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Rio teve mais de 85 mil sem aula por causa da violência nos primeiros 45 dias letivos do ano


Secretaria Municipal de Educação registrou 1.593 fechamentos em 257 escolas. Escolas municipais da Maré, da Cidade de Deus, da Praça Seca, da Cidade Alta e da Vila Kennedy são as mais impactadas. Rio teve mais de 200 escolas municipais fechadas nos primeiros 45 dias do ano letivo
Reprodução/ TV Globo
Nos primeiros 45 dias letivos do ano, mais de 200 escolas municipais do Rio de Janeiro não abriram ou precisaram fechar por causa da violência que impacta a rotina de moradores vários pontos da cidade. Entre os dias 6 de fevereiro e 15 de abril, a Secretaria Municipal de Educação registrou 1.593 fechamentos em 257 escolas.
Assim, 85.358 alunos sabem o que é não ter aula por causa da violência. Isso representa 13,5% de toda a rede municipal.
Os impactos da violência urbana e seus impactos no aprendizado e saúde mental de estudantes e profissionais de educação é o tema de uma série de reportagens do RJ1.
As escolas municipais da Maré, da Cidade de Deus, da Praça Seca, da Cidade Alta e da Vila Kennedy foram as que mais fecharam este ano por causa da violência.
Tensão antes de chegar
Escolas da Cidade Alta, Cidade de Deus, Praça Seca, Maré e Vila Kennedy foram as mais afetadas
Reprodução/ TV Globo
Para os professores, a caminhada ao local de trabalho é complicada.
“Por qual caminho que eu posso ir? Qual lugar que vai ter as piores barricadas para eu passar? Porque vai mudando. Aí, às vezes, vou chegar numa rua e está uma barricada que eu não consigo passar de tão estreita. Ou não, ou então eles tamparam mesmo, botaram coisas que você não consegue passar. Então, todo dia de manhã é: por onde será que eu entro?”, disse a professora, que não foi identificada por segurança.
Conversas são fundamentais para chegar bem na escola.
“A gente se avisa mutuamente, né? E os alunos avisam também. Então, eles mandam mensagens: ‘Professora, vai ter aula hoje? Tem caveirão. Tem isso, tem aquilo, tem helicóptero’. Muita coisa para pensar. E é claro, não posso esquecer, também estou pensando aqui na minha aula, como vai correr o dia hoje. Eu tenho coisas pedagógicas também que eu tenho que pensar”, afirmou.
O sindicato que representa a categoria define a situação como ‘trágica’.
“Trágica porque são profissionais de educação que precisam trabalhar. Mas, para chegar ao seu local de trabalho, precisam se deslocar por áreas onde a qualquer momento pode acontecer um tiroteio. A qualquer momento pode acontecer uma operação policial. Ou uma guerra entre facções, de milícia”, afirmou Diogo de Andrade, professor e diretor do Sindicato dos Profissionais de Educação do Rio.
Ele destaca que é uma realidade dura.
“Isso não é uma situação natural. São profissionais que têm que tirar barricadas do meio da rua para poder passar com carro. E, ao descer do carro para poder passar por barricadas, lidam com adolescentes, jovens armados de fuzis. E muitas vezes veem ex-alunos”, disse Andrade.
Os barulhos de tiros mexem com a rotina.
“Às vezes, eles dão salva de tiros por razões inúmeras, assim, que não necessariamente é uma operação. Só que a gente não sabe e a gente não pode ficar na dúvida. Então, vai todo mundo para o corredor com as crianças. Aí, depois vem ‘não, não, tá testando arma’, por exemplo. ‘Ah, não, é em homenagem a alguém’. Aí, a gente volta para a sala”, disse a professora.
Impacto no dia a dia
Área de lazer de escola na Serrinha, na Zona Norte do Rio
Reprodução/ TV Globo
A rotina de crianças e adolescentes que estudam em regiões conflagradas é afetada.
“De manhã cedo, quando eu acordo, a primeira coisa que eu faço é olhar, que eu tenho um grupo da escola, né? Eu vou olhar no grupo da escola se vai ter aula ou não. Aí, quando tem operação, eu nem acordo ele, deixo ele continuar dormindo. E continuo dentro de casa. Tudo trancado, porque é muito perigoso”, disse a mãe de um estudante.
A violência causa prejuízos no aprendizado.
“Nós temos uma rotina de trabalho e estudo, eu e meu filho. E o horário de saída para a escola é o da manhã. Então, a gente sai entre 5h e 6h, ele para ir para a escola e eu para ir trabalhar. Esse horário é justamente, em muitos momentos, os horários que a gente tem uma alteração, né? Tiroteio, a gente não sabe de onde vem, mas a gente escuta, vê a movimentação. A gente fica impedido de sair porque é perigoso de ter uma bala perdida. A gente acaba decidindo por ficar em casa, para não correr esse risco. E a gente deixa de ir trabalhar, a gente deixa de ir para a escola, no ano de Enem, que ele está fazendo terceiro ano”, destacou a mãe de um adolescente.
Serrinha
Em uma escola municipal na Serrinha, na Zona Norte do Rio, uma das professoras destacou que é preciso ter empatia com a realidade dos estudantes. Valéria Corrêa de Lemos cresceu na comunidade e já viveu uma realidade muito parecida com a deles.
“Nós, profissionais de educação, precisamos ter empatia, precisamos olhar os nossos alunos, escutá-los e nos relacionarmos com eles. Assim, frente a frente. Abaixa, fala com ele, conversa. Tendo esse, essa vantagem de ter crescido lá, eu acredito que isso me aproxima ainda mais”, disse a professora Valéria.
A situação dos alunos causa um retorno ao passado.
“Eu tenho lembranças de não conseguir chegar até a escola, ou voltar no meio do caminho. Porque não dava para a gente se aproximar até a escola, ou descer a comunidade. Tenho algumas memórias sim. tenho também uma situação de confronto que aconteceu muito próximo da minha casa. Então eu não vi, mas eu ouvi. E eu não sei quantos anos eu tinha na época. Mas o que eu ouvi, aquela situação de violência que eu escutei, ter que estar abaixada no chão, ouvindo aquilo, fazendo silêncio porque meus pais estavam me acalmando. Foi algo que me marcou negativamente, infelizmente. Eu me coloco no lugar daquelas crianças e eu sei que eles, os nossos alunos, nos veem como referência”, contou.
Os professores usam livros ou outras formas para confortar e tentar minimizar os efeitos do conflito. Ainda assim, a realidade se impõe na vida dos estudantes.
“Quando tem tiroteio lá, a gente deita. A gente vai para um corredor que é de frente o banheiro. Aí, quando já parou um pouco, descemos. A gente vai para frente da diretoria”, disse um aluno sobre como ficam em momentos de conflito.
Questionado sobre a falta de aulas por causa do tiroteio, ele é preciso.
“Primeiro, atrapalha os estudos. E ainda, a gente fica preocupado. Porque a gente pode ficar burro por causa disso. A gente não pode ter um futuro bom.

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