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Seca transforma margem do Rio Negro em ‘parque’ com grama verde e atrai visitantes em Manaus; VÍDEOS


A seca severa trouxe mudanças ao cenário da cidade, e uma delas virou atração para a população. Um extenso campo de grama surgiu do outro lado da Ponte Jornalista Phelippe Daou, transformando-se em um “ponto turístico” temporário. Grande campo de grama surge às margens do Rio Negro e vira ‘ponto turístico’ temporário
A seca severa continua transformando paisagens no Amazonas. Em Manaus, um vasto campo de grama verde surgiu às margens do Rio Negro nas últimas semanas, do outro lado da Ponte Jornalista Phelippe Daou, em direção às cidades da região metropolitana. A área já ficou conhecida como “parque” e tem atraído visitantes, que se encantam com sua beleza e aproveitam para produzir conteúdos e realizar ensaios fotográficos. Assista no vídeo acima.
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O Rio Negro, que banha a capital amazonense, ainda enfrenta a instabilidade da estiagem de 2024, considerada a mais severa dos últimos 122 anos. Na pior cota registrada na história, o nível do rio atingiu 12,11 metros em 9 de outubro. Em todo o estado, a seca já afeta mais de 800 mil pessoas, conforme dados da Defesa Civil.
Com a queda do nível do rio, inicialmente a área se tornou um vasto banco de areia que antes era submerso. Com o tempo, uma vegetação densa se desenvolveu, transformando o local em um “ponto turístico” temporário.
Segundo o professor de biologia André Menezes, a vegetação que surgiu no local é típica de áreas que enfrentam períodos de estiagem, funcionando como uma nova colonização do espaço.
“Essa vegetação que cresce após a várzea, com aparência semelhante a capim, é chamada genericamente de Canarana. Especificamente, o capim marreca e outras variedades são comuns em áreas onde o solo pós-várzea é extremamente nutritivo, propiciando uma nova colonização de vegetação. Essa nova flora é sempre composta por espécies de gramíneas, como os capins que observamos nessas regiões”, explicou.
Nesta sexta-feira (1º), o Rio Negro atingiu a cota de 12,18 metros, um nível associado ao “repiquete”. Esse fenômeno, comum nos rios da região amazônica, provoca oscilações nas águas, que sobem e descem de forma semelhante a uma sanfona.
Grande campo de grama surge às margens do Rio Negro durante estiagem e vira ‘ponto turístico’ para manauaras.
Patrick Marques/g1 AM
O empreendedor óptico Gladson Palma relatou ao g1 que costuma fazer viagens de moto para o outro lado da ponte e gravar vídeos. Em uma dessas viagens, no dia 28 de outubro, ele se deparou com um campo coberto de grama e decidiu parar para registrar o local.
Ele editou os registros que fez do espaço e publicou o vídeo em suas redes sociais. Para sua surpresa, o vídeo viralizou rapidamente.
“Eu acabei postando um vídeo completo sobre a área verde. As pessoas acharam muito bonito e alguns até pensaram que era montagem, já que muitos não conhecem o lugar por ser distante. Para chegar lá, é preciso atravessar a ponte e descer, e geralmente só quem vai são os motociclistas ou pessoas mais jovens com carro. No dia em que fui, havia muitas famílias e casais tirando fotos. O cenário estava realmente bonito, então decidi gravar o vídeo”, contou Palma.
Assista ao vídeo abaixo:
Vídeo mostra vegetação que surgiu nas margens do Rio Negro, em Manaus
Palma também se surpreendeu com a recuperação da natureza no local. Ele observou que, mesmo durante a estiagem, o espaço conseguiu se reestruturar, apesar dos impactos da pior seca da história do Rio Negro.
“Algumas pessoas acham muito bonito o jeito como a natureza se recupera. Eu comento que é fascinante ver como a natureza encontra formas de voltar ao seu estado natural. A área estava seca, o que a tornava lamacenta, mas agora a grama está começando a crescer no fundo do rio. Enquanto muitos acham isso lindo, outros consideram feio devido à seca. Eu sempre digo: ‘Não, é bonito ver a natureza se reerguendo’, e que em breve a água voltará a encher. Isso gera diferentes opiniões”, afirmou.
Após a repercussão do primeiro vídeo, Gladson decidiu retornar ao local e gravar outro, desta vez mostrando como chegar ao campo de grama. Poucos dias após a publicação, o novo vídeo já acumulava mais de 55 mil visualizações nas redes sociais.
“Fico feliz ao ver a natureza se recuperando em um momento de seca que já está passando; isso é muito gratificante. Quis mostrar às pessoas o quanto o local está bonito e que quem puder visitar deve chegar e observar a diferença entre a seca e a cheia, e como isso afeta todos, de formas boas e ruins”, afirmou o empreendedor óptico.
Veja o vídeo de como chegar no local:
Vídeo mostra como chegar em área de vegetação que surgiu nas margens do Rio Negro
“Ponto turístico” temporário
Com a repercussão do local, muitas pessoas começaram a frequentá-lo para tirar fotos, gravar vídeos e se reunir com familiares e amigos, transformando-o em um novo “ponto turístico” temporário para a população.
O fotógrafo e videomaker Thiago Oliver também se encantou com o lugar. Ele comentou ao g1 que costuma ir à ponte para fotografar o ambiente e o pôr do sol, e foi assim que descobriu o campo.
“Na última vez que passei, vi aquele tapete verde muito bonito e achei uma forma de descer ali ao lado da ponte para tentar fazer uma foto e um vídeo daquela grama. Eu e mais dois amigos descemos e conseguimos capturar imagens que, nos últimos dias, têm viralizado nas redes sociais. O resultado ficou realmente bonito e é um cenário bem diferente do que temos visto recentemente”, lembrou Oliver.
Fotógrafo e videomaker Thiago Oliver, no campo de grama que nasceu às margens do Rio Negro, em Manaus.
Arquivo pessoal
Oliver também registrou o local em fotos e vídeos, que logo foram compartilhados em suas redes sociais, após se encantar com a recuperação da natureza.
“A natureza naquele local se regenerou e continua se regenerando, fazendo brotar grama e capim no solo seco e rachado do Rio Negro. Isso é incrível, não é? Essa capacidade que a natureza tem de reagir a tudo o que está acontecendo no mundo e aqui na Amazônia”, disse.
Assista abaixo o vídeo feito por Thiago Oliver:
Fotógrafo faz publicação mostrando vegetação nas margens do Rio Negro, em Manaus
As irmãs Dalila Chagas e Camila Bitar souberam do local pelas redes sociais e decidiram visitá-lo na última quarta-feira (30). Assim que estacionaram o carro e desceram, ficaram imediatamente encantadas com a beleza do espaço.
“Quando o rapaz postou fotos com um ângulo mais bonito, como se fosse de um drone, mostrando a área verde preservada, isso realmente tornou o lugar uma atração. Os amazonenses apreciam esse tipo de ambiente mais ‘natural’. Pensamos que seria interessante vir aqui para prestigiar. Embora esse cenário tenha surgido devido à nossa seca, ele acabou revelando também um lado bonito”, afirmou Dalila.
Irmãs Dalila Chagas e Camila Bitar, no campo que surgiu com a seca do Rio Negro, no Amazonas.
Patrick Marques/g1 AM
Beleza em meio ao desastre natural
Segundo o professor de biologia André Menezes, a vegetação nessas áreas aparece após o período de estiagem devido ao acúmulo de nutrientes no solo. Assim, com a queda do nível do rio, o crescimento da grama se intensifica.
“Quando um ambiente que está cheio passa por uma seca, normalmente há um acúmulo de nutrientes no solo alagado. Quando o rio seca, esses nutrientes criam um ambiente favorável ao desenvolvimento de vegetação. As primeiras plantas a se aproveitar disso são as graminhas e os capins. Portanto, não se trata apenas de suprir as necessidades do solo, mas sim de um oportunismo das plantas para se estabelecer naquele ambiente”.
Grande campo de grama surge às margens do Rio Negro durante estiagem e vira ‘ponto turístico’ para manauaras.
Patrick Marques/g1 AM
Camila Bitar compartilhou esse mesmo pensamento ao visitar o local. Ela afirmou que, embora admirasse a beleza da nova vegetação, também percebeu que o surgimento das plantas poderia estar relacionado à necessidade de nutrir o solo seco.
“A natureza sempre encontra uma forma de se reinventar, mesmo que demore. Às vezes, não acreditamos nisso, mas ela está sempre se adaptando. Quando a água voltar, talvez esse cenário mude, mas as plantas desempenham um papel importante em nutrir o solo. O solo está muito seco e cheio de rachaduras, mas começaram a surgir várias plantas, que acredito serem matos, com o objetivo de absorver nutrientes e ajudar na recuperação do solo. É um ciclo muito bonito. A natureza realmente está se auto-reinventando. Mesmo diante do desastre causado pela seca severa, ela tenta se restabelecer, e isso é incrível”, comentou.
A contradição entre a beleza natural e os impactos da estiagem também chamou a atenção de Thiago Oliver. Ele ressaltou que esse período traz grandes prejuízos para a população, que depende das águas para se locomover e garantir seu sustento.
“Estamos enfrentando uma seca histórica na região, que tem trazido muitas dificuldades, desde os ribeirinhos até aqueles que dependem dos rios. Embora tudo isso seja muito bonito, também é preocupante, pois reflete a intensidade da seca que vivemos este ano. A natureza pode mostrar sua exuberância, mas por trás disso há uma grande preocupação”, finalizou Oliver.
Seca do Rio Negro
Neste ano, o Rio Negro atingiu 12,11 metros, o menor nível já registrado em mais de 120 anos de medição. Esse fenômeno alterou o cenário do Encontro das Águas e levou a prefeitura de Manaus a fechar a Praia da Ponta Negra.
Na orla, bancos de areia surgiram no meio do rio, forçando as embarcações a se afastarem cada vez mais do local onde costumavam atracar, próximo à via pública. Essa situação também impactou o escoamento da produção das empresas do Polo Industrial da capital, que tiveram que instalar um píer flutuante em Itacoatiara para facilitar o recebimento de insumos e o envio de mercadorias produzidas pela indústria.
Seca do Rio Negro em Manaus 2024
Alexandro Pereira/Rede Amazônica
Dados da Defesa Civil do Amazonas indicam que o Rio Negro parou de descer ao atingir 12,11 metros no dia 12 de outubro. No dia seguinte, 13 de outubro, o nível começou a subir lentamente.
Na quarta-feira (23), o rio parou de encher ao alcançar a marca de 12,50 metros. Na quinta-feira (24), o nível das águas se manteve estável nesse patamar. No dia seguinte, sexta-feira (25), o rio começou a retroceder, um fenômeno que os pesquisadores chamam de “repiquete”. Desde então, as águas vem descendo a cada dia.
Rio Negro está há quatro dias de queda no nível das águas
Veja o nível do Rio Negro na última semana, em Manaus:
Dia 23/10: 12,50 metros;
Dia 24/10: 12,50 metros;
Dia 25/10: 12,46 metros;
Dia 26/10: 12,41 metros;
Dia 27/10: 12,35 metros;
Dia 28/10: 12,29 metros;
Dia 29/10: 12,25 metros;
Dia 30/10: 12,21 metros;
Dia 31/10: 12,18 metros.
Dia 1º/11: 12,18 metros.
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