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Após testemunhas desmentirem versão policial, rapaz detido por morte de PM em Santa Bárbara deixa prisão: ‘seguir a vida’


Outros dois presos pelos crimes e uma testemunha da execução afirmam que João Vitor Gobeti não estava entre os envolvidos com o homicídio do policial Leandro Barbosa; suposta tortura cometida contra o rapaz antes da prisão também é investigada. Jovem suspeito de participar de morte de PM é solto em Santa Bárbara d’Oeste
Deixou a prisão nesta quinta-feira (1º) o rapaz de 21 anos que havia sido apontado por policiais militares como um dos envolvidos na execução do PM Leandro Barbosa, no último dia 19 de maio, em Santa Bárbara d’Oeste (SP).
A liberdade provisória foi concedida a João Vitor Gobeti após outros dois presos na ação policial e uma testemunha do homicídio afirmarem que ele não participou do crime. Uma denúncia de suposta tortura dos militares contra ele também é investigada.
O Ministério Público arquivou a investigação contra o rapaz. Já os outros dois suspeitos foram denunciados por homicídio qualificado.
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João Vitor foi recebido por familiares ao deixar o Centro de Detenção Provisória (CDP) de Americana (SP), na tarde desta quinta. “É muito ruim, né. Eu sou inocente, fui preso injustamente”, afirma.
Ele relata que estava no apartamento de sua namorada, onde tinha passado a noite, no Conjunto Habitacional Roberto Romano, e saiu na escadaria para saber o que estava acontecendo ao ouvir barulhos. Naquele momento, ocorria uma operação policial no prédio em busca de suspeitos pela morte do PM, no andar debaixo.
“Saí para fora para ver o que estava acontecendo e o policial subiu para averiguar o apartamento. Eu deixei, aí ele desceu, achou os meninos [dois suspeitos] no outro apartamento e aí subiu e pegou eu. [Disse] que os meninos disseram que eu estava envolvido. Só que os meninos ‘confessou’ lá na frente, na hora, que eu não tinha nada a ver com isso”.
Ele diz que tentou argumentar que não tinha participação no crime, mas não foi ouvido. “Claro que houve confusão, mas quem que sou eu para falar alguma coisa, né. Fiquei quieto”. Na versão da PM registrada em boletim de ocorrência, os três invadiram o apartamento.
“Pretendo voltar ao meu trabalho, voltar à minha família e seguir de cabeça erguida. Provar minha inocência e seguir a vida”
Trecho de boletim de ocorrência com a versão dos policiais diz que os três invadiram um apartamento
Reprodução/ EPTV
Tia de João Vitor, Elaine Cristina de Camargo Vital afirma que, inicialmente, pensou que o rapaz tinha sido apenas alvo de uma averiguação de rotina da polícia. “A partir do momento que minha irmã ligou falando que levaram ele, foi a hora que o mundo acabou pra gente. Ainda mais a hora que a gente tava na delegacia e o delegado deu a voz de prisão pra ele. Foi a hora que nosso chão abriu”.
“Na minha opinião, uma coisa que pesa muito é onde a gente mora. Muita gente julga o lugar onde a gente mora porque é uma periferia. Só que a turma tem que entender que ali tem muita gente trabalhadora, que luta pra viver o dia a dia”, afirma.
Elaine também descreve momentos de angústia na família durante os dias de prisão. “Não consegue comer, trabalhar direito. Só esperando ele sair mesmo. Uma vitória a gente já teve, que foi a soltura dele. Agora vai ser a próxima, que vai ser provar a inocência do João, porque ele é inocente”.
Avó abraça João Vitor após rapaz ser liberado de CDP
Marcio Campos/ EPTV
Avó de João Vitor, Flora Aparecida de Matos conta que o considera como um filho e também diz que ele estava na casa de sua sogra.
“Revoltante demais, muito revoltante. Porque é um menino que nunca deu trabalho para mim, um menino que nunca se envolveu com nada […] Sempre trabalhou, sempre tá lutando com a vidinha dele. Uma coisa que eu não esperava nunca na minha vida passar por isso”.
Advogado de João Vitor, Gustavo Mayoral Guimarães elencou fatos que, em sua visão, provam a inocência do rapaz.
“Temos desde depoimentos de testemunhas que foram oculares, que viram ativamente a ação criminosa, assim como também outras testemunhas que evidenciaram alguns fatos, que João não teria nenhuma participação ou, quiçá, tivesse saído da sua moradia propriamente”.
João Vitor estava preso desde o dia 19, mas teve liberdade concedida pela Justiça
Marcio Campos/ EPTV
Ele afirma que uma testemunha da execução, que está sob proteção judicial, relata que quatro pessoas participaram do crime.
“Esses quatro indivíduos ainda não tinham sido devidamente identificados [quando João Vitor foi preso]. Então, no momento em que os policiais encontram dois, ainda faltariam outros dois”, contextualiza. No entanto, ele lembra que na noite do dia 19 um terceiro suspeito morreu em confronto com a polícia e, posteriormente, mais um foi identificado, totalizando cinco relacionados com o homicídio até então.
“Porém, ainda assim, João Vitor permanecia ali [preso]. Mas a brilhante decisão que hoje concede a liberdade de João traz pontos que evidenciam uma cautela por parte do juiz de direito e do promotor de Justiça”.
“No presente momento, diante do quadro atualmente apresentado, a prisão cautelar […] se revela como desproporcional, havendo riscos de que um jovem trabalhador, que não aparenta ter envolvimento com organizações criminosas, esteja indevidamente encarcerado”, justifica o juiz da 2ª Vara Criminal de Santa Bárbara d’Oeste, Lucas Borges Dias, ao decidir pela liberdade provisória.
Residencial onde o policial foi morto a tiros em Santa Bárbara d’Oeste
Reprodução/EPTV
Suspeita de tortura
A Polícia Civil também vai apurar se os policiais responsáveis pela prisão do rapaz o torturaram. “Há uma informação, que ainda pende de investigação por parte da Polícia Civil, inclusive pelo Poder Judiciário, mas há fortes de que sim, de que tenham ocorrido excessos policiais ali”, afirma Guimarães.
Na audiência de custódia, os presos disseram que foram torturados para confessar o crime. Um laudo pericial do Instituto Médico Legal (IML) confirma ferimentos no nariz, no tórax e marca de queimadura compatível com choque elétrico em João Vitor.
Uma outra testemunha relata que, onde estariam os outros dois presos, encontrou objetos incomuns como chapinha de cabelo com fio cortado, roupa molhada, sacola com mancha de sangue e uma faca de serra.
“A tortura, os excessos por abuso de autoridade devem ser investigados e, se forem apurados, os policiais devem ser responsabilizados pelos crimes que cometeram”, acrescenta o defensor.
O g1 questionou a PM a respeito do caso, mas não houve retorno até a última atualização desta reportagem.
Laudo do IML com detalhes sobre ferimentos em João Vitor
Reprodução/ EPTV
Relembre o caso
De acordo com informações do 10º Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep), Leandro Barbosa, que morava em Americana (SP) e estava na corporação desde 2019, foi até o Parque Residencial do Lago, na Avenida Ruth Garrido Roque, por volta das 10h30, para tratar de um assunto pessoal.
“O que nós temos é que o policial foi para o local por uma demanda que ele estava vendo, comprando uma moto, e no local outros indivíduos chegaram e fizeram disparos contra ele”, informou o tenente-coronel tenente-coronel José Antônio Golini Júnior, comandante do 10º Baep.
Segundo o PM, pelas apurações no local, os disparos foram realizados sem que ocorresse qualquer discussão e acredita-se que o policial não teve tempo para reagir.
A vítima chegou a ser socorrida pelo Corpo de Bombeiros em estado grave, mas não resistiu aos ferimentos e morreu. Uma equipe da Polícia Científica e perícia foi direcionada para o local do crime.
Leandro Barbosa trabalhava no 10º Baep, sediado em Piracicaba
Reprodução/ EPTV
Informações de moradores a respeito do uso de um Fiat Uno por suspeitos levaram equipes policiais até o Conjunto Habitacional Roberto Romano.
“Aí identificou que havia um Fiat Uno no fundo desse condomínio Romano e, através dessa confirmação, os policiais identificaram que havia indivíduos ocupando um apartamento de forma irregular”, explicou o comandante do batalhão.
No prédio, João Vitor e outros dois homens foram presos por suspeita de envolvimento no crime e também foram apreendidos dois revólveres. Acredita-se que o PM também estava armado, mas a arma dele não foi localizada.
Residencial onde o PM morreu baleado em Santa Bárbara
Gabriela Ferraz/EPTV
Já a ação policial que terminou com a morte de um suspeito aconteceu no bairro Santa Rita de Cássia, próximo de onde o militar foi assassinado.
Segundo o Baep, o suspeito fugiu de uma rua para outra, por cima das casas e por uma viela, entre a Rua Caramuru e uma via paralela, e foi baleado em uma oficina mecânica.
No dia seguinte ao crime, a Polícia Civil confirmou que identificou pelo menos oito pessoas suspeitas de participar da execução. A informação é da Delegacia de Investigações Gerais de Americana (DIG), responsável pela investigação.
Viaturas do Baep na rua onde um dos suspeitos foi morto baleado
Reprodução/ EPTV
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