreveu. O impacto foi tão forte que fragmentos do paredão se desprenderam, segundo a testemunha.

Após o acidente, Jussara foi levada para uma espécie de ilha na lagoa, onde recebeu os primeiros socorros, mas não resistiu aos ferimentos. “O instrutor começou a gritar, desçam, desçam, que todo mundo vai ser ressarcido. Só pensou no dinheiro. Essa foi a frase dele. Descemos, tinha mais duas meninas com a gente que entraram em pânico”, relatou.

Conversa antes do salto em parque interditado

Debora Ferreira, que estava no grupo de Jussara e participava do evento, lembrou a breve conversa que teve com a jovem antes do salto, marcada por desabafos pessoais sobre términos de relacionamento.


Debora compartilhou momentos antes do salto radical – Vídeo: Arquivo Pessoal/Divulgação/ND

“Estava tocando uma música sertaneja triste, e eu comentei que estava passando por um término recente. Ela também falou que tinha terminado um relacionamento de longo período, há dois meses”, relatou Debora. Ela ainda lembrou que Jussara a questionou sobre o salto, buscando entender como era a experiência. “Disse que foi tranquilo e a encorajei”, completou.

Debora, que é coordenadora de recepção, havia feito o salto na manhã do mesmo dia e acompanhava o grupo durante as atividades. De acordo com ela, os instrutores ajudaram a equipar Jussara com os itens de segurança obrigatórios.

Ela conversou com Jussara antes da tragédia – Vídeo: Arquivo Pessoal/Divulgação/ND

“Eu realmente não lembro como estão dizendo que não foi tirada a corda de segurança dela [na hora do salto]. Eu realmente não lembro desse momento. Na minha visão também, não faz sentido”, disse em entrevista à NDTV Record.

A situação começou a se esclarecer quando ouviram gritos vindos de quem estava na base. “Quando olhei para baixo, vi que ela estava desmaiada. Achei que tivesse se enroscado na corda e se machucado. Como estava muito nervosa e queria desistir de saltar, pensei que ela pudesse ter desmaiado”, lembrou Debora.

“Foi um choque para todos. Não consigo dormir nem comer. Estamos todos muito tristes”, desabafou.

Local incerto e correria para recolher os equipamentos

A testemunha que preferiu não ser identificada também relatou que descobriu só na noite anterior o local exato de onde seria o salto: o Parque Ecológico Lagoa Azul. Segundo a prefeitura, o parque não possui licenças de funcionamento, como as ambientais, alvará e certificação do Corpo de Bombeiros. “Os gestores da área chamada de parque atuam por conta própria e em desacordo com as leis municipais”, informou.

Parque estava interditado desde 2023  - Prefeitura de Campo Magro/Divulgação/ND

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Parque estava interditado desde 2023 – Prefeitura de Campo Magro/Divulgação/ND

Segundo a prefeitura, o local não tinha licenças para funcionar  - Prefeitura de Campo Magro/Divulgação/ND

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Segundo a prefeitura, o local não tinha licenças para funcionar – Prefeitura de Campo Magro/Divulgação/ND

Segundo ela, após o acidente, a equipe da empresa responsável pelo salto teria rapidamente recolhido todos os equipamentos e orientado os participantes a voltarem para o ônibus. “Foi uma correria absurda da equipe deles. Recolheram tudo – os equipamentos, a guia que estourou, as cordas”, contou a testemunha.

Ela detalhou que uma instrutora se aproximou e pediu que todos embarcassem, pois “não havia mais nada a ser feito” e um helicóptero de resgate já havia sido acionado. “O pessoal começou a entrar no ônibus. Subi em uma lanchonete que tem lá para usar o Wi-Fi e avisar meus familiares que eu estava bem, caso a notícia corresse”, disse.

Ao retornar, encontrou todos dentro do ônibus, mas recusou-se a partir. “Eu disse: ‘Não vou seguir viagem, vou ficar com ela. Ela veio sozinha, e farei o que gostaria que fizessem comigo. Não vou sair daqui sem notícias sobre o estado dela’.”

Nesse momento, um instrutor teria sido rude com ela, afirmando que todos deveriam ir embora, pois “já haviam chamado a polícia e os paramédicos”. A testemunha relatou que havia desencontro de informações – enquanto alguns diziam que Jussara estava em estado estável, outros mencionavam gravidade. “Foi o bombeiro quem me disse que o estado dela era grave”, relatou.

Determinada, ela foi buscar seus pertences para permanecer no local. “O instrutor que esqueceu de tirar a guia dela foi o mais rude, discutiu comigo, insistindo que eu fosse embora, pois agora era com a ambulância e os médicos”.

Durante esse momento, um policial, que também participaria da atividade, se aproximou e decidiu ficar com ela em solidariedade. “Ele disse: ‘Se você vai ficar, eu vou ficar também. Acho que é o certo a se fazer’”.

Na sequência, com a chegada da polícia, todos saíram do ônibus e permaneceram no local.  No entanto, a testemunha afirmou que, diferentemente do protocolo comum em atividades de aventura, nenhum formulário foi preenchido com contatos de emergência. “Foi um sacrifício conseguir falar com alguém da família dela, porque não tinham acesso a nenhuma informação sobre os participantes”, afirmou.

Procurada pela reportagem, a empresa Ojheik Rolês, que organizou a atividade no local, lamentou o ocorrido, afirmou que presta apoio à família da vítima e esclareceu que está à disposição das autoridades competentes para eventuais esclarecimentos sobre as circunstâncias do acidente.

Apesar de tentativas, a reportagem não obteve retorno da empresa que administra o parque até o fechamento da matéria. O espaço segue aberto para manifestações.

Investigação aponta falha humana

A investigação da Polícia Civil do Paraná aponta que a tragédia pode ter acontecido por não soltarem a chamada “linha de vida”, que garantiria um salto longe da plataforma de rope jump.

Vídeo mostra salto radical instantes antes de turista de SC morrer no Paraná – Vídeo: RIC/Reprodução/ND

Segundo o delegado Guilherme Donde, da Polícia Civil do Paraná, os saltos de rope jump, conhecido como “pêndulo humano”, contém uma segurança extra caso aconteça alguma acidente na plataforma de salto, como alguém escorregar, por exemplo. No entanto, a “linha de vida” deve ser liberada antes ou assim que alguém salte do local.

A investigação acredita que a linha que segurava Jussara não havia sido solta, mas a perícia definirá se essa foi realmente a causa do acidente. “Em vez dela pendular lá na frente, ela pendulou na própria plataforma e acabou infelizmente atingindo o penhasco”, esclareceu o delegado.

Depoimentos

De acordo com a Polícia Civil, os responsáveis pelos saltos foram levados à delegacia, mas permaneceram em silêncio. “Tanto o instrutor que estava lá em cima na plataforma, quanto o responsável pelo evento e um funcionário que estava ali trabalhando na parte do lago ficaram em silêncio”, disse o delegado.

O inquérito policial seguirá para entender se há um responsável pela suposta falha que levou à morte da jovem. “Isso pode representar a responsabilização por homicídio culposo, aquele em que a pessoa não teve a intenção, ou não assumiu o risco do resultado, mas que por uma negligência, uma imprudência acabou causando a morte da vítima”, afirmou o delegado Ivan Silva, também da Polícia Civil do Paraná.

O investigador ainda afirmou que outros incidentes já foram registrados no Parque Ecológico de Campo Magro. “Tudo precisa ser analisado com muita calma, muita cautela, para não tomarmos nenhuma providência ou decisão temerária neste momento”.

Velório

A jovem foi sepultada na manhã desta terça-feira (5) na Assembleia de Deus de Araquari, cidade onde morava com a mãe. Um fato que chamou atenção durante o velório, segundo familiares, é que o pai de Jussara também faleceu em um acidente no local religioso, após cair enquanto consertava o telhado.

Igreja onde jovem foi velada em Araquari – Foto: Ricardo Alves/NDTV

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