A escolha do presidente dos EUA acontecerá na terça-feira (5). O voto por lá é bem diferente daqui, no entanto: há várias semanas, as urnas estão abertas e as pessoas podem votar por correio para escolher Donald Trump ou Kamala Harris. Quer dizer… mais ou menos, porque os votos nos Estados Unidos não são diretos.
Existem, no geral, dois tipos de voto: direto, no qual o cidadão vota diretamente no candidato que você quer que assuma; e indireto, quando a população precisará de mais um intermediário. Este segundo caso é o dos Estados Unidos.
As eleições presidenciais no Brasil parecem simples: o candidato que tem mais votos da população, ganha. Um único voto pode definir a vitória de uma ou outra pessoa. Nos EUA, é completamente diferente: os votos para presidente são do Colégio Eleitoral, constituído de um número diferente de representantes para cada estado.
No passado, houve situações que nunca ocorreriam no Brasil. Por exemplo, quando Donald Trump venceu Hillary Clinton na corrida eleitoral de 2016, o ex-presidente teve, tecnicamente, cerca de 3 milhões de votos a menos do que a rival. Em 2000, George W. Bush teve meio milhão de votos a menos que Al Gore, mas venceu.
Isso porque o voto individual, na última etapa, não conta – e sim o voto do Colégio Eleitoral (composto pelos delegados). Estados mais populosos têm mais assentos (são 538 cadeiras ao todo). E, na maioria dos estados, o colegiado vota em massa em um presidente; isso significa que, na hora de votar, cada estado é um “tudo ou nada” e conta muito, principalmente os maiores. Quando um candidato consegue “conquistar” um estado, ele conquista um bloco de votos do colegiado – e as escolhas dos cidadãos não importa tanto nessa fase.
Então, a população não vota no presidente nos EUA?
Embora a população dos EUA não tenha voto direto no presidente, as pessoas votam, sim. Mas a votação é dividida em etapas: na primeira, há um envolvimento mais direto, pois o povo escolhe qual nome concorrerá por cada partido.
Depois, na eleição marcada para terça-feira, vota-se no presidente – neste ano, em Donald Trump ou Kamala Harris. Por fim, com base na maioria dos votos da população, o voto é dos delegados de cada partido que compõem o Colégio Eleitoral.
Como funciona o Colégio Eleitoral nos EUA?
O Colégio Eleitoral nos EUA tem 538 delegados. Eles são os membros da Câmara dos Deputados (435) e do Senado (100), e mais três pessoas no Distrito de Colúmbia. Um presidente precisa do voto de 270 delegados para ser eleito.
Esses delegados são divididos pelos estados. Quanto maior a população e quanto mais parlamentares o estado tiver na Câmara dos Representantes e no Senado, mais delegados terá.
Então, os partidos indicarão uma lista de candidatos a delegados para cada estado. A população escolhe e vota nesses delegados.
Claro que, na hora de votar, o povo tem em mente qual partido indicou esse candidato – porque, no geral, assume-se que ele votará no presidente daquele partido quando chegar a hora.
A votação da população, então, decide qual partido terá mais delegados no estado – e a maioria tem grande probabilidade de ganhar ali.
Tudo ou nada: winner takes it all
Temos, então, esse cenário: um partido deu uma lista de delegados para a população. Esses delegados, divididos por estados, deverão votar para o presidente. Porém, os delegados são escolhidos por voto direto da população, que aposta neles para garantir o voto para a presidência quando chegar a hora. Então, embora a população não vote diretamente no presidente, ela escolhe a quantidade de pessoas que ficará do lado dele nas eleições.
É aqui que entra a grande necessidade de levar a sério a região nos EUA: dos 50 estados do país, 48 usam o sistema de votação de delegados “winner takes it all” – ou “tudo ou nada”, em tradução livre.
Cada estado tem seu grupo de delegados, e esse grupo costuma escolher apenas um candidato (normalmente, o que tem maioria de apoio naquela bancada). Isso significa que, mesmo sendo eleito, digamos, pelos Republicanos, um delegado votará nos Democratas se a maioria dos colegas de estado assim quiser.
Vale dizer que este é um acordo de cavalheiros e nada na constituição exige que os delegados sigam a maioria ou não escolham qual presidente votar. Mas é convencional acontecer assim, porque entende-se que é desleal, para o delegado, não obedecer à vontade da maioria da população.
Estados-chave
Alguns estados são mais disputados e têm um peso maior nas eleições por terem mais delegados (o número de delegados varia conforme a população e representação de deputados). Outros têm poucos delegados e peso muito menor.
A principal fatia do Colégio Eleitoral é da Califórnia. O estado mais populoso tem 55 delegados no total (dado de 2020). Tendo em vista que um candidato precisa de 270 votos de delegados para ser eleito, somente a Califórnia se garante mais que 20% dos votos necessários para eleição.
Na sequência, os estados com mais delegados são o Texas (38), Flórida e Nova York (39 cada). Então, esses quatro estados somados representam cerca de 60% dos votos necessários para eleição – e ainda “sobram” 44 estados para angariar.
“Swing States”, os estados de balança
Alguns estados são mais estáveis no apoio – assim como acontece no Brasil, que o sul costuma ser mais de direita e o nordeste mais de esquerda. Nos EUA, Califórnia costuma ser dos Democratas (esquerda), enquanto o Texas garante os Republicanos (direita).
Outros lugares nos EUA, no entanto, mudam de posicionamento de tempos em tempos: esses são os swing states, ou estados de balança. Arrecadar esses estados, mesmo os que têm Colégio Eleitoral pequeno, é bastante importante na corrida presidencial dos Estados Unidos.
O swing state mais relevante é a Flórida, que tem o segundo maior Colégio Eleitoral nos EUA. Outros bastante disputados são Pensilvânia, Michigan, Wisconsin, Arizona e Carolina do Norte. Nesses locais, normalmente, é impossível prever o resultado.
Os votos costumam ser, inclusive, bastante acirrados. Por isso, é importante que o presidente a ser eleito e o partido tenham grande participação ativa nesses estados e consigam virar votos para delegados que, por vezes, podem ser competidos acirradamente.
Outras informações importantes são os estados com menor Colégio Eleitoral (três deputados): Vermont, Alasca, Wyoming e Delaware. Apenas dois estados não usam “winner takes it all”: Nebraska (cinco delegados) e Maine (quatro).
Data da eleição e posse
- Até 5 de março de 2024: Eleições primárias; eleitores votaram em que político disputará para cada partido (lembrando que este ano Biden foi escolhido mas, depois de desempenho ruim em debate, eleitores pediram substituição por Kamala);
- 5 de novembro de 2024: Eleitores votam nos candidatos de preferência;
- Novembro e Dezembro: Votação dos Colégios Eleitorais em presidentes; estados não anunciam juntos, e presidente é definido quando se atinge número mínimo (270) de delegados; na última eleição, resultado foi anunciado 10 dias depois;
- Dezembro ou janeiro: conferência de votos de Colégio Eleitoral (em 2020, aconteceu em 6 de janeiro de 2021);
- 20 de janeiro de 2025: posse do novo presidente dos EUA.