Segundo áudio falso, mistura acontece em todas as produtoras de pó de café embalado a vácuo do país para dar ‘peso e volume’. Ministério da Agricultura afirma que não detectou nenhuma amostra de café com vestígios de sangue. Circula nas redes sociais um vídeo que diz que fábricas de café no Brasil misturam sangue de boi ao produto para aumentar o “peso e volume” das embalagens. É #FAKE.
Na gravação, um suposto motorista de caminhão diz que presenciou a chegada de caminhões-tanque cheios de sangue de boi em uma fábrica de café no Espírito Santo. O áudio é acompanhado de fotos estáticas de tanques com um líquido vermelho.
G1
O homem diz: “Eu fui carregar um café no Espírito Santo, lá em Vitória, e cheguei lá na câmara fria. Encostei a carreta, e dali a pouco encostaram duas carretas-tanque. Aquilo me encucou. Carreta-tanque em fábrica de café? Falei: ‘vem cá, vou fazer uma pergunta meio indiscreta. Você vai carregar o que?’. Ele falou: ‘Não, vou descarregar. Sangue de boi. A gente coleta nos frigoríficos e traz pra cá’[…] O sangue de boi, eles torram ele, moem, e põe a vácuo junto com o café pra dar peso e volume. Eu vi os caras descarregando. […] Você quer tomar café puro? Vê no mercado o que tem o grão, mói na hora. Até o sabor é diferente. Esses que você compra a vácuo, qualquer um deles, nós fornecemos sangue de boi para todas as fábricas de café que é a vácuo.”
A Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), entidade que representa as indústrias de torrefação e moagem de café de todo o país, afirmou que o vídeo é mentiroso e antigo.
Quando o conteúdo começou a circular, em 2020, a ABIC registrou um boletim de ocorrência na 4ª Delegacia de Investigações Gerais de São Paulo contra disseminação de desinformação.
“Infelizmente, voltou a circular na internet um vídeo onde um narrador não identificado e de forma irresponsável afirma que empresas de café misturam sangue de boi ao produto para ‘encorpá-lo’. O vídeo apresenta uma sequência de imagens estáticas do suposto procedimento, novamente, sem fontes. A ABIC reforça não haver indícios de tal prática na indústria e, também, o seu comprometimento com a qualidade do café nacional”, diz a entidade.
Ainda de acordo com a ABIC, os processos de boas práticas industriais são continuamente revisados para dar mais segurança ao consumidor, e a certificação da associação só é concedida a “produtos acima do nível mínimo de qualidade” exigidos pelo Ministério da Agricultura.
Regulação de qualidade
A Portaria nº 570 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento estabelece que “será desclassificado e considerado impróprio para o consumo humano, com a comercialização proibida”, o café torrado que apresentar uma ou mais das situações indicadas a seguir:
I – mau estado de conservação, incluindo aspecto generalizado de deterioração, presença de insetos ou detritos acima do permitido em legislação específica;
II – odor estranho, impróprio ao produto, que inviabilize a sua utilização para o uso proposto;
III – teor de matéria estranha e impureza superior a 1,0% (um por cento); ou
IV – elementos estranhos.
Em nota, o ministério afirmou que não detectou nenhum vestígio de sangue de boi em café torrado e moído no Brasil em amostras coletadas.
“A fiscalização do Mapa para este tipo de produto consiste em coletas de amostra sistemáticas, distribuídas pelo território nacional. Quando constatadas irregularidades com o produto, são programadas ações fiscais nos estabelecimentos produtores. Ressaltamos que o padrão de qualidade do café é recente (PORTARIA SDA Nº 570, DE 9 DE MAIO DE 2022), vigente a partir de 1º de janeiro de 2023. Os parâmetros constantes do padrão são avaliados regularmente e em caso de suspeita pode-se realizar análise conforme determina a Portaria 570/2022, Art. 8º.”
“Também alertamos que é improvável a mistura de sangue ao café torrado, devido às dificuldades de manipulação daquele produto, pois trata-se de substância com elevado teor de umidade, gordura e altamente perecível, o que dificulta sua manipulação e mistura ao café numa tentativa de fraude”, diz a pasta.
Reprodução
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