{"id":700791,"date":"2025-03-29T17:08:42","date_gmt":"2025-03-29T20:08:42","guid":{"rendered":"http:\/\/agencia3.jornalfloripa.com.br\/agencia3\/700791"},"modified":"2025-03-29T17:08:42","modified_gmt":"2025-03-29T20:08:42","slug":"como-a-crise-global-do-cacau-fez-os-precos-do-chocolate-disparar","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/agencia3.jornalfloripa.com.br\/agencia3\/700791","title":{"rendered":"Como a crise global do cacau fez os pre\u00e7os do chocolate disparar"},"content":{"rendered":"

Quebra de safra africana por praga, hist\u00f3rico de baixo investimento e mudan\u00e7as clim\u00e1ticas levam a pre\u00e7os recordes do cacau. Impacto no custo do chocolate tamb\u00e9m \u00e9 sentido no Brasil. Produ\u00e7\u00e3o do cacau afetou pre\u00e7o do chocolate
\nKier in Sight Archives na Unsplash
\nO aumento do pre\u00e7o do cacau a n\u00edveis recordes atinge produtores, fabricantes e consumidores de chocolate a n\u00edvel global. O valor da am\u00eandoa no mercado mundial disparou no final de 2024, ano em que atingiu o maior custo da \u00faltima d\u00e9cada.
\nA escalada tornou a commodity mais cara do que o cobre, e os pre\u00e7os se mantiveram altos em 2025.
\nPor\u00e9m, enquanto grandes fabricantes de chocolate devem conseguir manter seus lucros, a baixa oferta pressiona principalmente os agricultores.
\nA quebra da safra de produtores africanos \u00e9 tomada como o principal motivo dos custos elevados. Cerca de 65% das am\u00eandoas de cacau do mundo v\u00eam de quatro pa\u00edses da \u00c1frica Ocidental: Costa do Marfim, Gana, Nig\u00e9ria e Camar\u00f5es.
\nMas uma colheita catastr\u00f3fica atingiu a regi\u00e3o em 2024, derrubando a oferta dispon\u00edvel do produto no mercado.
\nNo centro do problema est\u00e1 a dispers\u00e3o de um v\u00edrus que causa a doen\u00e7a do broto inchado do cacau (CSSV, da sigla em ingl\u00eas). O agente infeccioso se espalha de \u00e1rvore em \u00e1rvore e pode reduzir a produtividade em 50% em apenas dois anos.
\nUm relat\u00f3rio da Organiza\u00e7\u00e3o Internacional do Cacau mostrou que 81% das planta\u00e7\u00f5es em Gana \u2013 o segundo maior produtor de cacau do mundo \u2013 est\u00e3o infectadas com o CSSV. A doen\u00e7a tamb\u00e9m se espalha na Costa do Marfim e j\u00e1 afetou cerca de 60% da produ\u00e7\u00e3o mundial.
\nAl\u00e9m disso, a ONG americana Climate Central tamb\u00e9m atribui o problema \u00e0s mudan\u00e7as clim\u00e1ticas, que tornam as temperaturas mais elevadas em lugares como Costa do Marfim, Gana, Camar\u00f5es e Nig\u00e9ria.
\nUm estudo realizado pela organiza\u00e7\u00e3o com sede em Nova Jersey mostra que temperaturas acima de 32\u00b0C podem reduzir a qualidade e a quantidade das colheitas, raz\u00e3o pela qual o calor excessivo afetaria negativamente as principais regi\u00f5es produtoras de cacau.
\nAl\u00e9m disso, o chamado fen\u00f4meno clim\u00e1tico El Ni\u00f1o levou a um per\u00edodo prolongado de chuvas ou secas, prejudicando a produ\u00e7\u00e3o.
\nNo Brasil, sexto produtor mundial de cacau, dados da Ag\u00eancia Brasil indicam que a perspectiva \u00e9 de aumento da safra, depois de uma s\u00e9rie de quedas. Investimentos em novas \u00e1reas de produ\u00e7\u00e3o e no processamento do cacau impulsionam a colheita.
\nA produ\u00e7\u00e3o no pa\u00eds, por\u00e9m, tamb\u00e9m \u00e9 afetada pelos altos custos e volatilidade do mercado, o que leva a um aumento dos pre\u00e7os dos produtos derivados, principalmente com a chegada da P\u00e1scoa.
\nAinda segundo a Ag\u00eancia Brasil, os pre\u00e7os dos ovos de chocolate e derivados nesta P\u00e1scoa est\u00e3o 14% mais caros em compara\u00e7\u00e3o com o ano passado, conforme divulga\u00e7\u00e3o da Associa\u00e7\u00e3o Brasileira de Supermercados.
\nMesmo com o crescimento da safra, a expectativa \u00e9 que o setor produza 20% menos ovos de chocolate neste ano.
\nPre\u00e7os altos, lucros ainda maiores
\nO alem\u00e3o Oliver Coppeneur, que produz chocolate na pequena Bad Honnef, na Alemanha, desde a d\u00e9cada de 1990, \u00e9 um dos muitos fabricantes que precisou aumentar o custo do seu produto ap\u00f3s a quebra de safra.
\nCoppeneur disse que a escalada dos pre\u00e7os do cacau tornar\u00e1 “os produtos de chocolate igualmente caros”, o que poderia eventualmente resultar em uma “diminui\u00e7\u00e3o significativa no volume” do mercado.
\nAt\u00e9 agora, por\u00e9m, ele est\u00e1 lidando com a situa\u00e7\u00e3o sem demitir seus funcion\u00e1rios, e tenta manter os pre\u00e7os est\u00e1veis.
\nCitando dados oficiais do governo, a ag\u00eancia de not\u00edcias Bloomberg afirmou que “pelo menos uma d\u00fazia de empresas familiares de chocolates fecharam em toda a Europa” em 2024.
\nOs varejistas de confeitos alem\u00e3es Arko, Hussel e Eilles entraram com pedido de prote\u00e7\u00e3o contra fal\u00eancia em 2024.
\nEnquanto isso, a escassez de cacau tamb\u00e9m \u00e9 sentida diretamente pelos consumidores europeus, com os pre\u00e7os do chocolate aumentando 35% desde 2020.
\nMas Friedel H\u00fctz-Adams, pesquisador do Instituto S\u00fcdwind em Bonn, Alemanha, entende que os grandes fabricantes europeus de chocolate “geralmente t\u00eam conseguido repassar o aumento dos pre\u00e7os do cacau” aos consumidores.
\n“Seus lucros est\u00e1veis no ano passado indicam que pelo menos as grandes empresas conseguiram lidar com os pre\u00e7os altos (…) e, em alguns casos, at\u00e9 conseguiram obter lucros maiores do que antes”, disse ele.
\nA fabricante su\u00ed\u00e7a de chocolates Lindt, por exemplo, disse em janeiro que enfrentou um “ano desafiador, caracterizado por custos de cacau recorde, aumentos substanciais de pre\u00e7os e enfraquecimento do sentimento do consumidor”.
\nAcrescentou ainda que, para compensar os custos, teve de “ajustar seus pre\u00e7os” e teria de fazer o mesmo este ano.
\nAs pr\u00f3ximas gera\u00e7\u00f5es ainda ter\u00e3o chocolate?
\nClay Gordon, criador do TheChocolateLife, uma comunidade online para “choc\u00f3filos e aspirantes a choc\u00f3filos”, defende que o chocolate tem sido, historicamente, “um alimento \u00e0 prova de recess\u00e3o”. Ele afirma no site da plataforma que “as pessoas compram chocolate para se sentirem felizes”.
\nH\u00fctz-Adams, do S\u00fcdwind, entende que as vendas relativamente est\u00e1veis das fabricantes s\u00e3o uma indica\u00e7\u00e3o de que “os clientes s\u00e3o capazes de lidar com os pre\u00e7os mais altos e continuam a comprar chocolate”.
\nNo entanto, ele observou que, durante anos, a maioria dos agricultores da \u00c1frica Ocidental “quase n\u00e3o teve recursos para implementar boas pr\u00e1ticas agr\u00edcolas”, o que levou a um decl\u00ednio no rendimento das colheitas por hectare.
\nSegundo ele, os pre\u00e7os persistentemente baixos do cacau nos anos anteriores levaram os trabalhadores a n\u00e3o serem pagos e ao trabalho infantil generalizado.
\n“Viola\u00e7\u00f5es maci\u00e7as dos direitos humanos s\u00e3o comuns e podem diminuir no futuro devido aos pre\u00e7os mais altos”, acrescentou H\u00fctz-Adams.
\nO produtor Oliver Coppeneur tamb\u00e9m entende que o pre\u00e7o do cacau tem sido t\u00e3o baixo ao longo das d\u00e9cadas que os agricultores n\u00e3o t\u00eam tido recursos para aumentar sua produ\u00e7\u00e3o.
\nAssim como outros especialistas do setor, ele adverte que, sem investimentos em rendimentos mais altos e colheitas resistentes \u00e0s mudan\u00e7as clim\u00e1ticas, as oscila\u00e7\u00f5es no pre\u00e7o ser\u00e3o inevit\u00e1veis no futuro.
\n“As pr\u00f3ximas gera\u00e7\u00f5es [de produtores] precisam se perguntar: ‘Queremos continuar com esse trabalho, queremos continuar trabalhando na fazenda?”, disse Coppeneur, acrescentando que, se as empresas de chocolate n\u00e3o investirem nos produtores de cacau, “n\u00e3o devemos nos surpreender se a pr\u00f3xima gera\u00e7\u00e3o n\u00e3o tiver mais ningu\u00e9m”.<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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