Gera\u00e7\u00e3o Z, que s\u00e3o os nascidos entre 1995 e 2010, vem trocando os smartphones por c\u00e2meras digitais dos anos 2000 em busca de fotos mais naturais, menos perfeitas e com uma boa dose de nostalgia. ‘Mil vezes melhor que celular’: por que as c\u00e2meras Cyber-shot est\u00e3o saindo da gaveta
\nElas s\u00e3o pequenas, t\u00eam poucos megapixels e estavam esquecidas no fundo da gaveta… at\u00e9 agora. As c\u00e2meras digitais que fizeram sucesso nos anos 2000, como a Cyber-shot, da Sony, ca\u00edram no gosto da Gera\u00e7\u00e3o Z (nascidos entre 1995 e 2010).
\nElas t\u00eam aparecido em festas, viagens e at\u00e9 nas escolas, onde a restri\u00e7\u00e3o ao uso de celulares fez os alunos recorrerem a outros objetos, como m\u00e1quinas fotogr\u00e1ficas.
\n“Usar a mesma c\u00e2mera que a minha m\u00e3e usava d\u00e1 uma sensa\u00e7\u00e3o boa de nostalgia. \u00c9 uma experi\u00eancia muito diferente do que no celular”, diz a influenciadora Yasmin Maccari, de 20 anos.
\nTamb\u00e9m n\u00e3o basta ter uma s\u00f3. Yasmin tem quatro, sendo tr\u00eas do modelo Cyber-shot, que pertenceram \u00e0 m\u00e3e e \u00e0 tia dela.
\nEla diz que usa suas c\u00e2meras para registrar momentos especiais com as amigas e j\u00e1 chegou a utiliz\u00e1-las at\u00e9 mesmo em campanhas publicit\u00e1rias.
\nO estudante de medicina Jo\u00e3o Pedro Ferreira, de 21 anos, diz adorar fotografia e, em 2023, comprou sua primeira Cyber-shot usada, por R$ 175. Ele diz preferir usar o equipamento justamente por ele n\u00e3o entregar a perfei\u00e7\u00e3o for\u00e7ada que os celulares de hoje em dia colocam nas fotos.
\n“Ela tem muito menos megapixels que meu celular, mas, ainda assim, a qualidade fica muito bacana”, diz.
\nJo\u00e3o Pedro Ferreira, de 21 anos, comprou sua primeira Cyber-shot em 2023.
\nArquivo pessoal
\n A Cyber-shot, marca da Sony, virou sin\u00f4nimo desse tipo de equipamento, mas outras linhas, como Canon PowerShot, Nikon Coolpix, Kodak EasyShare e Panasonic Lumix, tamb\u00e9m marcaram \u00e9poca.
\n\ud83d\udcf8 Para entender esse movimento, o g1 ouviu Karine Karam, professora de comunica\u00e7\u00e3o e publicidade da ESPM e s\u00f3cia da Markka Consultoria, e o fot\u00f3grafo Paulo Barba. Eles apontam tr\u00eas fatores principais para essa tend\u00eancia:
\n\ud83d\udd19 a Gera\u00e7\u00e3o Z tem grande interesse e curiosidade pela est\u00e9tica dos anos 2000. Celebridades e influenciadores ajudaram a popularizar esse resgate \u2014 desde posts em formato mais cru at\u00e9 editoriais com visual retr\u00f4. A est\u00e9tica Y2K (“year 2000” ou “anos 2000”, em portugu\u00eas) est\u00e1 em alta e a c\u00e2mera compacta virou um s\u00edmbolo disso, explica Karine Karam;
\n\ud83d\udcf5 o excesso de processamento de imagem nos celulares ap\u00f3s a captura tem incomodado muita gente. A maioria dos modelos atuais usam intelig\u00eancia artificial (IA) para aprimorar as fotos, mas nem sempre o resultado parece natural;
\n\ud83e\udd17 as c\u00e2meras digitais est\u00e3o associadas a momentos especiais e trazem uma dose de nostalgia. Por isso, \u00e9 comum ver jovens usando esses dispositivos em shows, viagens e anivers\u00e1rios, por exemplo.
\nProcura alta, pre\u00e7o tamb\u00e9m \ud83e\udd11
\nFotos de Yasmin Maccari, de 20 anos, feitas com uma Sony Cyber-shot.
\nYasmin Maccari
\nComo essas c\u00e2meras sa\u00edram de linha h\u00e1 anos e n\u00e3o s\u00e3o mais fabricadas, quem quer uma precisa recorrer a modelos de segunda m\u00e3o, ou seja, usados.
\nLojas on-line que vendem esse tipo de produto viram a demanda crescer \u2014 a OLX, por exemplo, registrou alta de 563% nas buscas por esse tipo de produto nos dois primeiros meses deste ano, em compara\u00e7\u00e3o com o mesmo per\u00edodo do ano passado.
\nEm 2024, o Enjoei observou um aumento de 101% na busca por c\u00e2meras digitais cl\u00e1ssicas em compara\u00e7\u00e3o com 2023.
\nC\u00e2meras influenciadora da influenciadora Yasmin Maccari.
\nArquivo pessoal
\nOs jovens ouvidos pelo g1 disseram que a alta procura fez os pre\u00e7os dispararem. Jo\u00e3o Pedro contou que pagou R$ 175 na sua Cyber-shot DSC-W730 em 2023, mas hoje \u00e9 dif\u00edcil encontrar o mesmo modelo por menos de R$ 500 ou R$ 600.
\n“Tem muita gente tirando proveito desse sucesso, cobrando muito caro por uma c\u00e2mera antiga. \u00c0s vezes, vem s\u00f3 a c\u00e2mera, sem nenhum acess\u00f3rio”, completa Yasmin Maccari.
\nA popularidade das c\u00e2meras digitais chegou at\u00e9 nas escolas. Yasmin contou que, seu antigo col\u00e9gio, em Crici\u00fama (SC), a proibi\u00e7\u00e3o do uso de celulares levou as crian\u00e7as a come\u00e7arem a levar c\u00e2meras digitais.
\n“Agora, as c\u00e2meras tomaram conta do campus, capturando amizades, sorrisos e la\u00e7os que ficar\u00e3o para sempre na mem\u00f3ria”, escreveu a institui\u00e7\u00e3o de ensino em uma publica\u00e7\u00e3o no Instagram para divulgar a tend\u00eancia entre os alunos.
\nFotos de celular est\u00e3o sem gra\u00e7a? Parece que sim \ud83d\udcf1
\nImagens feitas por Jo\u00e3o Pedro Ferreira, de 21 anos, com uma Sony Cyber-shot.
\nJo\u00e3o Pedro Ferreira
\nJo\u00e3o Pedro acredita que a conveni\u00eancia de fotografar com o celular “esvaziou o ato de registrar momentos”. Para ele, antes havia mais reflex\u00e3o ao fazer uma foto, e as Cyber-shots resgataram essa experi\u00eancia. “Com elas, voc\u00ea guarda o momento com mais intensidade. \u00c9 outro prop\u00f3sito”, diz.
\n“As fotos ficam maravilhosas, mesmo com o flash ligado, o que tamb\u00e9m d\u00e1 um charme. Hoje, prefiro mil vezes fotografar com a minha c\u00e2mera do que com o celular. A experi\u00eancia \u00e9 outra”, diz Yasmin Maccari.
\nA influenciadora Yasmin Maccari, de 20 anos, diz preferir fazer fotos com c\u00e2mera do que com celular
\nArquivo pessoal
\nEnquanto os celulares produzem imagens padronizadas e hipereditadas, as Cyber-shots devolvem o controle criativo \u2013 e at\u00e9 os “erros” de \u00e2ngulo e qualidade se tornam parte do estilo, analisa Karine Karam, professora da ESPM.
\nPara Paulo Barba, que tamb\u00e9m \u00e9 especialista em fotografia de celular, as tecnologias de processamento de imagem e intelig\u00eancia artificial nos smartphones deixam as fotos menos naturais \u2013 e isso tem gerado muitas reclama\u00e7\u00f5es.
\n“Quando voc\u00ea abre a c\u00e2mera do celular, a imagem parece natural. Mas, ao apertar o bot\u00e3o, o aparelho processa tudo para aumentar a nitidez e reduzir o ru\u00eddo, e a IA piorou isso. \u00c0s vezes, o resultado fica exagerado. Nas Cyber-shots, nada disso acontece \u2013 a imagem \u00e9 bem mais natural”, explica Paulo.
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