Segundo o apicultor, foram cerca de 150 registros nos últimos três meses; apesar das belas imagens, os bichos podem ser atacados pelas abelhas caso tentem alcançar o mel. Lobo-guará em apiário de Pouso Alegre (MG).
Cláudio Bueno de Vasconcelos
O aposentado Cláudio Bueno de Vasconcelos cuida de um apiário na chácara dele, na zona rural de Pouso Alegre, no Sul de Minas Gerais. Há três anos ele cria abelhas africanas que produzem o mel. São 10 caixas, cada qual com uma colmeia. “O mel é um hobby. Eu e minha família consumimos e o que sobra vendo para parentes e amigos”, conta Cláudio.
Há três meses, uma das caixas foi derrubada, o que intrigou o produtor e o motivou a instalar armadilhas fotográficas para monitorar o local. Desde então, segundo Cláudio, foram 150 flagrantes de animais silvestres que visitaram a área. “As câmeras registraram tatu, paca, gambá, gato-mourisco e umas 90 vezes os lobos-guarás. Inclusive, acho que foram os lobos que derrubaram a caixa. Eles devem ter comido um pouco de mel que caiu, por isso sempre aparecem por lá. Nas últimas semanas eles aparecem quase todas as noites e agora eles estão indo ao apiário também na parte da manhã, entre seis e sete horas”, afirma.
Você no TG: lobos-guarás e outros animais visitam apiário em Pouso Alegre (MG)
As constantes aparições dos lobos-guarás impressionam e despertam curiosidade em Cláudio. “Fico ansioso para ir substituir os cartões de memória para ver as imagens. A mata lá é bem preservada, com cerca de três alqueires de floresta nativa. Penso que ela seja a casa de alguns dos animais que aparecem no apiário, principalmente dos lobos”, relata.
EXPLICAÇÃO
Segundo o biólogo e analista ambiental, Rogério Cunha de Paula, há poucos relatos na literatura científica de lobos-guarás se alimentando de mel. “Eu nunca presenciei ou vi registros disso. Se ocorrer, não é algo comum. Há um tempo, um lobo começou a visitar com frequência umas caixas de um produtor, mas ele não ia comer o mel ou derrubar as caixas para consumir. Ele “furtava” as garrafas de isca (xarope de água e açúcar) ao lado das caixas-colônias, mordia, lambia as garrafas e as espalhava por toda área”, garante o coordenador do Grupo de Trabalho para a Conservação do Lobo-guará na América do Sul.
Para Rogério, apesar dos animais estarem visitando com frequência o apiário, como é possível observar nas imagens das armadilhas fotográficas, eles realmente não estão comendo o mel. “Não vi indício deles se alimentando do mel. Por exemplo, se os lobos fossem comer o mel, eles derrubariam ou tentariam derrubar as caixas. A única imagem que poderia dar a entender isso é a noturna que tem o casal. Onde o bicho que está no fundo do vídeo parece estar com mais atenção na caixa, porém mesmo assim há a imagem dele consumindo algo ali”, ressalta.
PERIGO
O coordenador do Plano de Ação Nacional para a Conservação de Canídeos Silvestres alerta que caso algum desses animais tente alcançar o mel, eles serão combatidos pelas abelhas africanas.
“Qualquer invasor será atacado pelas abelhas. Algumas espécies que regularmente consomem mel possuem maior tolerância às picadas e às toxinas. Os lobos-guarás não estão incluídos a essa alta tolerância. Porém, os hábitos crepusculares e noturnos desses animais são uma estratégia para obtenção do alimento. Durante a noite as abelhas não estão em atividade, tornando a colônia mais vulnerável”, explica Rogério.
O pesquisador ficou preocupado em entender qual é a razão das idas consecutivas dos lobos-guarás ao apiário do Cláudio Bueno de Vasconcelos e pediu ao Terra da Gente que o colocasse em contato com o produtor de mel. “Será interessante conversar com o apicultor para orientá-lo ao tipo de recurso que ele deve usar para afastar os bichos das caixas”, conclui.
É um privilégio podermos estar próximo de animais silvestres, mas desde que não os coloquemos em risco.