Com anos de experi\u00eancia, artistas de Itapetininga (SP) e Tatu\u00ed (SP) compartilham o receio e esperan\u00e7a conforme o uso da tecnologia se avan\u00e7a. Profissionais cartazistas ainda sobrevivem nos supermercados do interior de SP
\nNa \u00faltima semana, a internet foi inundada por imagens criadas com o uso de intelig\u00eancia artificial. Mas na regi\u00e3o de Itapetininga, interior de S\u00e3o Paulo, os cartazistas seguem firmes, mantendo viva a arte manual para atrair os olhos, e os bolsos, dos clientes.
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\nRamon Fernandes da Silva cria \u00e0 m\u00e3o os cartazes de mercados em Itapetininga (SP) h\u00e1 mais de 10 anos. A profiss\u00e3o de cartazista surgiu quando ele tinha 18 anos.
\nRamon Fernandes trabalha como cartazista h\u00e1 mais de 10 anos em Itapetininga (SP)
\nArquivo pessoal\/Ramon Fernandes
\n\u201cEntrei no mercado como empacotador, depois passei para o setor de frios e por outros setores. Mas, um dia, o cartazista que fazia os nossos mercados avisou que n\u00e3o iria conseguir atender mais e deu a op\u00e7\u00e3o de poder ensinar algu\u00e9m. Aceitei e fiquei dois meses aprendendo\u201d, relembra.
\nAo g1, Ramon contou da influ\u00eancia do pai para entrar no mundo art\u00edstico. \u201cMeu pai foi um grande artista. Ele era funcion\u00e1rio p\u00fablico, mas ele tinha outros talentos do tipo caricaturista, desenhista profissional e fazia escultura em madeiras\u201d.
\nRamon Fernandes da Silva seguiu a carreira art\u00edstica por influ\u00eancia do pai, que desejava caricaturistas
\nArquivo pessoal\/Ramon Fernandes da Silva
\nSobre uso de IA, Ramon afirma com convic\u00e7\u00e3o: \u201cTenho certeza que da mesma qualidade n\u00e3o ficar\u00e1, pois temos um padr\u00e3o para chamar a aten\u00e7\u00e3o dos clientes, pelo layout das letras\u201d.
\nCarla Salles, professora de Design na Universidade de Sorocaba (Uniso), pesquisou sobre a po\u00e9tica do cartaz durante o mestrado em Comunica\u00e7\u00e3o e Cultura. Ela destaca que os cartazistas s\u00e3o artistas populares.
\n\u201cEles t\u00eam uma t\u00e9cnica pr\u00f3pria, cada um no seu estilo, deixa a marca do gesto, letras feitas a m\u00e3o, \u00e0s vezes at\u00e9 com alguns \u201cerros\u201d de forma que deixa tudo ainda mais personalizado e original\u201d.
\nCartazistas ainda sobrevivem nos supermercados do interior de SP
\nArquivo pessoal\/Ivo Daniel
\nA t\u00e9cnica utilizada \u00e9 conhecida como design vernacular, criado fora dos circuitos formais e acad\u00eamicos, mas muito funcional, cheio de express\u00e3o e conectado com dia a dia das pessoas, segundo a especialista.
\n\u201cS\u00e3o registros de identidades dos bairros, dos com\u00e9rcios\u2026 N\u00e3o passam pelos grandes est\u00fadios, mas s\u00e3o m\u00e3os treinadas pela rua, pela agilidade e pressa de criar v\u00e1rias ofertas por dia\u201d, afirma Carla.
\nEscassez no mercado
\nIvo Daniel, de 43 anos, mora em Itapetininga desde 2019, ap\u00f3s uma oportunidade de emprego na \u00e1rea de qu\u00edmica, mas ele atua como cartazista h\u00e1 mais de 20 anos. \u201cAprendi a profiss\u00e3o em 2001 em um hipermercado. Na \u00e9poca, eu aprendi admirando os colegas e na aus\u00eancia deles, me senti capaz de fazer as confec\u00e7\u00f5es. Com o tempo, fui me aperfei\u00e7oando\u201d.
\nAtualmente, Ivo trabalha atua nas s duas profiss\u00f5es, recebendo encomendas para cria\u00e7\u00e3o de cartazes de mercado. \u201cPor gostar de executar esse tipo de trabalho, e pela falta de profissionais qualificados na \u00e1rea aqui na cidade. Com a escassez desse tipo de profiss\u00e3o, muitos aderem aos cartazes de impress\u00e3o, que no meu ponto de vista, n\u00e3o causa a mesmo impacto”.
\nO profissional afirma que o cartaz de pre\u00e7os feito \u00e0 m\u00e3o \u00e9 uma caracter\u00edstica marcante de mercados: \u201cTraz a sensa\u00e7\u00e3o de ofertas verdadeiras aos olhos do cliente, ainda mais com as cores tradicionais que sempre vimos\u201d.
\nIvo Daniel ao lado do filho Davi, que aprecia os cartazes feitos pelo pai para divulga\u00e7\u00e3o de pre\u00e7os de mercado
\nArquivo pessoal\/Ivo Daniel
\nSobre uso de IA, Ivo traz uma percep\u00e7\u00e3o cada vez mais comum entre os artistas. \u201cGera um pouco de preocupa\u00e7\u00e3o com o futuro da profiss\u00e3o, mas tamb\u00e9m abre oportunidades para me reinventar, explorar novas formas de aplicar estas habilidades e at\u00e9 ensinar a t\u00e9cnica, pois muitos comerciantes sabem o poder desse tipo de propaganda\u201d.
\nA sensa\u00e7\u00e3o do cartazista \u00e9 algo tamb\u00e9m refor\u00e7ado pela professora de Design, Carla Salles. \u201cA IA est\u00e1 for\u00e7ando tudo e todos a se reinventarem, quando a parte t\u00e9cnica n\u00e3o \u00e9 mais um problema, s\u00f3 sobra a parte conceitual, reflexiva. Para isso, precisamos de viv\u00eancia, leitura, repert\u00f3rio, experi\u00eancia de vida para criar\u201d.
\nCapacidade de cria\u00e7\u00e3o
\nO receio da ferramenta tamb\u00e9m \u00e9 sentida por artistas profissionais, como Diego Dedablio, de Tatu\u00ed (SP). \u201cAfeta diretamente um fundamento ontol\u00f3gico fundamental, que \u00e9 a capacidade de cria\u00e7\u00e3o do ser humano\u201d.
\nDiego Dedablio \u00e9 um artista de Tatu\u00ed (SP)
\nArquivo pessoal\/Diego Dedablio
\nSegundo o profissional, a IA \u00e9 uma tecnologia que viraliza por ter apelo “m\u00e1gico de computador”. Neste sentido que a organiza\u00e7\u00e3o em larga escala \u00e9 um fator de esteriliza\u00e7\u00e3o intelectual e criativa\u201d.
\nPara ele, as m\u00e1quinas fornecem uma esp\u00e9cie de satisfa\u00e7\u00e3o imediata ao que naturalmente \u00e9 lento. “Por m\u00e9rito, um pensamento sobre os objetos ou um pensamento sobre a vida, no caso o desenho\u201d.
\nO artista j\u00e1 pintou murais em diferentes cidades, no Brasil e no exterior, como Argentina, Holanda e Belarus, no leste europeu, e possui um est\u00fadio em Tatu\u00ed. \u201c O que fa\u00e7o \u00e9 um trabalho intimista, assemelha muito o trabalho liter\u00e1rio, com amplia\u00e7\u00f5es com os murais. O senso comum \u00e9 imperativo em qualquer lugar\u201d, conta.
\nDiego Dedablio j\u00e1 pintou murais em diferentes cidades, no Brasil e no exterior
\nReprodu\u00e7\u00e3o\/Will Lima
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