Famílias se queixam de falta de cirurgias, medicamentos e tratamentos terapêuticos no sistema público de saúde do Rio de Janeiro. Oito anos após a epidemia de Zika, bebês que nasceram com microcefalia têm dificuldades de acessar ao tratamento na rede pública
A epidemia de Zika Vírus completa oito anos em 2023 e famílias que tiveram bebês com microcefalia ou outras complicações reclamam da dificuldade no acesso ao tratamento gratuito no sistema de saúde do RJ. As principais reclamações são falta de assistência e vagas.
Josiane Suzart teve a doença sem saber que estava grávida da pequena Myllena. A criança teve microcefalia e paralisia cerebral por conta do vírus. Sete anos depois, a rotina delas é de muito amor, mas também de uma luta incessante por direitos.
Por causa das sequelas, a menina não fala, anda com dificuldade e ainda precisa usar cadeira de rodas para se locomover.
A família reclama da falta de cirurgias, medicamentos e tratamentos terapêuticos no sistema público de saúde. Eles tiveram que pagar R$ 18 mil em uma cirurgia.
“A Myllena precisou fazer cirurgia no pé. O pé dela é maior do que o outro, ela teve que alongar o tendão e ajeitar o joelho. A cirurgia foi cara, mais de R$ 18 mil! Estou pelo Sisreg desde quando ela nasceu, até hoje nada, nada”, reclama a mãe.
Segundo ela, a maior dificuldade é a falta de inclusão.
“Ter um filho especial não é um fardo, o fardo é o obstáculo que aparece na nossa vida, é falta de inclusão, é falta para as necessidades dela”, declara.
A Amanda Mota, mãe da pequena Alice, diz que as cirurgias e consultas com ortopedistas na rede municipal são cada vez mais difíceis. Amanda é diretora de uma associação que acolhe famílias de crianças que tiveram síndromes congênitas causadas pelo vírus.
A filha dela também vai precisar de uma cirurgia ortopédica, mas vai operar de forma particular pelo plano de saúde.
“Entre os vários descasos que vem acontecendo ao longo dos anos, a gente destaca a questão da luxação de quadril, porque eles não se mantém apoiados no tronco. Muitas mães estão tendo dificuldade de assistência pra esse tipo de tratamento, a assistência das crianças está sendo deixada de lado”, afirma Amanda Mota, diretora da associação Lótus.
A ativista aponta a falta de informações sobre as crianças que nasceram com microcefalia. Não está claro quantas são, quais são suas necessidades e como estão sendo tratadas.
“O que mais pesa em toda essa ausência é o descaso com as famílias afetadas”, completa ela.
A Secretaria Estadual de Saúde afirma que desde 2016 o Instituto Estadual do Cérebro diagnostica crianças com microcefalia, monta o plano terapêutico e encaminha para o município de origem, onde o tratamento deve ser feito.
Ainda segundo a pasta, 1.248 crianças foram atendidas desde então. Segundo eles, no caso da Myllena foram feitos dois agendamentos para cirurgia ortopédica no Hospital dos Servidores e no Hospital Estadual da Criança, onde ela recebeu outros atendimentos.
A Central Estadual de Regulação afirmou que não há fila ativa, no momento, para cirurgia ortopédica pediátrica.
Procurada, a Secretaria Municipal de Saúde declarou que a menina foi atendida na Clínica da Família e encaminhada para diversos tratamentos de reabilitação. Eles afirmam que ela segue sendo acompanhada pela equipe médica de família.
A pasta não informou quantas crianças com microcefalia são atendidas nos centros especializados e Clínicas da Família do município.
Quase uma década após epidemia de Zika, bebês que nasceram com microcefalia têm dificuldade no acesso ao tratamento no SUS
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